sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

O HOMEM ( ROBERTO CARLOS)

homem
Roberto Carlos

Um certo dia um homem esteve aqui
Tinha o olhar mais belo que já existiu
Tinha no cantar uma oração.
E no falar a mais linda canção que já se ouviu.
Sua voz falava só de amor
Todo gesto seu era de amor
E paz, Ele trazia no coração.
Ele pelos campos caminhou
Subiu as montanhas e falou do amor maior.
Fez a luz brilhar na escuridão
O sol nascer em cada coração que compreendeu
Que além da vida que se tem
Existe uma outra vida além e assim...
O renascer, morrer não é o fim.
Tudo que aqui Ele deixou
Não passou e vai sempre existir
Flores nos lugares que pisou
E o caminho certo pra seguir
Eu sei que Ele um dia vai voltar
E nos mesmos campos procurar o que plantou.
E colher o que de bom nasceu
Chorar pela semente que morreu sem florescer.
Mas ainda há tempo de plantar
Fazer dentro de si a flor do bem crescer
Pra Lhe entregar
Quando Ele aqui chegar
Tudo que aqui Ele deixou
Não passou e vai sempre existir
Flores nos lugares que pisou
E o caminho certo pra seguir
Tudo que aqui Ele deixou
Não passou e vai sempre existir
Flores nos lugares que pisou
E o caminho certo pra seguir

Só precisamos lembrar de que Ele não vai voltar e chorar pela semente que morreu sem florescer. Quando Ele voltar, vai julgar os seres humanos com base na reação de cada um para com o que Ele fez."Ora não levou Deus em conta os tempos da ignorancia, anuncia agora a todos os homens, e em todo lugar, que se arrependam; porque estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça por meio de UM VARÃO(Jesus Cristo) que destinou e acreditou diante de todos,ressuscitando o dentre os mortos."Atos 17.30,31.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

AFINIDADE - Arthur da Távola

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
E o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro
retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto
no exato ponto em que foi interrompido.


Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.


Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe não precisa de códigos
verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento,
irradia durante e permanece depois que
as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar
a um não afim, sai simples e claro diante
de alguém com quem você tem afinidade.


Afinidade é ficar longe pensando parecido a
respeito dos mesmos fatos que impressionam comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento


Afinidade é sentir com. Nem sentir contra,
nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente,
mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado,
não para eles próprios.


Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar, ou, quando falar,
jamais explicar: apenas afirmar.


Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.


Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quanto das impossibilidades vividas.


Afinidade é retomar a relação no ponto em que
parou sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser,
cada vez mais a expressão do outro sob a
forma ampliada do eu individual aprimorado.

Soneto da Fidelidade - Vinícius de Moraes

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.



Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.


E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama


Eu possa (me) dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Desalento - Vinícius de Morais

Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu chorei
Que eu morri
De arrependimento
Que o meu desalento
Já não tem mais fim
Vai e diz
Diz assim
Como sou
Infeliz
No meu descaminho
Diz que estou sozinho
E sem saber de mim



Diz que eu estive por pouco
Diz a ela que estou louco
Pra perdoar
Que seja lá como for
Por amor
Por favor
É pra ela voltar



Sim, vai e diz
Diz assim
Que eu rodei
Que eu bebi
Que eu caí
Que eu não sei
Que eu só sei
Que cansei, enfim
Dos meus desencontros
Corre e diz a ela
Que eu entrego os pontos

SONETO DE VÉSPERA - Vinícius de Morais

Quando chegares e eu te vir chorando
De tanto te esperar, que te direi?
E da angústia de amar-te, te esperando
Reencontrada, como te amarei?



Que beijo teu de lágrima terei
Para esquecer o que vivi lembrando
E que farei da antiga mágoa quando
Não puder te dizer por que chorei?



Como ocultar a sombra em mim suspensa
Pelo martírio da memória imensa
Que a distância criou - fria de vida



Imagem tua que eu compus serena
Atenta ao meu apelo e à minha pena
E que quisera nunca mais perdida...

ALLEGRO - Vinicius de Moraes

Sente como vibra
Doidamente em nós
Um vento feroz
Estorcendo a fibra



Dos caules informes
E as plantas carnívoras
De bocas enormes
Lutam contra as víboras



E os rios soturnos
Ouve como vazam
A água corrompida



E as sombras se casam
Nos raios noturnos
Da lua perdida . . .

A Felicidade -Vinícius de Morais

Tristeza não tem fim
Felicidade sim



A felicidade é como uma pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar.



A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
por um momento de sonho para fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou de jardineira.
Pra tudo se acabar na quarta feira.



Tristeza não tem fim
Felicidade sim



A felicidade é como uma gota de orvalho
Numa pétala de flor
Brilha tranqüila
Depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor



A felicidade é uma coisa louca
Mas tão delicada também.
Tem flores e amores
De todas as cores
Tem ninhos de passarinhos
Tudo isso ela tem
E é por ela ser assim tão delicada
Que eu trato sempre dela muito bem.



Tristeza não tem fim
Felicidade sim

“A Quadrilha” - Carlos Drummond de Andrade

João amava Tereza que amava Raimundo

Que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili

Que não amava ninguém.

João foi para os Estados Unidos,

Tereza para o convento,

Raimundo morreu de desastre,

Maria ficou para tia

Joaquim suicidou-se

E Lili casou com J. Pinto Fernandes

Que até então não tinha entrado na história.

DESEJO

Desejo a você...
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Filme do Carlitos
Chope com amigos
Crônica de Rubem Braga
Viver sem inimigos
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Ver a Banda passar
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Não ter que ouvir a palavra não
Nem nunca, nem jamais e adeus.
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Escrever um poema de Amor
Que nunca será rasgado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender uma nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Bater palmas de alegria
Uma tarde amena
Calçar um velho chinelo
Sentar numa velha poltrona
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco Bolero de Ravel...
E muito carinho meu.

Carlos D. de Andrade

A Festa das Flores - Marlene B. Cerviglieri

Hoje o jardim estava muito movimentado!
A festa logo iria começar e todas as flores se aprontavam para o grande dia.
Sem duvida dona Primavera estaria chegando trazendo muita alegria para todos no jardim.
Como sempre as margaridas haviam se esparramado em vários lugares tão lindos no seu branco e amarelo.
Do outro lado estava o canteiro grande das rosas, soberbas rainhas as cores então eram variadas, mas a vermelha era demais.
Até os lírios que gostavam muito de conversar estavam agora voltados para as rosas admirando-as.
Algumas tulipas também começavam apontar, eram firmes e marcavam presença todo ano.
Os canteiros de azáleas estavam um pouco atrasados este ano, vindo bem de mansinho.
A grama apontava toda verde como um grande tapete.
No fundo do jardim havia a cascata derramando sua água que corria por um córrego de pedrinhas brancas, levando um bom frescor para todas as flores.
Havia também enormes vasos com plantas lindas que nem sei o nome.
O canto das orquídeas estava esplendoroso!
Imponente se destacava em baixo da grande sobra que o coqueiro lhes proporcionava.
Sem dizer da alegria dos pássaros que dali só saiam a noitinha para irem dormir.
A chegada da Primavera era alegria para todos.
Bem longe dali, numa pequena floresta viviam as borboletas que eram chamadas de fadinhas da floresta.
Era uma família muito grande, mas unida.
Dividiam as tarefas e ajudam os menores mesmo que não fossem de sua família.
Assim foi que surgiu a idéia de ir visitar o Jardim que os pássaros falavam tanto!
Iremos todas juntas ficamos por lá e à tardinha já estaremos de volta.
É claro que aceitaram e combinaram o passeio.
Sairiam bem cedinho quando o dia estava já clareando.
Seus pais sabiam do passeio e haviam consentido.
Voaram por um bom tempo e o amigo Vento ajudava levando-as pelo caminho certo.
Quantas coisas viram pelo caminho...
Ficaram tentadas a parar varias vezes.
Mas lembravam das recomendações de seus pais e continuavam.
Finalmente chegaram ao Jardim.
-Nossa que lugar lindo exclamaram todas!
O portão estava aberto e muitas pessoas iam entrando.
A musica vinha das arvores, onde alto falantes estava instalados.
Não havia sujeira nenhuma no chão tudo limpinho.
E o perfume das flores então, delicioso.
Foram pousar numa frondosa arvore e dali podiam ver quase tudo.
-Que coisa linda disse a borboleta Azul, porque nossa floresta não fica assim?
-Assim como respondeu a borboleta Branca.
-Ora, limpa organizada parece até que tem brilho!
-Bem minha cara amiga é tudo uma questão de Trabalho e Disciplina.
Quando se trabalha e realmente se quer fazer aquilo, dá certo.
Com disciplina então melhor ainda.
-Poderíamos convocar os pássaros e os demais insetos todos os moradores e explicar o que se pode fazer!
-Não digo que fique assim como este Jardim, pois nossa floresta é maior.
Mas que iria ficar melhor tenho certeza.
-Neste momento a banda entrou pelo portão e começou a tocar para alegria de todos os presentes.
As borboletas estavam todas paradinhas na arvore vendo aquele espetáculo.
Bem banda não precisa, pois os pássaros já cantam o suficiente, mas uma boa arrumação e colocar regras ordens,
Ah tudo isto vai ser muito bom.
Assim estavam pensando quase todas, pois uma havia se soltado e elas nem perceberam.
Por final a encontraram perto da cascata.
Havia se molhado tanto que não conseguia voar!
-É precisamos mesmo fazer muitas coisas em nossa família.
Não é só voar comer e brincar.
Aprender as lições todas principalmente de boas maneiras.
Prestar atenção quando nos ensinam.
Termos nossas coisas organizadas, respeitar as regras e ordens.
Falarmos a verdade por pior que seja.
Viver feliz vendo a natureza tão linda que esta por ai em qualquer cantinho que você queira. Até mesmo num simples vaso!
É isso mesmo montar um jardim é fácil, cuidar dele como se deve já fica um pouco mais difícil.
Mas o prazer que ele nos dá é muito grande.
Até os pássaros irão gostar livres voando admirando as flores.
-Ah a festa das flores começou vou ficar neste galho, assim poderei ver melhor até secarem as asinhas de minha irmãzinha.
No jardim da vida sempre colheremos o que cuidarmos.

A Inveja em 20 Citações – Série Pecados Capitais em Citações

A inveja nasceu com o homem desde o princípio
Heródoto

O primeiro dos pecados capitais tratados nesta série de citações intitulada Pecados Capitais em Citações é a Inveja. Talvez seja o mais humano dos ditos pecados, pois nasceu conosco. Não tem jeito. Todos nós sentimos inveja de alguma coisa ou de alguém. Alguns mais outros menos, havendo até aqueles que não se dizem invejosos, mas nos recônditos da alma, invejam o que o outro tem ou é. Em casos extremados a Inveja é tamanha que pode até fazer surgir sentimentos de autodestruição e, antes disso, destruição do objeto (pessoa) invejada.

Quem inveja só vê sentido em existir se puder invejar quem lhe serve de parâmetro. Na verdade quem faz isto se torna um (a) chato (a) de galochas.

Geralmente são os bens que provêm do acaso que provocam inveja
Aristóteles

Ninguém é realmente digno de inveja, e tantos são dignos de lástima!
Schopenhauer

A inveja é tão vil e vergonhosa que ninguém se atreve a confessá-la
Ramón Cajal

Evitamos a inveja se guardarmos as alegrias para nós próprios
Sêneca

Apenas a miséria é sem inveja
Boccaccio

O número dos que nos invejam confirma as nossas capacidades
Oscar Wilde

A inveja é o mais estúpido dos vícios, pois deste não se obtém nenhuma vantagem
Balzac

A inveja é natural ao homem. No entanto, ela é, ao mesmo tempo, um vício e uma desgraça. A inveja dos homens mostra o quanto se sentem infelizes; a sua atenção constante às ações e omissões dos outros mostra o quanto se entediam
Schopenhauer

A inveja é mais irreconciliável do que o ódio
La Rochefoucauld

Sabe-se que enquanto vivemos estamos mais ou menos expostos à inveja, mas depois da nossa morte os nossos inimigos deixam de nos odiar
Demóstenes

Há poucos homens capazes de prestar homenagem ao sucesso de um amigo, sem qualquer inveja
Ésquilo

Essa história de que o dinheiro não dá felicidade é um boato espalhado pelos ricos para que os pobres não tenham muita inveja deles
Jacinto Benavente y Martinez

O termômetro do sucesso é apenas a inveja dos descontentes
Salvador Dalí

A sinceridade é muitas vezes louvada, mas nunca invejada
Marquês de Maricá

A sabedoria indigente é menos invejada que a ignorância opulenta
Marquês de Maricá

Os invejosos invejam-se reciprocamente
Joaquim Nabuco

A crueldade tem coração humano; a inveja, cara humana; o terror, corpo humano, e os segredos, a roupagem dos humanos
William Blake

Os que fazem bem são os únicos que mereceriam ser invejados, se não houvesse ainda uma mais vantajosa solução, que é fazer melhor que eles
Jean de La Bruyère

A inveja é uma merda
Dito popular no Brasil

Fonte [Citador]

Ciúme - Uma emoção de desequilíbrio

Rosana Machado CRP 06/34689-1 Psicoterapeuta


...”I didn’ t mean to hurt you
I’m sorry that I made you cry…
I’m just a jealous guy”…

“Eu não queria te machucar
Desculpe-me se eu te fiz chorar
Eu sou apenas um cara ciumento”

(Jealous Guy – John Lennon)


Ciúme vem sendo definido por muitos autores como o medo de perder. Sua base é a baixa auto-estima, o amor em desequilíbrio, excessivamente voltado ao outro e contaminado pelo apego, pela posse, pelo sentimento de possuir o outro.

