segunda-feira, 27 de abril de 2009

A história dos objetos na cenografia

Publicado por Cyro Del Nero às 8:14 pm em Teatro

Os objetos de cena sempre foram definidos pelo diretor em união com o trabalho do cenógrafo que então vai definir volumes e cores e, sobretudo locais onde estes deveriam estar.
Foi Antoine no século XIX quem recusou objetos pintados e truques ilusionistas exigindo objetos reais, materiais trazendo sinais de sua existência anterior, de um passado reconhecível e táctil.
Efeitos sim, mas verdadeiros. Antoine nos revelou a teatralidade do real. Entretanto em grandes escalas isso não é possível. Por exemplo, as ondas fictícias do rio Reno em encenação de Bayreuth sob a direção e a cenografia de Wieland Wagner. Foi a luz que fez o rio mover-se. Nem uma gota do próprio entrou no palco, naturalmente
Mas Antoine foi mais longe. Colocou carne crua pendurada no palco no espetáculo Os Açougueiros em 1888. Um pouco ingênuo disseram. No espetáculo moderno que foi A Casa de Chá do Luar de Agosto havia uma rubrica solicitando um Jeep no palco. Mas o compromisso dessa teatralidade do real é muito grande.
Muitas vezes é disfarçada a falta de importância do objeto de cena pintando-o apenas. Se você o pintar ele não sairá da parede. Mas se você coloca na parede de um cenário uma vistosa e real espingarda, é necessário que um ator dê um tiro no segundo ato.

O Teatro como o exercício da existência

O teatro é feito de uma pessoa que representa uma segunda pessoa que é olhada da platéia por uma terceira pessoa: essas três pessoas são: o ator, a personagem e o público.
O ator tem a capacidade de imaginar como essa terceira pessoa na platéia, o público, reagiria enquanto ele representasse. Para tanto ele projeta mentalmente sua personagem e com ela, a si mesmo.
Essas introjeções e projeções simultâneas nos lembram Thomas Mann dizendo que existe uma afinidade natural entre arte e a patologia. O próprio Salvador Dali dizia que ele e um louco eram iguais, com a diferença de que ele não era louco.
Uma das armas do ator, a primeira antes do espetáculo, é o espelho que permite que o ator e sua personagem vejam a imagem que será vista pelo público. Diante de um espelho ele sabe o efeito que causará. É um jogo profundamente humano e nós estamos sempre assim diante do espelho examinando que efeito nossa persona causará aos outros.
Representamos nos vestindo, nos penteando, nos maquiando, sorrindo e falando para o espelho e depois saímos à rua para o público do grande teatro do mundo. O teatro além de ser uma explicação das relações é também o exercício da existência.
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Cyro del Nero é Professor Titular da Cadeira de Cenografia e Indumentária Teatral do Departamento de Artes Cênicas, Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de Artes, atuando principalmente nos seguintes temas: Cenografia, Indumentária Teatral, Ópera, Televisão, Moda e Artes Gráficas.

A Arte de Representar

Geisa Mueller
Dramaturga e diretora, formada pelo Curso de Formação do Ator da UFPR. Diretora do Grupo de Teatro Uninter
Na arte do ator está contido o verbo esvaziar. Através do treinamento artístico o ator busca esvaziar-se de sua própria identidade e assumir, como suas, as prerrogativas e aspirações de uma personagem, de um ser que "não existe" porque pertence ao campo da ficção. A maneira como cada profissional consegue conduzir o mecanismo físico para acionar tal estado de disponibilidade (de entrega) é desenvolvida durante os ensaios e na observação da vida cotidiana. Desse modo, o ator se prepara para estar em cena e compartilhar sua arte com a platéia, valendo-se, portanto, dessa técnica, pessoal e intransferível em que cada indivíduo tem seu próprio tempo de descobertas. Entretanto, para que haja descobertas é necessário haver pesquisa, uma vez que o processo criativo deve possibilitar ao ator elaborar as conexões internas que irão auxiliá-lo tanto no desempenho de seu ofício quanto para transformar-se no instrumento de sua arte e, da arte, ser um instrumento. Portanto, o ator deve projetar suas expectativas e ativar um dispositivo de alerta que o previna das ilusões que acompanham sua carreira, com o propósito de sempre exercitar a autocrítica, o que é o princípio essencial. Algumas vezes não conseguimos enxergar limitações e dificuldades por estarmos atados a pensamentos equivocados sobre nossa habilidade, ilusões criadas por nós mesmos, que nem sempre são coerentes com o nosso estágio de aprendizagem. Também devemos levar em conta os rangidos que produzem as críticas, pois o ser humano, em geral, ainda possui pouca destreza na área da comunicação e, por esse motivo, as palavras acabam tendo um peso ou assumindo uma significação que não é adequada ao contexto no qual foram apresentadas. A crítica, no meu ideal, serve para construir e complementar uma idéia que está em construção. É muito bom promover esse exercício, pois, se as pessoas não se confrontarem com possíveis grunhidos, como poderão transformá-los em canto? Porém, como os ruídos, nesse campo (da comunicação humana), ainda são melindrosos, é necessário que o artista se utilize de filtros para separar a porção nobre e a aplique em seus interesses profissionais. Os filtros são construídos junto com o trabalho, através do embasamento, da pesquisa incessante que origina o conceito, o teor justificado de sua obra. O canto mavioso da representação só poderá ser ouvido e ter sentido quando calar a “voz do ego”, quando a flor do deserto ocupar o lugar do coração. Somos seres famintos por essência e por ritual, mas também somos humanos e, inseridos nessa condição, somos nós que preparamos e desarmamos nossas próprias esparrelas.

