segunda-feira, 23 de março de 2009

Resiliente: o ser humano elástico

No estica e puxa do dia-a-dia profissional, está em vantagem competitiva quem muda, deforma, porém, retorna ao seu ser essencialPor José Luiz TejonResiliência, segundo o dicionário Aurélio, é “a propriedade pela qual a energia armazenada em um corpo deformado é devolvida quando cessa a tensão causadora de tal deformação elástica”. Muito bem, mas o que são os seres humanos “resilientes”? Como são essas pessoas e qual é a importância desse talento no diferencial competitivo de um profissional?
Para mim, é algo parecido com a capacidade que temos de voltar aos batimentos cardíacos normais depois de um esforço físico concentrado. Significa, por outro lado, termos a consciência de que, no exercício das nossas atividades, sempre viveremos situações “elásticas”, ou seja, de alto esforço armazenado e empregado em dados momentos vitais.
Como elásticos, o talento resiliente nos dá excelente capacidade de irmos aos extremos da ruptura e de retornarmos ao nosso eixo quando é suspensa a “tensão causadora”. Em outras palavras, não ficamos eternamente deformados, e, melhor ainda, não rompemos facilmente. Esticamos, mudamos, nos deformamos, porém, retornamos ao nosso ser essencial…
Para um profissional, em qualquer área de atuação onde o imprevisto, as falhas locais e as alterações comportamentais humanas podem provocar o êxito ou o fracasso de um acontecimento, a resiliência é um atributo fundamental. Ao mesmo tempo, um profissional que precisa atuar ligado fortemente ao seu entorno deve operar com intensa empatia nas cargas humanas para não perder a “temperatura” ou se ausentar da atmosfera existente. E, por outro lado, deve manter sempre o domínio racional do seu papel para a tomada competente de decisões. Estica no calor das emoções, porém evita tomar decisões “deformadas”.
Em qualquer processo de liderança, o talento resiliente é essencial para pensarmos e repensarmos os rumos dos projetos, caminhando em linha com os acontecimentos, ou melhor, “esticando-se” para eles.
Na minha particular experiência de vida, onde fui submetido a uma fortíssima deformação física, por uma queimadura na face quando criança, exercitei o significado da resiliência na “própria pele”. Se a deformação causada tomasse a forma final da minha vida, eu tomaria decisões em estado alterado e teria um resultado completamente doentio. Ao ir ao fundo desse “esticamento” e retornar para a minha essência, consegui aprender com ela, incorporar reflexões e dominar procedimentos a partir do meu legítimo eu, a verdade interior, ou um conjunto dessas verdades.
No trabalho, a resiliência foi da mesma forma sagrada, nas situações mais tensas e conflituosas. Como executivo e dirigente de empresas pude constatar que a resiliência empresta um talento diferencial e competitivo. Compreender opostos, negociar pontos de vista distintos, tratar objeções, obstáculos. Operar em situações ambientais desfavoráveis, como novos países, culturas, costumes, valores, negócios em ascensão ou em decadência, concorrentes, utilizar a matéria prima disponível para alterar resultados e criar soluções. Isso tudo poderia estar compreendido dentro desse talento “resiliente”.
Somos elásticos, deformamos, alteramos, porém preservamos sempre a capacidade de retorno ao estado original. A resiliência é uma força decisiva do princípio evolutivo do ser humano e é fator fundamental da nossa sobrevivência sob condições fora da normalidade. O Universo é normal? O universo conhecido é resiliente, na ordem ou no caos. O ser humano elástico é o mais preparado para competir e ser feliz no mundo contemporâneo.
José Luiz Tejon é diretor da Oesp Mídia, autor de O vôo do Cisne (Editora Gente), mestre em Educação, Artes e História da Cultura pela Universidade Mackenzie.
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