O medo de perder pode ter em sua raiz na traição, na crença que vai ser trocado ou abandonado, que é uma outra roupagem do apego. O ciumento sente-se sempre ameaçado e age com desrespeito por si mesmo e pelo outro.

Este outro pode ser o (a) parceiro (a) amoroso (a), o irmão, o chefe ou os colegas de trabalho, pois são inúmeras as situações da vida em que sentimos ou manifestamos ciúmes.

No aspecto popular também é ampla sua compreensão e aceitação existindo pensamentos que valorizam excessivamente o ciúme, até o extremo da não aceitação.

Podemos citar os exemplos:

“Ter ciúme é normal!”
“Ciúme é o termômetro do amor!”
“Ciúme é o cuidado com a pessoa amada!”
“Ciúme é a expressão da pessoa fraca, que não se sente valorizada”.
“É um sentimento que sufoca”.

O ciúme pode ser visto em duas categorias: o normal e o patológico, segundo alguns autores.

Para Maria Luisa Curti, “o ciúme normal é transitório e baseado em fatos reais”(1)

Frequentemente a experiência de quem vive o ciúme, é a de que sabemos uma coisa, sentimos outra e até podemos pensar uma terceira.

O medo de perder pode se tornar tão avassalador ao ponto da pessoa construir delírios, imaginando coisas que existem em seu pensamento. Esta manifestação é compreendida como ciúme patológico.

Neste aspecto, “o que move o ciumento ou a ciumenta, é um desejo de controle total do companheiro, mas, por mais controle que se consiga sobre o outro, nunca é o suficiente. A pessoa que padece desse mal está sempre em busca de confissões e confirmações para suas suspeitas, e mesmo que as consigam, nunca está satisfeito, pois continua germinando suspeita por algo mais”. (1)

Ou seja, o ciúme socialmente aceito é o que se considera normal e está relacionado a fatos reais. É objetivo e transitório, tendo como aprendizagem, aspectos que envolvem o relacionamento ou cada um dos integrantes.

A meu ver o fato de ser considerado normal, não significa que não possa ser transformado. A palavra comum caberia melhor, por sermos humanos e em nossas experiências de desequilíbrio, de não estarmos conectados com o Eu Superior, iluminados, manifestamos aspectos relacionados ao medo, ao apego, e a raiva.

Com relação ao ciúme podemos observar o medo como a polaridade do amor, a ausência do amor por si mesmo, do amor presente em nossa essência e que nos guia construindo relações de confiança e paz, tanto em nosso interior, quanto expresso nas nossas relações.

Do mesmo modo se faz presente o apego, através do desejo de possuir ou até mesmo de nos fixar em uma idéia, sem conseguirmos nos desvencilhar dela. Neste momento é que cabe a reflexão. Em que acreditamos? Quais são as crenças que nos acompanham em nosso cotidiano? E o que fazemos com o que acreditamos?

Quando conseguimos observar o que fazemos, podemos nos deparar com a raiva, como emoção que pode ser o alimento para controlar, vigiar, manipular, culpar ou em seu equilíbrio, nos auxiliar através da força da determinação, em transformar a experiência do ciúme em confiança e em amor próprio.

O ciúme é o medo de perder o que sabemos que não temos; porque se temos não perdemos. Esta sabedoria está presente em nossa essência, em nossa alma e podemos desenvolver caminhos para acessá-la. Frequentemente o desafio encontra-se nas crenças que desenvolvemos no decorrer de nossa vida.

Podemos afirmar que o amor e o ciúme caminham juntos desde os primórdios da humanidade, sendo o ciúme um desequilíbrio do amor. Do amor por si mesmo, do amor inseguro que em qualquer situação que se apresenta, pode ensinar muito a nosso próprio respeito.

Eduardo Ferreira Santos diferencia o ciúme enquanto estado que está relacionado a uma cena específica, ou enquanto qualidade, quando passa a se apresentar de um modo mais recorrente.

Ele nos diz: “o ciúme envolve um complexo de pensamentos, sentimentos e ações que ameaça, não só toda a estrutura de uma relação interpessoal, como também, a existência psíquica, e às vezes até física das pessoas envolvidas. Daí ser melhor categorizá-lo como um estado, quando ele surge em uma situação específica. E como uma qualidade (ou atributo), quando ele predomina no dia-a-dia. E a diferença entre sentir ciúme e ser ciumento”. (2)

Essa distinção não determina a qualidade da experiência, pois independente da intensidade e da maneira como expressamos, todos os sentimentos podem ser resignificados.

Como diz Bel César, “a melhor maneira de diminuir a intensidade do ciúme, é deixar de interpretá-lo como um drama, e passar a expressá-lo de modo natural, isto é, como mais uma experiência de sofrimento emocional. Ser honesto consigo mesmo e abrir-se com o outro de modo simples e sincero, costuma ser uma solução positiva, porque a sinceridade é em si um antídoto do desejo de manipular e controlar o outro”. (3)

O sentimento de posse está relacionado tanto ao ciúme quanto a inveja e frequentemente essas experiências trazem confusão na sua compreensão. Em geral, podem ser utilizadas como sinônimos e nos atrapalhar.

Segundo o próprio dicionário Aurélio: “ciúme – sentimento doloroso que as exigências de um amor inquieto; o desejo de posse da pessoa amada, a suspeita ou a certeza de sua infidelidade, fazem nascer em alguém; zelos. Emulação, competição, rivalidade. Despeito invejoso, inveja. Receio de perder alguma coisa; cuidado, zelo”. Porém ciúme e inveja são sentimentos com qualidades muito distintas.

Em ambos, existe a crença de não merecimento embora no ciúme, o entendimento é o de que irá perder o que acredita possuir e na inveja há uma antecipação do fracasso, por entender que nunca irá possuir, a pessoa se sente incapaz de obter.

“Ou seja, o ciúme é relacionado ao que se tem e teme-se perder, enquanto que a inveja é direcionada ao que não se tem e se deseja obter (ou impedir que o outro tenha).” (2)

Concluindo, ciúme é uma emoção de desequilíbrio que se apresenta em nossas relações intra e interpsíquica. Podemos manifestá-lo em relação a objetos, situações e pessoas.

Geralmente vem acompanhado de raiva, apego, medo, podendo se tornar até patológico quando passa a guiar as nossas “opções”, ou melhor, nos aprisionar em um ou mais ponto de nossa vida inclusive através do pensamento que pode se manifestar com idéias irreais ou até mesmo que não podem ser compreendidas pela nossa história biográfica.

Nesta experiência podemos aprofundar nosso autoconhecimento e nos perguntar: Em que acredito? Sou merecedor deste relacionamento? O que sinto é amor? Qual é meu maior temor: o de ser traído? ou abandonado?
Com essas respostas podemos discernir quando e como surge o ciúme, diferenciando inclusive a fantasia da realidade.

Se observarmos, a própria vida nos ensina a sermos nós mesmos, superando nossos limites, nossas dificuldades. Quanto mais fugimos das situações, mais ela se repete nos dando sempre novas oportunidades.

Ao compreendermos que sou livre, eu e o outro, podemos nos comprometer a caminhar juntos a cada dia. Essa compreensão traz em si a serenidade oposta à ansiedade de quem quer controlar o outro, possuir o outro, se impor ao outro. Ensina-nos a paz cultivada a partir de nosso interior.

Transcender essa emoção é a oportunidade que, muitas vezes, o Universo nos oferece para resgatarmos a nossa auto-estima com um cultivo de um amor mais profundo nas nossas relações e o exercício de gratidão com a nossa vida.


Bibliografia:
(1) Maria Luisa Curti – Jalousie in www.dominiofeminino.com.br
(2) Eduardo Ferreira Santos – Ciúmes o medo da perda – Editora Summus
(3) Bel César – Por que sentimos ciúme? – in www.somostodosum.com

“Quem desdenha quer comprar”

E como eu sempre digo:Os cães ladram e a carruagem passa!
By

Sandra BritooooO

domingo, 13 de dezembro de 2009

Apenas eu...

Se você me conheceu ontem, por favor, não pense que sou a mesma pessoa que você encontra hoje.
Experimentei mais da vida, encontrei novos sentimentos naqueles a quem amo, sofri, rezei, e estou diferente.
Por favor não me atribua um "valor médio", fixo e irrevogável, porque estou sempre alerta aproveitando as oportunidades do dia-a-dia. Aproxime-se de mim então, com um senso de descoberta, estude minha face, minhas mãos, minha voz e procure pelos sinais de mudança: é certo que mudei. Mas, mesmo que você reconheça isso, posso estar um pouco temerosa de lhe dizer quem sou.
John Powell
( Trecho do Livro: Porque tenho medo de lhe dizer quem sou?)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Cuide sim!

"...Nunca tive vocação pra alegria tímida, pra paixão sem intensidade máxima ou pro amor mal resolvido sem soluços.
Eu quero da vida o que ela tem de cru e de belo.
Não estou aqui pra que gostem de mim.
Estou aqui pra aprender a gostar de cada detalhe que tenho...
Pra seduzir SOMENTE o que me acrescenta.
Não me venha com meios-termos, com mais ou menos ou qualquer coisa.
Venha a mim com corpo, alma, vísceras, tripas e falta de ar...
Eu acredito é em suspiros, mãos massageando o peito ofegante de saudades intermináveis, em alegrias explosivas, em olhares faiscantes, em sorrisos com os olhos, em abraços que trazem aconchego pra vida da gente.
ACREDITO EM COISAS SINCERAMENTE COMPARTILHADAS.
Em gente que fala tocando o outro, de alguma forma, no toque mesmo, na voz, ou no conteúdo.
Eu acredito em profundidades.
Não tenho medo de altura e não evito meus abismos, pois são eles que me dão a dimensão DO QUE SOU!!! "

VOCÊ É...

Você é os brinquedos que brincou, as gírias que usava, você é os nervos a flor da pele no vestibular, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, Garopaba, Maresias, Ipanema, você é o renascido depois do acidente que escapou, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra.

Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um trecho de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora.

Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é as palavras ditas para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços que junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda.

Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo o que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima.

Você é aquilo que reinvidica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia.

Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê. Você é o que ninguém vê.


Martha Medeiros

Instruções para toda a vida

1. Leve em consideração que grandes amores e
conquistas envolvem grande risco.

2. Quando você perde, não perca a lição.


3. Siga os três R's:
* Respeito a si mesmo
* Respeito aos outros
* Responsabilidade por todas suas ações

4. Lembre-se que não conseguir o que você quer é
algumas vezes um grande lance de sorte.

5. Aprenda as regras de maneira a saber
quebrá-las da maneira mais
apropriada.

6. Não deixe uma disputa por questões menores
ferir um grande amigo.

7. Quando você perceber que cometeu um erro,
tome providências imediatas para corrigi-lo.

8. Passe algum tempo sozinho todos os dias.

9. Abra seus braços para mudanças, sem abrir mão
de seus valores.

10. Lembre-se que o silêncio é algumas vezes a
melhor resposta.

11. Viva uma vida boa e honrada. Assim, quando
você ficar mais velho e
pensar no passado, poderá obter prazer uma
segunda vez.

12. Uma atmosfera de amor em sua casa é o
fundamento para sua vida.

13. Em discordâncias com entes queridos, trate
apenas da situação
corrente.Não levante questões passadas.

14. Compartilhe o seu conhecimento. Esta é uma
maneira de alcançar a
imortalidade.

15. Seja gentil com a terra.

16. Uma vez por ano, vá a algum lugar que você
nunca esteve antes.

17. Lembre-se que o melhor relacionamento é
aquele em que o amor mútuo excede o amor que cada um precisa do outro.

18. Julgue o seu sucesso por aquilo que você
teve que abrir mão para
consegui-lo.

19. Entregue-se total e irrestritamente ao amor
e a cozinha.

Beleza

A graça é o esplendor da beleza, é a beleza em movimento e moça, é o sorriso da infância, é a bondade da força, é o perfume do fruto saboroso, é a elegância da palmeira que se curva, ondeando, às carícias do vento; a graça é a poesia da beleza.

Autor do texto: Paolo Mantegazza

Defeitos

Nas costas dos outros se vêm as nossas.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Feliz Círio!

Reunião com os amigos.
Momento de oração.
O terço.
A caminhada repleta de lembranças...
O almoço com pessoas que nos acolhem o ano inteiro:do jeitinho que somos.
A lágrima que cai!
A saudade das risadas da vovó Zinoca!
O olhar de anjinho da minha mãe.
A felicidade de está viva!
As bençãos para todas as idéias.
O olhar positivo e misericordioso que segue.
A fé em Maria.

Feliz Círio para todos!

Maria - mãe de Jesus!

Todas as vezes que recorro a Maria sou atendida de imediato.
Sinto uma emoção...
Um sentimento inexplicável.
Ela é o meu colo.
A voz que da minha sensatez.
A compreensão divina que faz de mim alguém melhor.

Demais...

Cinema é melhor pra saúde do que pipoca!
Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.
Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é melhor do que NADA!

Luís Fernando Veríssimo

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Felicidade, que sensação é essa?

Por: Márcia Homem de Mello© - Publicação ABRAPSMOL


Dicionário:

Felicidade é qualidade ou estado de feliz; ventura, contentamento.

Feliz é o ser ditoso, afortunado, venturoso. Contente, alegre, satisfeito. Que denota, ou em que há alegria, satisfação, contentamento.

A conquista da felicidade vem no aprendizado diário de viver sabendo aceitar e expressar os desejos e sentimentos, construindo os próprios projetos de vida e empenhando-se para realizá-los.

Um sentimento que expressa de alguma forma, satisfação em ter uma necessidade saciada, um projeto realizado.

Compreender essa sensação, é saber individualizar no universo pessoal, pois o que é motivo de felicidade para uns, pode ser de infelicidade para outros. É um sentimento que pode diferenciar em cada instante tendo significados diferentes.

Depende de cada um, sabendo que só conta consigo mesmo para realizar seus desejos, vontades e projetos. A procura do auto conhecimento ajuda na transformação de desejos em vontade e da vontade em projeto de vida. Aprendendo a ser responsável pelas próprias escolhas, assumindo o sofrimento dos erros e fracassos e o gosto das conquistas e vitórias.

A teoria do psicodrama mostra que desenvolvendo respostas criativas e corajosas no sentido de expressar os seus sentimentos e de realizar a sua vontade própria, ajuda na busca dessa sensação. Construindo-se enquanto indivíduo, realizando e sentindo a felicidade.

Alguns aprenderam a não ter vontade própria. Só sabem realizar a vontade dos outros, projetos pelos outros, não têm suas próprias respostas, mostram-se carentes e inseguros. Só conseguem agir quando tem garantia, segurança e estabilidade do resultado.

Os acomodados, conformam-se com o porto seguro, na falsa certeza de não arriscar, porque a busca do desconhecido, é sempre arriscada e menos estática. E assim, vivem uma felicidade aparente, deixando de buscar e conhecer a sensação da felicidade pela vitória. São derrotados por si mesmo, deixando de assumir novos papeis, conformam-se com a monotonia.

Por não suportar a frustração pela derrota, por um objetivo não alcançado, por um sonho não realizado..., não compete, não tem objetivos, não sonha. Tem ainda aquele que inicia sua meta sendo um faxineiro, mas decide conquistar a presidência. E se consegue alcançar, na sua busca, a vice-presidência, já é motivo de frustração e infelicidade, por não ter chegado ao ponto mais alto.

Os invejosos destroem, menosprezam a vitória do outro, porque assim, deixam de olhar para si, e ver que para eles faltou a coragem e a força do outro.

A maneira de ser de muitos, é pura representação.

É muito bom que as pessoas saibam quem são, reconheçam sua vocação, sua capacidade, e não queiram vestir uma máscara, quando, na verdade, a vontade é de jogar tudo para o alto e tentar outra forma de vida.

Se o indivíduo conseguir identificar sua vocação e habilidade, buscar suas realizações com essa base conhecerá a sensação de ser feliz. Pessoas felizes chamam atenção, são admiradas, tem um brilho diferente.

Mas, isso não significa que enquanto é aplaudido, admirado e chama atenção, é feliz. Pode estar ai, a defesa contra uma auto avaliação. Contentar e agradar aos outros, não é o mesmo que agradar e contentar a si mesmo. A vocação e habilidade são individuais. Assim como a sensação de felicidade também é individual.

A felicidade plena e absoluta não existe. Também não existe receita, manual que possa dar garantia plena de viver 100% feliz.

A busca é por mais momentos e sensação de felicidade.

Descobrindo suas necessidades, suas metas, como e quando alcançá-las, saber reconhecer limite, respeitando e se fazendo respeitar, sabendo diferenciar você do outro, é um começo. E nessa busca, cabe a você criar a sua receita e escrever o seu manual, do que é a SUA sensação de felicidade.

Para Refletir:

"Nosso cérebro é o melhor brinquedo já criado: nele se encontram todos os segredos, inclusive o da felicidade." (Charles Chaplin)

"A melhor maneira de ser feliz é contribuir para a felicidade dos outros." (Confúcio)

"Não é a força, mas a constância dos bons sentimentos que conduz os homens à felicidade." (Friedrich Nietzsche)

"Ninguém tem a felicidade garantida. A vida simplesmente dá a cada pessoa tempo e espaço. Depende de você enchê-los de alegria." (S. Brown)

"És precária e veloz, felicidade. Custas a vir, e, quando vens, não te demoras. Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, e, para te medir, se inventaram as horas." (Cecília Meireles)

"Aprendemos que é possível ser feliz simplesmente pelo fato de estarmos vivendo." (Wilheim Schürmann)

"A felicidade é a única coisa que podemos dar sem possuir." (Voltaire)

"Onde estás, felicidade ?... Em tudo quanto, acabado, me faz dizer: 'Foi bom, mas tão bom que nem senti o tempo passar." (Alfredo Bosi)

"A meta da existência é encontrar felicidade, o que significa encontrar interesse." (Alexandre Sutherland Neill)

"Somos muito mais infelizes na infelicidade do que felizes na felicidade." (Armand Salacrou)

"A infelicidade pura e completa é tão impossível quanto a pura e completa alegria." (Tolstoi)

"Quase sempre a maior ou menor felicidade depende do grau da decisão de ser feliz." (Abraham Lincoln)

"Creio que Deus nos colocou nesta vida para sermos felizes." (Baden Powell)

"A felicidade não depende do que nos falta, mas do bom uso que fazemos do que temos." (Thomas Hardy)

"Felicidade é uma boa saúde e uma má memória." (Ingrid Bergman)

"A felicidade é um bem que se multiplica ao ser dividido." (Marxwell Maltz)



Márcia Homem de Mello© - Ex Diretora Presidente ABRAPSMOL - Psicóloga e Psicodramatista

FELIZ DIA DAS CRIANÇAS!

Não quero adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto;
e velhos, para que nunca tenham pressa.

Oscar Wilde

A Lógica De! *FELIZ DIA DAS CRIANÇAS!

Conta certa lenda, que estavam duas crianças patinando num lago congelado.
Era uma tarde nublada e fria, e as crianças brincavam despreocupadas.
De repente, o gelo quebrou e uma delas caiu, ficando presa na fenda que se formou.
A outra, vendo seu amiguinho preso, e se congelando, tirou um dos patins e começou a golpear o gelo com todas as suas forças, conseguindo por fim, quebrá-lo e libertar o amigo.
Quando os bombeiros chegaram e viram o que havia acontecido, perguntaram ao menino:
- Como você conseguiu fazer isso? É impossível que tenha conseguido quebrar o gelo, sendo tão pequeno e com mãos tão frágeis!
Nesse instante, um ancião que passava pelo local, comentou:
- Eu sei como ele conseguiu.
Todos perguntaram:
- Pode nos dizer como?
- É simples: - respondeu o velho.
- Não havia ninguém ao seu redor para lhe dizer que não seria capaz.

Albert Einstein

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Para a raposa...

"Creio que apenas os necessitados de atenção levantam a bandeira de que o sucesso em meio aos outros seja assim tão vantajoso.

Sociabilizar apenas para criar laços fúteis de amizade ou admiração é uma falha de caráter perigosa, pois, no fim das contas não há como saber se quem está ao seu lado, está ali por que gosta de você ou tem de alguma forma, o desejo de tomar o seu lugar. Humildade minha gente, discrição e sensatez estão em falta no mercado.

Nessas horas, nada mais válido do que lembrar-se das sábias palavras de Nelson Rodrigues proferindo que “Toda unanimidade é burra”. E mais ridículo ainda, aqueles que se alimentam da máquina descontrolada da popularidade".

terça-feira, 15 de setembro de 2009

TEATRO INFANTIL BELÉM -PA

Programe-se!

Espetáculo Teatral Os Contos de Fadas Invadem a Amazônia

Adaptação livre de Sandra Regina de Souza Brito, baseado nos contos clássicos Chapeuzinho Vermelho, Dona Baratinha, Os Três Porquinhos e no conto popular A Formiguinha e a Neve.
Local: Theatro da Paz
Dias: 28 e 29 de novembro de 2009
Sessão: 19h00 e 17h00
Elenco: Projeto A Família Conta o Conto
Contato com a produção: sregina_brito@hotmail.com

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Romeu e Julieta

Nota: Para outros significados de Romeu e Julieta, ver Romeu e Julieta (desambiguação).

Pintura a óleo de 1870 por Ford Madox Brown retratando a famosa cena do terraço de Romeu e Julieta.
Romeu e Julieta (no original em inglês, Romeo and Juliet) é uma tragédia escrita nos primórdios da carreira literária de William Shakespeare (entre 1591 e 1595) sobre dois adolescentes cuja morte acaba unindo suas famílias, outrora em pé de guerra. A peça ficou entre as mais populares na época de Shakespeare e, ao lado de Hamlet, é uma das suas obras mais levadas aos palcos do mundo inteiro. Hoje, o relacionamento dos dois jovens é considerado como o arquétipo do amor juvenil.
Romeu e Julieta pertence a uma tradição de romances trágicos que remonta à antiguidade. Seu enredo é baseado em um conto da Itália, traduzido em versos como A Trágica História de Romeu e Julieta por Arthur Brooke em 1562, e retomado em prosa como Palácio do Prazer por William Painter em 1582. Shakespeare baseou-se em ambos, mas reforçou a ação de personagens secundários, especialmente Mercúcio e Páris, a fim de expandir o enredo. O texto foi publicado pela primeira vez em um quarto[a] de 1597 mas essa versão foi considerada como de péssima qualidade, o que estimulou muitas outras edições posteriores que trouxeram consonância com o texto original de Shakespeare.
A estrutura dramática usada por Shakespeare — especialmente os efeitos de gêneros como a comutação entre comédia e tragédia para aumentar a tensão; sua atitude de expandir os personagens mais secundários e a utilização de sub-enredos para embelezar a história — tem sido elogiada como um sinal precoce de sua habilidade dramática e maturidade artística. Além disso, a peça atribui distintas formas poéticas a diferentes personagens para apresentar sua personalidade mais evoluída: Romeu, por exemplo, cresce mais versado nos sonetos ao longo da trama.
Em mais de cinco séculos de realização, Romeu e Julieta tem sido adaptada nos infinitos campos e áreas do teatro, cinema, música e literatura. Enquanto William Davenant tentava revigorá-la durante a Restauração Inglesa, e David Garrick modificava cenas e removia materiais considerados indecentes no século XVIII, Charlotte Cushman, no século XIX, apresentava ao público uma versão que preservava o texto de Shakespeare. A peça tornou-se memorável nos palcos brasileiros com a interpretação de Paulo Porto e Sônia Oiticica nos papéis principais, e serviu de influência para o Visconde de Taunay em seu Inocência, também baseado em Amor de Perdição, de Camilo Castelo Branco, considerado o "Romeu e Julieta lusitano". Além de se mostrar influente no ultrarromantismo português e no naturalismo brasileiro, Romeu e Julieta mantém-se famosa nas produções cinematográficas atuais, notavelmente na versão de 1968 de Zeffirelli, indicado como melhor filme, e no mais recente Romeu + Julieta, de Luhrmann, que traz seu enredo para a atualidade.
Índice[esconder]
1 Personagens
2 Atos
3 Sinopse
4 Fontes textuais
5 Data e texto
6 Temática
6.1 Erotismo, amor, sexo e morte
6.2 Azar e sorte
6.3 "Luz" e "escuridão"
6.4 Tempo
7 Crítica e interpretação
7.1 Contexto histórico
7.2 Estrutura dramática
7.3 Linguagem
7.4 Psicanálise
7.5 Teoria queer
8 História das encenações
8.1 Época de Shakespeare
8.2 Restauração e século XVIII
8.3 Romeu e Julieta no século XIX
8.4 Romeu e Julieta no século XX
9 Influência artística
9.1 Literatura e arte
9.2 Cinema
10 Indícios históricos
11 Notas
12 Referências
12.1 Fontes
12.2 Bibliografia
13 Ligações externas
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[editar] Personagens
Romeu e Julieta retrata a interação entre três proeminentes famílias em Verona:[1]
Casa dos Capuletos
Capuleto é o patriarca da casa dos Capuletos.
Senhora Capuleto é a matriarca da casa dos Capuletos.
Julieta é a filha única dos Capuletos, e a protagonista feminina da peça.
Tebaldo é primo de Julieta, e sobrinho da senhora Capuleto.
A Ama é a confidente e ama de Julieta.
Pedro, Sansão e Gregório são os criados dos Capuletos.
Governo
Príncipe Escalo é o Príncipe de Verona
Páris é um jovem nobre, parente do príncipe, e pretendente de Julieta.
Mercúcio é parente do príncipe e amigo de Romeu.
Casa dos Montecchios
Montecchio é o patriarca da casa dos Montecchios.
Senhora Montecchio é a matriarca da casa dos Montecchios.
Romeu é o filho único dos Montecchios, e o protagonista masculino da peça.
Benvólio é sobrinho de Montecchio e amigo de Romeu.
Abraão e Baltasar são os criados dos Montecchios.
Outros
O Coro, que lê o prólogo.
Frei Lourenço é confidente de Romeu e franciscano.
Frei João é quem iria entregar a carta de Frei Lourenço para Romeu.
Um Boticário, que vende a poção fatal para Romeu.
Rosalina é uma personagem invisível, pretendente de Romeu antes dele conhecer Julieta.

[editar] Atos
Romeu e Julieta é dividida em cinco atos, todos com o desenvolvimento de sub-enredos e de um grande bloco de "subidas" e "descidas", isto é, suspenses e expectativas que o público (ou o leitor) adquirem ao longo de sua formação.[2] Isso se deve fundamentalmente aos elementos dramáticos que Shakespeare engendrou no texto.[2] Para ver mais sobre isso, vá à sub-seção estrutura dramática. Abaixo, temos um pouco dos acontecimentos de cada ato da peça:
Ato I : Inicia-se num diálogo entre Sansão e Gregório, criados da família Capuleto e termina num diálogo entre Julieta e sua ama. O Ato I mostra o confronto entre a família Capuleto e a família Montecchio, a suposta paixão de Romeu com Rosalina e o amor repentino de Julieta por Romeu. Embora saibam que a suas famílias são rivais, o mais importante para cada um dos dois é o sentimento. As conversas de Julieta com sua ama fazem com que ela demonstre seus sentimentos por Romeu.
Ato II: Inicia com Romeu saltando para dentro do jardim dos Capuletos. Ele encontra-se com Julieta no terraço e, na clássica cena, os dois juram amor um pelo outro. Termina com Frei Lourenço, Julieta e Romeu juntos, preparados para o casamento.
Ato III: Tebaldo intervém no casamento. Mercúcio morre e Romeu é atacado pela cólera, assassinando Tebaldo. Ainda na Cena I, a família Montecchio e Capuleto discutem perante o príncipe quanto à morte de Mercúcio e Tebaldo. Os Montecchio alegam que Romeu assassinou Tebaldo apenas porque este feriu Mercúcio antes. Os Capuleto ignoram e dizem que Romeu merece morrer. O príncipe decide tirar o direito de Romeu voltar a Verona. Julieta termina sabendo de tudo e encontra-se com Romeu. Este parte logo de manhã e promete vê-la novamente.
Ato IV: Os Capuleto apressam o casamento de Julieta com Páris. Frei Lourenço a ajuda e sugere que ela tome um elixir e se finja de morta, pois enviará uma carta à Romeu dizendo para ele retornar e fugir junto com ela.
Ato V: A carta é extraviada e Romeu pensa que Julieta se suicidou. Ele encontra um boticário e encomenda um veneno. Retornando, Romeu encontra-se com Páris e o enfrenta, derrotando-o. Romeu vai ao encontro do corpo de Julieta e bebe o veneno, morrendo subitamente. Julieta acorda e, desesperada, suicida-se com um punhal que estava presente na bainha de Romeu. A família de ambos, antes rivais, juntam-se para o perdão.

[editar] Sinopse
Aviso: Este artigo ou seção contém revelações sobre o enredo (spoilers).
"Duas famílias, iguais em dignidade …"
—Coro[3]

O Último Beijo de Romeu em Julieta por Francesco Hayez. Óleo sobre tela, 1823.
A peça abre numa rua com o desentendimento entre os Montecchios e os Capuletos. O Príncipe de Verona intervém e declara que irá punir com morte as pessoas que colaborarem para mais uma briga de ambas as famílias. Mais tarde, Páris conversa com Capuleto sobre o casamento de sua filha com ele, mas Capuleto está confuso quanto o pedido porque Julieta tem somente treze anos. Capuleto pede para Páris aguardar dois anos e o convida a uma planejada festa de balé que será realizada na casa. A Senhora Capuleto e a Ama de Julieta tentam persuadir a moça a aceitar o cortejo de Páris. Após a briga, Benvólio encontra-se com seu primo Romeu, filho dos Montecchios, e conversa sobre a depressão do moço. Benvólio acaba descobrindo que ela é o resultado de um amor não-correspondido por uma garota chamada Rosalina, uma das sobrinhas do Capuleto. Persuadido por Benvólio e Mercúcio, Romeu atende o convite da festa que acontecerá na casa dos Capuletos em esperança de encontrar-se com Rosalina. Contudo, Romeu apaixona-se perdidamente por Julieta. Após a festa, na famosa "cena da varanda", Romeu pula o muro do pátio dos Capuletos e ouve as declarações de amor de Julieta, apesar de seu ódio pelos Montecchios. Romeu e Julieta decidem se casar.
Com a ajuda de Frei Lourenço - esperançoso da reconciliação das famílias através da união dos dois jovens - eles conseguem se casar secretamente no dia seguinte. Teobaldo, primo de Julieta, sentindo-se ofendido pelo fato de Romeu ter fugido da festa, desafia o moço para um duelo. Romeu, que agora considera Teobaldo seu companheiro, recusa lutar com ele. Mercúcio sente-se incentivado a aceitar o duelo em nome de Romeu por conta de sua "calma submissão, vil e insultuosa".[4] Durante o duelo, Mercúcio é fatalmente ferido e Romeu, irritado com a morte do amigo, prossegue o confronto e mata Tebaldo. O Príncipe decide exilar Romeu de Verona por conta do assassinato salientando que, se ele retornar, terá sua última hora.[5] Capuleto, interpretando erroneamente a dor de Julieta, concorda em casá-la imediatamente com o Conde Páris e ameaça deserdá-la quando ela recusa-se a se tornar a "alegre noiva" de Páris. Quando ela pede, em seguida, o adiantamento do casamento, a mãe lhe rejeita. Quando escurece, Romeu, secretamente, passa toda a noite no quarto de Julieta, onde eles consumam seu casamento.

A Reconciliação dos Montecchios e Capuletos Diante da Morte de Romeu e Julieta, por Frederic Leighton, 1855.
No dia seguinte, Julieta visita Frei Lourenço pedindo-lhe ajuda para escapar do casamento, e o Frei lhe oferece um pequeno frasco, aconselhando: "… bebe seu conteúdo, que pelas veias, logo, há de correr-te humor frio, de efeito entorpecedor, sem que a bater o pulso continue em seu curso normal, parando logo…"[6] O frasco, se ingerido, faz com que a pessoa durma e fique num estado semelhante a morte, em coma por "duas horas e quarenta".[7] Com a morte aparente, os familiares pensarão que a moça está morta e, assim, ela não se casará indesejadamente. Por fim, Lourenço promete que enviará um mensageiro para informar Romeu — ainda em exílio — do plano que irá uni-los e, assim, fazer com que ele retorne para Verona no mesmo momento em que a jovem despertar. Na noite antes do casamento, Julieta toma o remédio e, quando descobrem que ela está "morta", colocam seu corpo na cripta da família.
A mensagem, contudo, termina sendo extraviada e Romeu pensa que Julieta realmente está morta quando o criado Baltasar lhe conta o ocorrido. Amargamente, o protagonista compra um veneno fatal de um boticário que encontra no meio do caminho e dirige-se para a cripta dos Capuletos. Por lá, ele defronta-se com a figura de Páris. Acreditando que Romeu fosse um vândalo, Páris confronta-se contra o desconhecido e, na batalha, o segundo dos dois assassina o outro. Ainda acreditando que sua amada está morta, ele bebe a poção. Julieta acaba acordando e, descobrindo a morte de Romeu, se suicida com o punhal dele, vendo que a poção do moço não possuía mais nenhuma gota. As duas famílias e o Príncipe se encontram na tumba e descobrem os três mortos. Frei Lourenço reconta a história do amor impossível dos jovens para as duas famílias que agora se reconciliam pela morte dos seus filhos. A peça termina com a elegia do Príncipe para os amantes: "Jamais história alguma houve mais dolorosa / Do que a de Julieta e a do seu Romeu."[8]
Aviso: Terminam aqui as revelações sobre o enredo (spoilers).

[editar] Fontes textuais

Publicação da tradução de William Caxton sobre o conto de Píramo e Tisbe de Ovídio, 1480.
Romeu e Julieta pertence a uma tradição de romances trágicos que remontam a antiguidade. Um desses romances é o da história de Píramo e Tisbe, da Metamorfoses de Ovídio, cujo enredo contém paralelos com a história de Shakespeare: os pais dos dois amantes detestam-se mutuamente, e Píramo acaba acreditando que Tisbe está morta.[9] Os Contos Efésios de Xenofonte de Efésios, escrito em meados do século III, também possui muitos elementos semelhantes ao da peça, incluindo a separação drástica dos protagonistas, e o frasco cuja bebida induz a um estado de morte aparente.[10]
A versão mais recente conhecida do conto de Romeu e Julieta é a história de Mariotto e Gianozza por Masuccio Salernitano, no conto 33 de seu Il Novellino, publicado em 1476.[11] Salernitano ambienta sua história em Siena e implanta algumas locações de sua própria vida nos eventos da história.[11] A sua versão inclui elementos como o casamento secreto, o conluio do Frade, a briga que decorre do assassinato de um cidadão, o exílio de Mariotto, o casamento forçado de Gianozza, o frasco, e a mensagem crucial no final.[11] Nesta versão, Mariotto é capturado e decapitado, enquanto Gianozza morre de tristeza.[12][13]
Luigi da Porto adaptou essa história como Giulietta e Romeo e a incluiu em sua Historia novellamente ritrovata di due Nobili Amanti publicada em 1530, juntando o conto de Píramo e Tisbe com o Decamerão de Giovanni Boccaccio.[14] Da Porto contribuiu muito para a concepção moderna, pois além de elaborar o nome dos amantes e de suas famílias rivais como Montecchi e Capuleti, colocou a localização da peça em Verona.[11] Ele também criou personagens que hoje correspondem ao Mercúcio, ao Tebaldo e ao Páris de Shakespeare. Da Porto apresenta o seu conto como historicamente verdadeiro e alega que ele se passou na época de Bartolomeo II della Scala (um século antes de Salernitano).[11] Os Montecchios e os Capuletos eram facções políticas do século XIII, mas a única ligação dissidente que ocorreu entre eles é a mencionada no Purgatório de Dante.[15] Na versão de da Porto, Romeu toma o veneno e Giulietta se fere com o punhal do amado.[16]

Frontíspicio do poema Romeu e Julieta de Arthur Brooke.
Em 1554, Matteo Bandello publicou o segundo volume de seu Novelle incluindo a sua própria versão de Giulietta e Romeo.[14] Bandello enfatiza a inicial tristeza de Romeu no início da peça e a contenda entre as famílias, além de introduzir na obra Benvólio e a Ama.[14] O enredo produzido por Bandello foi traduzido para a língua francesa por Pierre Boaistuau em 1559 no primeiro volume de sua Histories Tragiques.[17] Boaistuau adicionou moralidade e sentimento, e também um tanto de linguagem retórica nos diálogos das personagens da obra.[17]
Como havia uma tendência entre os poetas e dramaturgos em publicar trabalhos baseados nas famosas novelles italianas — os contos da Itália figuravam entre os mais populares do teatro da época - Shakespeare tomou vantagem dessa popularidade nas seguintes obras (todas derivadas de novelles italianas): O Mercador de Veneza, Muito Barulho Por Nada, Tudo Bem Quando Termina Bem, Medida por Medida, e Romeu e Julieta.[18][19] O bardo inglês pode ter sido muito bem familiarizado com a coleção de contos de 1567 elaborada por William Painter, intitulado Palácio do Prazer, que inclui uma versão em prosa da história de Romeu e Julieta nomeada "The goodly History of the true and constant love of Rhomeo and Julietta".[19] Antes dessas produções, contudo, em 1562 era publicado o poema narrativo A Trágica História de Romeu e Julieta de Arthur Brooke que, embora tivesse elementos intencionalmente ajustados para refletir alguns trechos do enredo de Tróilo e Créssida de Chaucer, é considerado uma tradução fiel da versão de Boaistuau.[20]
Acredita-se que Romeu e Julieta seja uma dramatização desta tradução de Brooke, e que Shakespeare segue o texto fielmente, acrescentando-lhe, contudo, maiores destaques para a maioria dos personagens secundários, especialmente a Ama e Mercúcio.[21][22] Dido, rainha de Cartago e Herói e Líder — ambos os poemas escritos na época de Shakespeare pelo seu contemporâneo Christopher Marlowe — talvez tenham sido influências diretas para o texto de Romeu e Julieta, mesmo que o final de ambos tenha a atmosfera na qual as trágicas histórias de amor pudessem prosperar, ao contrário do final trágico da peça.[20]

[editar] Data e texto

Capa do Segundo Quarto de Romeu e Julieta publicado em 1599.
Os estudiosos não sabem exatamente quando Shakespeare escreveu Romeu e Julieta. No entanto, podemos adquirir determinadas pistas: a Ama de Julieta refere-se a um terremoto que tinha ocorrido 11 anos antes.[23] Considerando que surgiu um terremoto na Inglaterra em 1580, é possível determinar que a peça se passa em 1591 ou que esse é o ano em que Shakespeare escreveu a obra, embora muitos outros terremotos, tanto na Inglaterra quanto em Verona tenham ocorrido antes ou depois, fazendo com que diferentes datas sejam propostas.[24] Considerando também que os estudiosos apontam semelhanças do estilo artístico usado em Romeu e Julieta a Sonhos de Uma Noite de Verão e outras peças convencionalmente datadas em 1594-95, a tradição diz que Romeu e Julieta foi composta entre 1591 e 1595.[25] Existe a hipótese de que a peça era ainda um projeto recentemente iniciado no ano de 1591, concluído por Shakespeare em 1595.[26]
O Romeu e Julieta de Shakespeare foi publicado em duas edições de quarto antes da publicação do First Folio em 1623. As duas versões são referidas como Q1 e Q2, respectivamente. A primeira edição impressa, Q1, aparece no início de 1597, realizada por John Danter. Como seu texto contém muitas diferenças se comparada às últimas edições, ela é conhecida como um 'mau quarto'.[27] O editor T.J.B. Spencer explicou, no século XX, que a versão "tem um texto detestável, provavelmente uma reconstrução da peça a partir de memórias imperfeitas de um ou mais ator(es)", sugerindo que ela foi pirateada para publicação.[27] Uma possível explicação para essas deficiências da Q1 é que a peça (como muitas outras de seu tempo) pode ter sido editada antes da atuação da companhia de teatro.[28] Em qualquer caso, seu aparecimento no início de 1597 torna o ano de 1596 como a data mais tardia para a composição da obra.[24]

Facsimile da primeira página de Romeu e Julieta, no First Folio publicado em 1623.
A segunda edição, Q2, é chamada de A Excelentíssima e Lamentável Tragédia de Romeu e Julieta e representa um texto superior ao da versão anterior (Q1).[28] Impressa em 1599 por Thomas Creede e publicada por Cuthbert Burby, ela possui cerca de 800 linhas a mais do que a Q1.[28] A sua capa descreve-a como "recém-corrigida, aumentada e alterada". Com base nessa informação, acredita-se que a Q2 foi baseada no projeto pré-encenação de Shakespeare (conhecido como seu "foul papers"), uma vez que existem curiosidades textuais como as diversas rubricas para personagens e "falsos inícios" para discursos que foram presumivelmente arrancados pelo autor mas erroneamente preservados pelo editor.[28] Seu texto é mais completo e fiável, e por isso foi reimpresso em 1609 (Q3), 1622 (Q4) e 1637 (Q5).[27] Com efeito, todos os últimos quartos e fólios de Romeu e Julieta são baseados em Q2, como todas as edições modernas e seus editores acreditam que qualquer defeito que haja em edições anteriores ao Q2 (boas ou más) foram causadas pelos seus respectivos impressores e/ou pelas gráficas e editoras da época, e não por William Shakespeare.[28]
O texto do Primeiro Fólio, de 1623, é baseado primariamente em Q3, com esclarecimentos e correções feitos a partir de um livro teatral ou a partir do Q1.[27][29] Outras edições da peça em Fólio foram impressas em 1632 (F2), 1664 (F3), e em 1685 (F4).[30] As versões modernas - contando com os vários fólios e quartos - apareceram pela primeira vez na edição de 1709 do dramaturgo Nicholas Rowe, seguido pela versão de Alexander Pope em 1723. Essa última versão merece especial destaque, porque Pope iniciou uma tradição editiva da peça ao adicionar algumas etapas de posições de palco e cena, já que Q2 carecia dessas direções, presentes, contudo, em Q1.[30] A tradição continuou a ser usada no período do Romantismo.[31] As edições com maior número de notas apareceram pela primeira vez na Era vitoriana e continuam a ser produzidas nos dias de hoje, onde existem uma ampla variedade de notas ao longo do texto, destacando e explicando as origens e a cultura por detrás da peça.[31]

[editar] Temática
Os críticos têm encontrado uma certa dificuldade em atribuir um tema específico ou mais bem apresentado na peça de Romeu e Julieta.[32] As propostas que surgiram como temas principais são: a descoberta que as personagens fazem sobre os seres humanos, compreendendo que eles não são nem totalmente bons nem totalmente maus e que, em vez disso, são um pouco dos dois;[32] o despertar da fantasia onírica e a entrada para a realidade;[32] o perigo que existe na ação precipitada sem qualquer tipo de racionalização,[32] e o poder que existe num destino trágico.[32] Embora esse conjunto de temática forme um enredo complexo para os críticos definirem uma temática principal, a peça está repleta de vários elementos temáticos que se entrelaçam. Os que são mais frequentemente debatidos pelos estudiosos são tratados a seguir:[33]

[editar] Erotismo, amor, sexo e morte
"Romeu:Se minha mão profana o relicário, em remissão aceito a penitência: meu lábio, peregrino solitário, demonstrará, com sobra, reverência.Julieta:Ofendeis vossa mão, bom peregrino, que se mostrou devota e reverente. Nas mãos dos santos pega o paladino. Esse é o beijo mais santo e conveniente."
—Romeu e Julieta, Ato I, Cena V[34]
Romeu e Julieta é por vezes considerada uma obra sem temas, com a ressalva de que trata do amor entre dois jovens apaixonados.[32] Romeu e Julieta tornaram-se com o tempo a emblemática dos jovens amantes que são condenados pelo seu amor. Uma vez que o tema se apresenta de forma muito clara na peça, há uma grande exploração da linguagem e do contexto histórico por trás desse romance.[35]
Em seu primeiro encontro, Romeu e Julieta utilizam uma forma de comunicação recomendada por muitos autores críticos da época de Shakespeare: a metáfora. Usando metáforas de santos e pecados, Romeu teve a oportunidade de testar os sentimentos que Julieta nutria por ele de uma forma não-ameaçadora.[35] Esse método estilístico era recomendado por Baldassare Castiglione (cujas obras foram traduzidas para o inglês nessa época).[35] Castiglione lembra que, se um homem utiliza uma metáfora como um convite, a mulher pode fingir que ela não entendeu o que ele disse, e então ele poderia recuar sem perder sua honra.[36] Julieta, no entanto, participa da metáfora de seu amado e colabora para seu desenvolvimento, expandindo-a. Metáforas religiosas como "santuário", "peregrino" e "santo" se encontravam na moda poética da época e eram consecutivamente mais suscetíveis de serem compreendidas como algo romântico, em vez de bobo ou blasfêmia, como o conceito de santidade ficou associada através do Catolicismo.[36] Mais tarde, Shakespeare remove as alusões mais audazes para a ressurreição de Cristo na tumba ele encontrou em sua fonte de trabalho: A Trágica História de Romeu e Julieta, do Brooke.[37]

Frank Dicksee retrata a cena do terraço no quadro Romeu e Julieta, 1884
Na famosíssima cena do terraço, Shakespeare coloca Romeu ouvindo por acaso o solilóquio de Julieta, embora na versão de Brooke a declaração da moça é feita sem ninguém escutar. Ao aproximar Romeu na cena para escutar sua amante, Shakespeare quebra a sequência normal da corte: normalmente, as mulheres eram obrigadas a serem tímidas e modestas para se certificarem que seus pretendentes eram sinceros para com elas.[37] A quebra (intencional) dessa regra serve apenas para adiantar um pouco o enredo teatral, contudo.[37] Os amantes são capazes de pular a parte das declarações de amor e passar a falar de sua relação—como quando decidem se casar depois de se conhecerem em apenas uma única noite.[35] Se nos focarmos na cena final do suicídio, podemos perceber uma contradição na mensagem: na religião católica, os suicidas eram condenados para viverem e amargarem no inferno; porém, existia também o conceito de que, se morressem através da "Religião do Amor", ao lado de seu amor, estariam unidos com ele no paraíso.[38] Portanto, o amor entre Romeu e Julieta parece expressar a "Religião do Amor", em vez de expressar a visão católica.[38] Outro ponto interessante de ressaltar é que, embora o amor de ambos seja passional, ele só se consumou no casamento, o que os impede de perder a simpatia do público.[38]
Indiscutivelmente, Shakespeare relaciona sexo e amor com a morte. Por exemplo: ao longo da história, tanto Romeu como Julieta, assim como as outras personagens, a personificam como um acontecimento sombrio, frequentemente equiparando-a com o Erotismo: ao descobrir a morte (falsa) de Julieta, por exemplo, Capuleto diz que sua filha foi "desflorada",[39] uma alusão simples para o fim da virgindade feminina.[40] Julieta também compara Romeu com a morte de forma erótica e, mesmo antes de seu suicídio, ela se apossa do punhal de Romeu e diz: "Oh! sê bem-vindo, punhal! Tua bainha é aqui. Repousa aí bem quieto e deixa-me morrer."[40][41]

[editar] Azar e sorte
"Ó, Sou o bobo da fortuna!"
—Romeu[42]
Os estudiosos se encontram divididos quanto ao papel da sorte na peça. Não existe consenso entre eles sobre se os protagonistas são realmente fadados a morrerem juntos ou se os eventos ocorrem através de uma série de hipóteses azaradas. Os argumentos a favor do destino geralmente referem-se aos dois como "amantes desditosos".[43] Essa expressão aponta que as estrelas predeterminam o futuro dos amantes.[44] O estudioso John W. Draper acredita que existe um paralelo entre a crença Isabelina dos "quatro humores" e os principais personagens da peça (sendo Tebaldo um hipocondríaco).[45] Interpretar o texto através dos humores reduz o valor do enredo atribuído ao acaso pelas audiências modernas.[45]
Ainda nesse tema, outros estudiosos encontram na peça um enredo envolto de muito azar, colocando-a não como uma tragédia, mas como um melodrama emocional.[45] Ruth Nevo crê que o elevado grau em que a oportunidade é sublinhada na narrativa faz de Romeu e Julieta a mais fútil das tragédias em seus acontecimentos, mas não em seus personagens: quando Tebaldo desafia Romeu para uma luta, por exemplo, ele não está sendo impulsivo, ou seja, após a morte de Mercúcio, a ação mais esperada no momento e sua escolha termina sendo tomada.[46] Nessa cena, Nevo lê Romeu como um jovem consciente dos perigos que o desrespeito das normais sociais, de identidade e compromissos podem acarretar e, por isso, ele decide cometer um assassínio não por causa de uma "falha trágica", mas devido à circunstância.[46]

[editar] "Luz" e "escuridão"
Segundo Caroline Spurgeon, "… em Romeu e Julieta a imagem dominante é a luz, e todas as formas e manifestações da mesma: o sol, a lua, as estrelas, o fogo, os raios, os flashes de pólvora e a luz que reflete a beleza e o amor, enquanto que, em contrapartida, temos a noite, a escuridão, as nuvens, a chuva, a névoa e a fumaça."[47]

O conceito de claro e escuro é muito bem retrato no quadro Romeu no Leito de Morte de Julieta, por Füssl, 1809.
Em verdade, os estudiosos têm longas críticas e análises acerca do amplo uso da "luz" e da "escuridão" que Shakespeare fez questão de utilizar na peça. Esse uso é uma técnica estilística muito facilmente encontrada na literatura para referir em linguagem descritiva uma experiência sensorial. Caroline Spurgeon considera esse tema da luz como "um símbolo da beleza natural do amor juvenil"[46] e essa interpretação serviu de argumento para outros críticos.[47] De maneira resumida, podemos dizer que Romeu e Julieta vêem-se como uma luz na escuridão circundante: o primeiro descreve a amada como se ela fosse o sol;[48] mais brilhante do que uma tocha;[49] uma jóia que brilha no escuro das noites,[50] e um brilhante anjo entre nuvens negras.[51] Até mesmo quando Julieta está (aparentemente) morta, ele diz: "… a insígnia da beleza em teus lábios e nas faces ainda está carmesim, não tendo feito progresso o pálido pendão da morte …"[52] Julieta, por sua vez, descreve Romeu como "dia em noite" e "mais branco do que neve sobre um corvo."[53][54]
Esse contraste entre claro e escuro presente no diálogo de ambos pode ser uma clara metáfora para amor e ódio, juventude e maturidade.[46] Por vezes esses entrelaçamentos metafóricos criam o que se chama hoje de ironia dramática, uma vez que o amor de Romeu e Julieta é uma luz no meio do ódio de seus familiares, que seria a escuridão, mesmo que os dois jovens vivam um relacionamento apaixonante na luz da noite, enquanto seus parentes briguem em plena luz do dia.[46] Uma vez existindo esses supostos paradoxos na peça, cria-se uma atmosfera do dilema moral que os amantes terão que enfrentar: ser fiel à família ou ser fiel ao amor?[54]
No final da história, quando a "manhã é sombria e o sol esconde seu rosto de tristeza", segundo as palavras do próprio Príncipe de Verona, a luz e a escuridão retornam a seus devidos lugares, e isto reflete a verdadeira escuridão interior da luta entre as famílias diante da tristeza pelos amantes. Os personagens então reconhecem seus erros à luz dos recentes acontecimentos, e tudo volta à ordem natural, "graças ao amor de Romeu e Julieta".[47] Além disso, o tema da "luz" e "escuridão" também pode ser interpretado como uma forma ligada ao tempo, e assim os dramaturgos da Inglaterra quinhentista expressavam a passagem de tempo através de descrições do sol, da lua e das estrelas, enfim.[55]

[editar] Tempo
"Este tempo de dor não é propício para a corte fazermos."
—Páris[56]
O tempo em Romeu e Julieta desempenha um papel importante na linguagem e no enredo da peça, uma vez que tanto Romeu quanto Julieta lutam para manter um mundo imaginário em face da dura realidade que os rodeia. Quando Romeu jura o seu amor por Julieta para a lua, ela protesta: "Não jures pela lua, essa inconstante, que seu contorno circular altera todos os meses, porque não pareça que teu amor, também, é assim mudável."[57] Desde o início, os amantes são designados como estrelas cruzadas, baseado numa crença da astrologia associada com o tempo.[58] Segundo essa crença, as estrelas controlam o destino da humanidade e, uma vez que o tempo passa, as estrelas se movem ao longo de seu curso no céu, traçando também o curso de vidas dos seres abaixo delas.[58] Romeu, por exemplo, diz no início da peça que tem um pressentimento baseado nos movimentos das estrelas e, quando pensa que Julieta está morta, ele desafia o curso que elas têm guardado para ele.[45]
Outro tema central (e muito visível) é a rapidez com que os acontecimentos se desenvolvem: a obra de Shakespeare abarca um período de quatro a seis dias, enquanto que o poema de Brooke se passa em nove meses.[55] Estudiosos como G. Thomas Tanselle, acreditam que o tempo foi "especialmente importante para Shakespeare" nessa peça, uma vez que ele usou referências a "curto prazo" para os jovens amantes, enquanto usava referências a "longo prazo" para a geração mais velha destacando uma provável "corrida precipitada para a perdição".[55] Romeu e Julieta lutam contra o tempo para fazer com que seu amor dure para sempre. No final, a única forma de derrotar o tempo parece ser através da morte que os torna imortais através da arte.[59]
O tempo também está ligado ao tema da luz e da escuridão desenvolvido na sub-seção anterior: na época de Shakespeare, as peças eram usualmente encenadas de dia, e isso obrigou o dramaturgo a usar palavras para criar a "ilusão" de dia e noite em suas peças.[60] Além de se referir ao tempo através dos diálogos, que citam o sol, a lua, as estrelas, o dia, a noite, os atores também se referiam a dias da semana e a horas específicas para ajudarem o público na compreensão do ambiente da peça.[60] Somente em Romeu e Julieta, por exemplo, pode-se encontrar exatamente 103 referências claras ao tempo.[61]

[editar] Crítica e interpretação

[editar] Contexto histórico

Retrato do primeiro crítico da peça, Samuel Pepys, por John Hayls. Óleo sobre tela, 1666.
Os críticos têm observado muitos pontos fracos na peça Romeu e Julieta, mas ela ainda é considerada como uma das melhores shakesperianas. O mais famoso crítico da peça foi Samuel Pepys, administrador naval e membro do Parlamento conhecido pelos relatos históricos que ele escrevia em seu diário pessoal.[62] Entre esses relatos se encontram acontecimentos ocorridos na Grande Praga de Londres, na Segunda Guerra Anglo-Holandesa e no Grande Incêndio de Londres.[62] Quanto à trama de Romeu e Julieta, Pepys escreveu em 1662: "é a pior peça que já assisti em toda a minha vida."[62] Dez anos depois, o poeta John Dryden elogiou a peça e o personagem Mercúcio: "Shakespeare demonstrou o melhor da sua habilidade artística em seu Mercúcio, e ele próprio dizia que foi obrigado a matá-lo no terceiro ato para evitar ser morto por ele."[62] A crítica da peça no século XVIII era menos esparsa, mas não menos dividida: o editor Nicholas Rowe foi o primeiro crítico a refletir sobre o tema da obra, concluindo que o final trágico foi uma punição justa para as duas famílias que brigavam entre si.[63] Em meados do mesmo século, o escritor Charles Gildon e o filósofo Lord Kames argumentaram que a peça era um fracasso artístico, pois não seguia as "regras clássicas" do teatro: "a tragédia final deve ocorrer por conta de algum erro dos personagens envolvidos no enredo, e não por um acidente do destino."[63] Samuel Johnson, contudo, considerava a peça mais agradável de Shakespeare.[63]
Em finais do século XVIII e através do século XIX, a crítica centrou-se nos debates sobre a mensagem moral da peça. A adaptação do ator e dramaturgo David Garrick, realizada em 1748, excluiu a personagem Rosalina, porque era visto como inconstante e imprudente o abandono que Romeu faz para ficar com Julieta.[64] Críticos como Charles Dibdin alegavam que a inclusão de Rosalina, no entanto, era proposital para mostrar como o herói era imprudente, e que essa foi a verdadeira razão para seu trágico fim.[64] Outros argumentam que Frei Lourenço pode ter sido o porta voz que Shakespeare utilizou para demonstrar suas advertências contra a pressa injustificada.[64] Com o advento do século XX, todos esses argumentos acerca da moralidade da peça foram contestados por críticos como Richard Green Moulton. Ele acreditava que o acidente, e não a falha das personagens, foi o que as levou à morte.[65]

[editar] Estrutura dramática

Romeu e Julieta e Frei Lourenço por Henry Bunbury, 1792-96
Em Romeu e Julieta, Shakespeare emprega diversas técnicas dramáticas que têm adquirido bastante elogio de críticos. A técnica mais notavelmente destacada são as bruscas mudanças de gênero da comédia para a tragédia (como, por exemplo, o intercâmbio de paranomásia entre Romeu e Mercúcio pouco antes da entrada de Tebaldo).[2] Antes da morte de Mercúcio no Ato III, a peça é basicamente uma comédia, mas após sua morte, a obra adquire subitamente um tom grave e assume elementos trágicos.[2] Quando Romeu é punido pelo Príncipe e se exila, o fato do protagonista não ter sido executado e o de que Frei Lourêncio oferece um plano para reunir ambos, o público/leitor ainda pode esperar que os amantes acabarão bem.[66] Nessa etapa, o público/leitor se encontra em um "estado ofegante de suspense" até a abertura da última cena no túmulo, afinal, se Romeu está atrasado o suficiente para o Frei aparecer, ele e Julieta ainda poderão se salvar.[66] Essas mudanças repentinas de estados (de esperança para desespero, e depois indulto, e novamente esperança) são simplesmente elementos que servem para salientar a tragédia, até que a esperança final termina e os protagonistas morrem.[67]
Shakespeare também utiliza sub-enredos para oferecer uma visão mais clara das ações dos personagens principais: quando a peça abre, Romeu está apaixonado por Rosalina, que tem recusado toda a corte do moço. Esse afeto que Romeu nutre por Rosalina é um evidente contraste entre seu amor por Julieta mais tarde.[67] Esse contraste permite uma comparação entre ambos os relacionamentos através do qual o público (ou leitor) tem a chance de acreditar na seriedade do amor e do casamento entre Romeu e Julieta.[67] O afeto de Páris por Julieta também estabelece, por sua vez, um contraste entre os sentimentos da moça por ele e seus sentimentos por Romeu.[67] A linguagem formal que ela utiliza quando está na presença de Páris, bem como a forma como ela fala sobre ele para sua Ama, mostram que seus sentimentos mentem com Romeu.[67] Além disso, o sub-enredo das rixas entre os Montecchios e os Capuletos providencia uma atmosfera de ódio que se torna o principal contribuinte, segundo alguns críticos, para o final trágico da peça.[67]

[editar] Linguagem

Romeu por Bianchini, um dos personagens que utiliza o soneto em suas falas.
As formas poéticas utilizadas por Shakespeare ao longo da obra são muito variadas, o que torna Romeu e Julieta rica em poesia. Ele inicia com um prólogo de 14 linhas em forma do soneto shakesperiano, recitado por um Coro. A maior parte do texto de Romeu e Julieta é, contudo, escrita em versos brancos, muitos deles dentro do pentâmetro iâmbico, com menor variação rítmica do que a maioria de suas peças posteriores.[68] Shakespeare escolhe suas formas poéticas de acordo com o personagem que irá falar. Frei Lourenço, por exemplo, utiliza as formas do sermão e da síntese, e a Ama usa unicamente o verso branco correspondendo rigorosamente à fala coloquial.[68] Cada uma dessas formas também é moldada à emoção da cena em que o personagem ocupa. Romeu, por exemplo, no início da peça tenta usar o soneto de Petrarca para falar de Rosalina - provavelmente porque essa forma era frequentemente utilizada pelos homens que possuíam o intuito de elogiar a beleza das mulheres cujo amor era impossível de atingir pela falta de reciprocidade, como na situação dele com Rosalina.[68] Essa forma de soneto também é usada pela Senhora Capuleto quando ela tenta convencer sua filha do homem maravilhoso que o Conde Páris é.[69]
Quando ocorre o encontro entre Romeu e Julieta, a forma poética muda: do soneto petrarquiano (que estava se tornando arcaico na época de Shakespeare), temos uma forma mais contemporânea de soneto, usando metáforas como "peregrino" e "santos".[70] Finalmente, quando os dois se encontram no terraço, Romeu tenta usar a forma de soneto que sensibilize seu amor, mas Julieta rompe a técnica ao dizer: "Acaso ainda me amas?"[71] Ao fazer isso, ela busca uma expressão verdadeira e sincera, ao invés de uma exageração poética do amor de ambos.[72] Nas falas de Julieta, Shakespeare usa palavras com monossílabos quando ela está diante de Romeu, e linguagem formal quando diante de Páris.[73] Outras formas poéticas usadas na peça são o epitalâmio (em Julieta); a rapsódia (no diálogo que Mercúcio cita uma tal de Rainha Mab), e a elegia (em Páris).[74] Na linguagem da peça, Shakespeare economiza seu estilo prosaico, utilizando-o com mais frequência nas falas das personagens mais pobres, embora ele as use também em outras, como em Mercúcio.[75] O humor, por sua vez, é um elemento importante na obra: o estudioso Molly Mahood identificou, pelo menos, 175 trocadilhos no texto.[76] Muitos desses trocadilhos são piadas de natureza sexual, especialmente as que envolvem Mercúcio e a Ama.[77]

[editar] Psicanálise
Os primeiros críticos psicanalíticos da peça viram um grande problema no enredo de Romeu e Julieta: a personalidade impulsiva de Romeu, decorrente de uma suposta "agressão mal-controlada e dissimulada", que levou Mercúcio para a morte e também o suicídio dos amantes.[78] Romeu e Julieta não é considerada como uma peça psicologicamente complexa, e sua leitura psicanalítica se atenta a trágica experiência masculina com a doença.[79] Norman Holland, escrevendo em 1966, considerou o "sonho de Romeu"[80] como um "desejo realista que satisfaça a fantasia de ambos em termos do mundo adulto de Romeu e suas hipotéticas fase oral, fálica e edípica na infância, tão frequentes no desenvolvimento psicossexual".[81] Hollanda aproveita e reconhece que um personagem dramático não é um ser humano com os processos mentais separados dos do autor.[81] Críticos como Julia Kristeva focam-se no ódio entre as duas famílias, argumentando que esse ódio é a causa da paixão de Romeu e Julieta, e salienta que essa sua compreensão se manifesta de forma muito clara na linguagem dos dois: Julieta, por exemplo, diz "o meu único amor nasceu do meu único ódio"[82] e, muitas vezes, expressa sua paixão através da antecipação da morte de Romeu.[83] Essas interpretações conduzem a uma especulação quanto à psicologia do dramaturgo, em particular pelo luto que, dizem os psicanalistas, Shakespeare foi obrigado a assumir diante da morte de seu filho Hamnet.[84]

[editar] Teoria queer
A teoria queer é uma teoria sobre a identidade de gênero que afirma que a orientação sexual e a identidade sexual ou de gênero dos indivíduos são o resultado de um constructo social e que, portanto, não existem papéis sociais de gênero sexuais essencial ou biologicamente inscritos na natureza humana, antes formas socialmente variáveis de desempenhar um ou vários papéis sexuais. Baseados nesses fundamentos, seus estudiosos se atentam na questão da sexualidade de Mercúcio e Romeu, comparando a amizade de ambos com o amor sexual: Mercúcio, numa conversa amigável, menciona o falo de Romeu, sugerindo vestígios de homoerotismo entre os dois.[85] Um exemplo é quando ele diz: "O que o magoara fora invocar no círculo da amada um espírito estranho e aí deixá-lo até que ela o tivesse exorcismado."[86][87] O homoerotismo de Romeu também pode ser encontrado em sua atitude diante de Rosalina, uma mulher que está distante e que não quer saber dele, e que não demonstra nenhuma esperança de descendência. Benvólio até argumenta que é melhor substituí-la por alguém que é recíproca. Os "sonetos de procriação" de Shakespeare descrevem um outro jovem que, como Romeu, está tendo dificuldades para ter filhos e que é homossexual. Os críticos dessa teoria acreditam que Shakespeare pode ter utilizado Rosalina como forma de expressar os problemas íntimos que os homossexuais enfrentam por conta de suas faltas de procriação.[88] Nessa perspectiva, quando Julieta diz "O que chamamos rosa [os críticos dizem que ela faz alusão à Rosalina], sob uma outra designação teria igual perfume",[89] talvez ela esteja levantando a questão de saber se existe alguma diferença entre a beleza de um homem e a beleza de uma mulher.[88]

[editar] História das encenações

[editar] Época de Shakespeare

Richard Burbage, o ator que mais provavelmente desempenhou o papel de Romeu pela primeira vez.[90]
Romeu e Julieta figura — juntamente com Hamlet — um espaço que a coloca como uma das peças shakesperianas mais encenadas, conhecidas e adaptadas em todo o planeta.[91] Suas diversas adaptações a transformaram numa das histórias mais famosas e mais vigorosas de toda a literatura e arte em geral.[91] Mesmo na época de Shakespeare a peça era extremamente popular. O acadêmico Gary Taylor dizia que ela era a sexta peça mais famosa de Shakespeare (as cinco mais famosas são, em ordem decrescente, Henrique VI, Parte 1, Ricardo III, Péricles, Príncipe de Tiro, Hamlet e Ricardo II), no período após a morte de Christopher Marlowe e Thomas Kyd, mas antes da popularidade de Ben Jonson, que era o dramaturgo mais prestigiado de toda a Londres na época de Shakespeare.[92]
A data da primeira encenação da peça é desconhecida. O Primeiro Quarto (Q1), impresso em 1597, diz que "ela tem sido muitas vezes encenada e adquirido um grande público", o que nos dá a pista de que se realizaram encenações antes dessa data.[92] O Lord Chamberlain's Men foi certamente o primeiro grupo a encená-la.[92] Além de sua forte ligação com Shakespeare, William Kempe é nomeado no Segundo Quarto (Q2) como Pedro numa linha do Ato V.[90] Richard Burbage foi provavelmente o primeiro ator a fazer Romeu, já que ele era o líder da companhia e desempenhava os papéis dos protagonistas, e Master Robert Goffe (um homem) foi provavelmente a primeira Julieta, uma vez que na época as mulheres eram proibidas de desempenharem qualquer tipo de papel.[90] Através dessa formação, acredita-se que a primeira estréia da peça aconteceu no "The Theatre", com outras produções realizadas posteriormente no "The Curtain".[93] Além disso, Romeu e Julieta trata-se de uma das primeiras peças shakesperianas a serem encenadas fora da Inglaterra: uma breve versão da obra foi produzida em Nördlingen no ano de 1604.[94]

[editar] Restauração e século XVIII
Todos os teatros ingleses foram fechados pelo governo puritano em 6 de Setembro de 1642.[95] Após a restauração da monarquia em 1660, duas companhias patentes de teatro (a Duke's Company e a King's Company) se uniram, e o repertório teatral ficou dividido entre as duas.[95]

Mary Saunderson, provavelmente a primeira mulher a ser Julieta profissionalmente.[96][97]
William Davenant, da Duke's Company, encenou uma adaptação de 1662 em que o ator Henry Harris desempenhou o papel de Romeu; Thomas Betterton era Mercúcio, e a esposa de Betterton, Mary Saunderson, foi Julieta — ela foi provavelmente a primeira mulher a encenar o papel profissionalmente.[96][97] Outra versão, posterior a essa, seguiu de perto a adaptação de Davenant e era produzida regularmente pela Duke's Company. Era uma espécie de tragicomédia feita por James Howard, onde os dois amantes protagonistas acabam sobrevivendo no final.[98]
The History and Fall of Caius Marius, de Thomas Otway, uma das adaptações de Shakespeare mais extremas da restauração, estreou em 1680. O enredo é totalmente diferente do original de Shakespeare: a cena é ambientada na Roma antiga, em vez de ser na Verona da Renascença; Romeu passou a ser chamado de Mário e Julieta de Lavínia; a rixa é entre os patrícios e os plebeus e Julieta/Lavínia acorda de sua aparente morte após Romeu/Mário morrer.[97] Essa versão de Otway foi um sucesso, e continuou a ser encenada nos setenta anos seguintes.[97] Sua inovação na cena final foi ainda mais duradoura, sendo utilizada ao longo de 200 anos: a adaptação de 1744 de Theophilus Cibber e de David Garrick em 1748 aproveitaram as variações da cena final criadas por Otway.[99] Essas duas últimas versões, no entanto, eliminaram elementos considerados inapropriados em suas épocas: Garrick, por exemplo, transferiu toda a linguagem referente a Rosalina para Julieta, com o objetivo de reforçar a idéia de fidelidade e de minimizar o tema do amor-a-primeira-vista.[100][101]
A primeira produção da peça conhecida na América do Norte foi amadora: em 23 de Março de 1730, um físico chamado Joachimus Bertrand anunciou no Jornal Gazeta, em Nova Iorque, que promoveria uma produção em que ele iria desempenhar o papel de boticário.[102] No entanto, as primeiras encenações profissionais na América do Norte foram as produzidas pela Companhia Teatral Hallam.[103]

[editar] Romeu e Julieta no século XIX

Os irmãos Cushman, Charlotte e Susan, como Romeu e Julieta em 1846, na produção que preservava o texto de Shakespeare.[97]
A versão de Garrick — que alterava grande parte do enredo — ficou bastante popular, sendo usada por quase um século.[97] Contudo, nenhuma encenação do texto original de Shakespeare havia regressado aos Estados Unidos até as irmãs Susan e Charlotte Cushman a representarem em 1845, ambos como Romeu e Julieta, respectivamente,[104] e então em 1847 na Grã-Bretanha com Samuel Phelps no Teatro Wells.[105] Os Cushman respeitaram a versão de Shakespeare, que teve início com uma sequência de oitenta e quatro encenações e sua representação de Romeu foi considerada como genial por muitos críticos: O The Times, por exemplo, escreveu na época: "Por muito tempo Romeu tem sido muito convencional. O Romeu da senhorita Cushman é criativo, vivo, animado, um ser muito ardente."[106] A Rainha Vitória, por sua vez, escreveu em seu jornal que "ninguém poderia imaginar que ela era uma mulher".[107] O sucesso dos Cushman quebrou a tradição estabelecida primeiramente por Garrick e preparou o caminho para as encenações posteriores começarem a se focar na história original de Shakespeare.[97]
Em meados do século XIX, os espetáculos profissionais das obras de Shakespeare (incluindo Romeu e Julieta) possuíam duas características particulares: em primeiro lugar, eram, geralmente, veículos que os atores encontravam para adquirir maior prestígio em suas carreiras, com o auxílio de papéis secundários muitas vezes marginalizados para dar maior destaque e foco aos personagens (e principalmente aos atores que os desempenhavam) centrais;[108] em segundo lugar, eram "pictóricos", cuja ação passava-se em espetaculares e elaborados palcos (exigindo longas pausas para a mudança de cenas) onde se usava frequentemente a técnica de tableaux.[108] Henry Irving produziu Romeu e Julieta em 1882 no Teatro Lyceum (ele próprio era Romeu e Ellen Terry era Julieta) cuja encenação ficou caracterizada como "o arquétipo do estilo pictórico."[109] Em 1895, Johnston Forbes-Robertson assumiu o lugar de Irving, e lançou as bases para uma imagem mais natural de Shakespeare que continua a ser popular ainda hoje, evitando a ostentação que Irving fazia e retratando os diálogos poéticos como uma prosa realista cujo objetivo era evitar os desempenhos melodramáticos.[110]
No Japão, George Crichton Miln produziu talvez a primeira encenação profissional da peça no país: sua companhia de teatro excursionou por toda a Yokohama em 1890.[111] Ao longo do século XIX, Romeu e Julieta tinha sido uma das peças mais populares de Shakespeare, se formos nos focar ao número de encenações profissionais que se realizaram dando novas versão à peça.[112] No século XX, a obra passaria a ser a segunda mais popular de Shakespeare, atrás somente de Hamlet.[112]

[editar] Romeu e Julieta no século XX

Paulo Porto e Sônia Oiticica como Romeu e Julieta, na produção mais prestigiada da peça no Brasil.
Ainda que não-profissionalmente, em 1904 a peça já era encenada no Brasil, em São Paulo, tendo Eurico Cuneo na direção e, entre o elenco, encontravam-se a atriz Itália Fausta.[113] Com a produção do Teatro Universitário, em 1945, no Rio de Janeiro, Nicette Bruno encenou a peça ao lado de outros nomes como Sérgio Britto e Sérgio Cardoso, na direção de Esther Leão.[114] A versão brasileira que merece destaque, contudo, é a de 1938, produzida no Teatro São Caetano, também no Rio de Janeiro, que contava com um elenco com nomes como Antônio de Pádua, Paulo Ventania Porto e Sônia Oiticica (estreando nos palcos).[115] Nesta produção, Itália Fausta (a que era Julieta na encenação de 1904), dirigiu e coordenou o texto traduzido por Domingos Ramos, contando com a trilha sonora do músico F. Chiafitelli.[115] Tal versão — que antecipou em vários procedimentos o advento da encenação moderna em território brasileiro —[116] conquistou, em particular, o público e a crítica da época (tanto mineira quanto paulista), além de receber diversos prêmios nacionais e internacionais, como também se apresentar em Londres, Alemanha, Madri, e no próprio Globe Theatre, onde a companhia teatral de Shakespeare fez as primeiras apresentações de suas obras.[116] Por interpretar Julieta nessa produção, Sônia é conhecida hoje como a primeira atriz brasileira a desempenhar o papel.[117] Além disso, sua interpretação lhe rendeu um enorme prestígio nos palcos brasileiros.[117] Houve uma recontextualização dessa produção, dirigida por Gabriel Villela 54 anos depois.[116]

John Gielgud, que estava entre os atores mais famosos do século XX a interpretarem Romeu, Frei Lourenço e Mercúcio no palco.
Em 1935, John Gielgud realizou uma produção no Noël Coward Theatre onde ele era Romeu e Laurence Olivier era Mercúrio, embora ambos trocassem de papéis durante o prazo de seis semanas de encenação, com Peggy Ashcroft como Julieta.[118] Gielgud usou uma combinação acadêmica dos textos do Q1 e do Q2, organizando a locação e os figurinos para tentar fazer sua encenação ficar o mais próximo possível das produções que eram feitas no teatro isabelino.[118] Seus esforços tiveram um enorme sucesso de bilheteria, e legaram às próximas produções um certo realismo histórico.[119] Olivier, mais tarde, comparou seu desempenho com o de Gielgud, e disse: "John, completamente espiritual, inteiramente espirituoso, era o auge da beleza, um resumo de todas as coisas abstratas; e eu era como todos os da Terra, com sangue, humanidade… Sempre senti que John havia perdido o lado inferior ou humano das personagens, e isso me fez assumir essa outra parte… Mas seja lá como foi, quando eu estava desempenhando Romeu e carregava uma tocha, eu tentava vender o realismo que existe em Shakespeare."[120]
Em 1947, a versão de Peter Brook marcou um estilo diferente de encenar Romeu e Julieta: ela se preocupava menos com o realismo, enquanto voltava sua atenção a adaptar uma produção que falasse diretamente com seu mundo moderno.[121] Quanto a isso, Brooke relatou certa vez: "Uma produção só é correta no momento de sua correção, e só é boa no momento de seu sucesso."[121] No texto da sua produção teatral, Brooke excluiu a reconciliação final das duas famílias.[122]
Ao longo do século XX, as audiências, influenciadas pelo cinema, tornaram-se cada vez menos dispostas a aceitarem atores distintos e mais velhos do que atores juvenis e adolescentes para encenaram a dupla protagonista de amantes.[123] Um exemplo significativo de elenco juvenil foi na produção do Old Vic, realizada por Franco Zeffirelli, em 1960, com John Stride e Judi Dench, que serviu como base para seu famosíssimo filme de 1968.[122] Zeffirelli baseou-se em algumas idéias fixadas por Brooke, e, com isso, retirou cerca de um terço do texto da peça, a fim de torná-lo mais acessível e adequado à sua produção.[122] Numa entrevista ao The Times, Zeffirelli declarou o seguinte: "Na peça, o tema do amor e da desagregação entre duas gerações possui uma relevância extremamente contemporânea."[124]
Encenações mais recentes definiram, de certa forma, o modo contemporâneo de produzir Romeu e Julieta: em 1986, por exemplo, a Companhia Real de Shakespeare colocou o enredo da peça numa moderna Verona, substituindo punhais ou espadas por canivetes, os bailes e as cerimônias tradicionais por festas de rock, enquanto Romeu comete suicídio através de uma agulha hipodérmica.[125] Em 1997, a Livraria Folger de Shakespeare, que reúne uma vasta coleção impressa das obras do dramaturgo, produziu uma versão colocando o enredo num mundo suburbano, onde Romeu pula a churrasqueira do edifício de Julieta para encontrar-se com ela, e onde também Julieta descobre a morte de Tebaldo quando estava em sua classe na escola.[126]
Por vezes, a peça atribuiu uma locação histórica em seu enredo, permitindo ao público refletir sobre conflitos subjacentes: um exemplo são as adaptações que foram fixadas no meio do Conflito israelo-palestino,[127] no apartheid da África do Sul,[128] e no rescaldo do Pueblo Revolt.[129] Da mesma forma, Peter Ustinov, em 1956, adaptou a peça (agora sob o nome de Romanoff e Julieta) para um lado cômico, cuja locação é um fictício país da Europa que está nas profundezas da Guerra Fria.[130] Em 1980, uma versão revisionista de Romeu e Julieta incluiu um final feliz na trama, onde Romeu, Julieta, Mercúrio e Páris não morrem, e onde Benvólio, disfarçado de mulher, diz que o último desses quatro é sua verdadeira paixão.[131] Joel Calarco, em seu R & J de Shakespeare, adapta a trama para um conto moderno de dois adolescentes homossexuais que se amam.[132]

[editar] Influência artística

[editar] Literatura e arte
Romeu e Julieta atribuiu uma profunda influência na literatura posterior a ela. Anteriormente, contudo, a trama nunca tinha sido vista como digna de tragédia.[133] Nas palavras de Harold Bloom, Shakespeare "inventou a fórmula pelo qual o elemento sexual ficou associado com o elemento erótico quando atravessa as sombras da morte."[134] Das obras de Shakespeare, Romeu e Julieta tem gerado as mais variadas adaptações, sejam em trabalhos produzidos em versos narrativos ou em prosa, e também em drama, ópera, orquestra e balé, cinema, televisão e pintura.[135] Na língua inglesa, a palavra "Romeu" se tornou sinônimo de "amante masculino".[136]

Capa original de Inocência (1872), de Visconde de Taunay: a obra é considerada "O Romeu e Julieta sertanejo".
Romeu e Julieta foi parodizada na época de Shakespeare: em As Duas Furiosas Mulheres de Abingdon (1598), de Henry Porter, e em Blurt, Master Constable (1607), de Thomas Dekker, existe a cena da varanda, onde uma heroína virgem diz palavras indecentes.[137] Em outra perspectiva, a peça shakesperiana influenciou, mais posteriormente, outros trabalhos literários, como Nicholas Nickleby, de Charles Dickens.[138] Em Portugal, Camilo Castelo Branco publicou, em 1862, Amor de Perdição, considerada uma espécie de "Romeu e Julieta lusitano".[139] Talvez isso se deva pelo fato da obra pertencer ao Ultrarromantismo português,[139] tendo similaridades com a peça shakesperiana no sentido de narrar a inimizade entre as famílias de Simão e Tereza, que se amam perdidamente, e acabam tendo um fim trágico.[140] Exatamente dez anos após a publicação de Amor de Perdição, era publicado Inocência, romance regionalista do Visconde de Taunay, que possui muitas conexões com a obra de Castelo Branco (como a personagem Inocência ter sido inspirada em Teresa).[141] A obra de Taunay — além de abrir cada capítulo com citações de Goethe, Rosseau, Cervantes, Ovídio, Molière, Walter Scott, Eurípedes, e do próprio Shakespeare — é frequentemente chamada de "O Romeu e Julieta sertanejo".[142] Tanto o livro de Taunay como o livro de Castelo Branco possuem estruturas semelhantes à peça de Shakespeare: os protagonistas participam de um amor recíproco, porém impossível, e, além de terminarem num final trágico, possuem a ajuda de uma terceira pessoa que quer vê-los juntos.[142]
De todas as obras de Shakespeare, a peça dos dois amantes é um de seus trabalhos que mais foram ilustrados.[143] A primeira ilustração conhecida da peça foi uma xilogravura retratando a cena do túmulo,[144] que talvez pertencesse a Elisha Kirkall, cuja primeira impressão foi em 1709, numa edição das peças de William Shakespeare, produzida por Nicholas Rowe.[145] No século XVIII, a Galeria Boydell Shakespeare encomendou cinco pinturas da peça que retratassem cada um dos cinco atos da trama.[146] No século XIX, a moda de produzir encenações teatrais "pictoriais" levou a direções que se inspirassem nas pinturas produzidas especialmente para as cenas da peça, que, por sua vez, influenciou pintores a desenharem atores e cenas de teatro.[147] No século XX, os ícones visuais da peça derivavam das produções cinematográficas famosas.[148]

[editar] Cinema
Romeu e Julieta talvez seja a peça mais transportada para as estruturas cinematográficas de todos os tempos.[149] As mais famosas produções foram a produção de 1936, de George Cukor, que ganhou mais de um Oscar, a versão de 1968 do diretor Franco Zeffirelli, e Romeu + Julieta, de Baz Luhrmann. Essas duas últimas foram, em sua época, as produções que tratavam de Shakespeare que mais bateram recorde de vendas.[150] Romeu e Julieta foi filmada pela primeira vez na era do cinema mudo por Georges Méliès, embora seu vídeo esteja perdido hoje em dia.[149] A primeira versão cinematográfica da peça no cinema falado foi em The Hollywood Revue of 1929, onde John Gilbert e Norma Shearer interpretavam a cena da sacada.[151]
Shearer e Leslie Howard, com mais de 75 anos na soma das suas idades, desempenharam os amantes adolescentes na versão de 1936, de George Cukor. Tanto o público quanto os críticos reprovaram tal versão. O críticos consideraram o filme muito "artificial", ficando de fora assim como A Midsummer Night's Dream (1935) havia ficado um ano antes: liderando Holywood a abandonar as adaptações de Shakespeare por uma década.[152] Renato Castellani ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza por sua versão de 1954.[153] Laurence Harvey, como Romeu, já era um ator experiente nas telas.[154] Susan Shentall, contudo, como Julieta, era uma secretária anônima descoberta pelo diretor, que se disse interessado em contratá-la.[155]
O estudioso Stephen Orgel descreve o Romeu e Julieta de 1968, do diretor Franco Zeffirelli, como "cheio de beleza e juventude, com câmeras e luzes exuberantes, que contribuíram para a impressão da energia sexual e da boa aparência da peça."[148] Nesse filme, os protagonistas Leonard Whiting e Olivia Hussey já eram atores experientes.[156] Zeffirelli foi bastante elogiado por essa produção,[157] principalmente na cena do duelo onde a fanfarronice fica fora de controle.[158] O filme também criou certa controvérsia por conta da aparição do nu dos atores na cena da lua de mel,[159] principalmente pelo fato de Olivia Hussey, a Julieta, ter apenas dezasseis anos na altura em que o filme foi filmado.[160]
Baz Luhrmann, com seu Romeu + Julieta (1996) e sua trilha sonora, atraiu para os cinemas um público bastante jovem.[161] Mais obscura que a versão de Zeffirelli, o filme foca-se na "sociedade grosseira, violenta e superficial" da Verona Beach e Sycamore Grove.[162] Leonardo DiCaprio atuou como Romeu, e Claire Danes, como Julieta, foi elogiada pelos críticos por ter retratado com sabedoria a personagem embora sua pouca experiência nas telas, além de ter sido aclamada como "a primeira Julieta do cinema cujos discursos soaram de maneira espontânea".[163]
Em 2005, o brasileiro Bruno Barreto dirigiu a comédia O Casamento de Romeu e Julieta, que trazia Luana Piovani e Marco Ricca nos papéis principais. Nessa produção, que se passava em São Paulo, as famílias de cada um também eram rivais, mas pelo fato de que torciam por times diferentes: a família de Julieta torcia para o Palmeiras, enquanto que a família de Romeu torcia para o Corinthians.[164] Embora tenha sido livremente inspirado na peça, o filme também é baseado num conto de Mario Prata, "Palmeiras, Um Caso de Amor".[164] O filme recebeu críticas razoáveis, que não o consideraram um grande filme, mas "divertido, assim como é uma partida de futebol."[165] Outras críticas consideraram Ricca como um ator mediano na área da comédia, e que seu relacionamento com a Julieta de Piovani "deixa muito a desejar."[166]
Em 2006, High School Musical, da Disney, utilizou o enredo de Romeu e Julieta, substituindo as famílias rivais por duas "panelinhas" da escola.[167] Os diretores têm frequentemente utilizado personagens para encenarem determinadas cenas de Romeu e Julieta.[168] O conceito de dramatização da peça shakesperiana tem sido muito usada através dos tempos,[169] como aconteceu em 1998, com o lançamento de Shakespeare Apaixonado, do diretor John Madden, em que o personagem Shakespeare acaba finalizando a tal obra por conta de seu próprio amor por uma jovem.[170]

[editar] Indícios históricos
"Vê, descuidoso, na aflição tamanha,
Capelletti e Montecchi entristecidos.
Monaldi e Filippeschi, alvo de sanha."[171]
(Dante, A Divina ComédiaPurgatório, Canto VI, Linha 106)

"Casa de Julieta", em Verona, Itália, que atrai milhares de visitantes todos os anos.
Verona — cidade que Shakespeare escolheu para sua peça — trata-se das mais prósperas do norte da Itália.[172] A cidade atrai cada vez mais jovens, casais, e namorados, por ter ganhado a fama de "cidade de Romeu e Julieta".[172] Possuindo um patrimônio arquitetônico e histórico muito preservado, Verona carrega em seu território um anfiteatro romano, um castelo da Idade Média, palácios e igrejas medievais.[172] Além dessas atrações, e de outras, como o Castelvecchio, Verona possui a "Casa de Julieta" que, embora não carregue nenhuma prova de que os Montecchios e os Capuletos realmente tenham morado por ali, atrai muitos visitantes. A construção da casa se iniciou no século XVIII, e talvez tenha sido de propriedade dos Cappellos.[172] No interior da construção existe uma estátua de bronze de Julieta, afrescos da peça, e um balcão com um pouco da biografia de Shakespeare.[172] Criou-se a lenda de que dá sorte no amor tocar o seio esquerdo da estátua de Julieta.[172]
Na verdade, a questão sobre se Romeu e Julieta, e, consecutivamente, os Montecchios e os Capuletos, existiram, é antiga. Talvez um dos motivos da grande dúvida sobre a veracidade histórica da peça é o fato de que o enredo passeou pelos séculos até ser melhor aproveitado por Shakespeare,[173] como vimos na seção Fontes textuais. Há registros de que Giralomo della Corte, um italiano que viveu na mesma época de Shakespeare, afirmava que o relacionamento dos jovens amantes havia ocorrido em 1303, embora não se tenha certeza sobre isso.[173] O único elemento comprovado é que as famílias Montecchi e Capelletti realmente existiram, embora não se saiba se moravam na Península Itálica, ou se eram rivais.[173]
Outras fontes literárias que fazem alusões às duas famílias é A Divina Comédia, do italiano Dante Alighieri. Nesse poema, Dante cita os Montecchi e Capelletti como participantes de uma disputa comercial e política que se deram na Itália.[173] Em Dante, ambas as famílias estão no Purgatório, tristes, e desoladas.[171] Muitos estudiosos discordam que essas famílias tenham existido, mas o historiador Olin Moore acredita que seria um desígnio para dois importantes partidos políticos que eram rivais em território italiano: os Gibelinos e os Guelfos.[173] Outra fonte literária se encontra em Luigi da Porto (já citado em Fontes textuais), que também citava as famílias como rivais, e Lope de Vega, como também Matteo Bandello, que enriqueceu a fábula e o enredo.[174]
Não há nenhuma evidência quanto todas essas suspeitas, guardadas na literatura italiana e em Shakespeare. Mas as várias citações às duas famílias tem excitado o público e a crítica para investigarem sobre a questão. Para o histórico Rainer Sousa, "o amor trágico e desmedido de Romeu e Julieta parece instaurar um arquétipo de um amor ideal, muitas vezes, distante das experiências afetivas cotidianamente experimentadas."[173] Rainer ainda afirma que "talvez por isso, tantos acreditam (ou pelo menos torcem) para que um amor sem medidas como do casal shakespeariano tivesse acontecido."[173]

[editar] Notas
a. ^ Quarto: é um termo (usado na idade moderna) na impressão, que se refere ao tamanho de um livro, geralmente impresso sobre duas faces de grandes folhas de papel, medindo 23 cm por 30 cm, aproximadamente o tamanho da maioria das revistas de hoje em dia.

[editar] Referências

[editar] Fontes
Sobre o sistema que referencia alguma passagem do texto da peça: 3.1.55 (p. ex.) significa ato 3, cena 1, página 55. Acerca das outras notas abaixo, o(s) nome(s) do(s) autor(es) aparece(m) antes de parênteses que contém o número da edição e, consecutivamente, o(s) número(s) da(s) página(s) correspondente(s) à fonte. Para avaliar as obras que foram utilizadas como fontes, dirija-se à subseção bibliografia.
Gibbons (1980: 80); Levenson (2000: 139-140); Spencer (1967: 51-52). Essa seção lista somente as personagens principais e as secundárias. Contudo, a peça possui outros personagens: cidadãos de Viena, músicos, oficial, mascarados, pajens. Páris é uma personagem de papel muito pequeno, como o primo velho de Capuleto. Rosalina, embora uma personagem importante, não aparece em cena e, por isso, não é listada na relação de personagens.
2,0 2,1 2,2 2,3 Shapiro (1964: 498–501).
Romeu e Julieta, I.0.1.
Romeu e Julieta, III.i.72