O ARTISTA

"É monstruoso dizer-se que o artista não serve a humanidade. Ele foi os olhos, os ouvidos, a voz da humanidade. Sempre foi o transcendentalista que passava a raios X os nossos verdadeiros estados de alma."

Anais Nin

A VIDA É UM TEATRO

Vivemos numa eterna interpretaçãode uma história que não pára de ser escrita...Onde os atores mudam,as histórias ficam e o próximo ato ninguém ensaiou...Vivemos sem saber o que vai ser da vidae como seremos retirados de cena...Não sabemos se entraremos em outroteatro para reapresentarmos alguma peça...Mas sabemos que cada peçaque reapresentamos fez efeito em alguém...".
Texto de Fernando Horta Franklin

Os Túneis do Passado

Os Túneis do Passado Autor: Aline Silva Dexheimer


Sempre falo que somos seres vivendo em constante mutação. O que fomos ontem e o que estamos sendo agora neste exato minuto jamais serão iguais ao que nos tornaremos no minuto seguinte ou na manhã seguinte, portanto temos que estar sempre atentos às nossas mudanças para acompanharmos estas nossas transições constantes. Por isso, no meu entender nosso maior objetivo de vida é estar sempre pronto para "correr" atrás, de forma positiva, destes nossos "eus" que estão se formando e, minimizar cada vez mais este tempo de ajustes entre os "eus" velhos e os "eus" novos. Ao contrário do que pode parecer, não é uma tarefa chata ou cansativa. Pode ser muito divertido, basta que estejamos sempre prontos para recomeçar e prontos para nos aceitar. Primeiro, criamos os hábitos, depois de estabelecidos, eles nos fazem sem ao menos percebermos. Esta é a grande lição de viver o "Aqui e o Agora", pois estamos sempre nos acompanhando e nos desligando das coisas, dos momentos, mesmo que maravilhosos. Os momentos passados podem permanecer num cantinho do nosso cérebro sim, mas jamais ser visitados apenas com o intuito de lamentação ou arrependimentos, visite-os sim, pois este processo não se trata de esquecê-los, pois seria como esquecer-se de si mesmo. Eles são importantes, pois nos fizeram a pessoa que somos hoje, entender por onde passamos e como nos formamos hoje. Este cantinho do passado deve ser visitado, mas lembre-se ele não pode ser ocupado por muito tempo. Imagine-o como um "drive thru" das experiências passadas. Você visita seu passado no seu "túnel do passado particular" e o vê de dentro de um carro, escolhe no menu o que quer "VER", lembre-se que é sempre melhor do que "REVIVER", a não ser que o seu objetivo seja reviver algo positivo para adquirir energia ou lembrar-se de que é capaz de fazer qualquer coisa.

A Caixa Mágica

Tradução livre docapítulo “Practicing the seventh Principle” do livro “Your Heart’s Desire” de Sonia Choquette
por Aline Silva Dexheimer

Criando uma caixa de alquimia ou caixa mágica

Os seus sonhos e desejos são sagrados e santos porque eles são oriundos do seu EU mais autêntico, a sua alma. Como qualquer ato de fé, praticado por todas as religiões pelo mundo a fora, desde o início dos tempos, é necessário um ritual para ilustrar o comprometimento da sua alma com o seu sonho.
Este ritual me foi ensinado por uma amiga chamada LuAnn Glatzmaier. Ela me mostrou como criar uma caixa de alquimia. Alquimia significa transformação e, esta caixa irá transformar a sua energia em realidade.
Fazer uma caixa de alquimia é uma grande diversão e estimula toda a sua energia criativa enquanto você trabalha. O processo leva certo tempo e preparação, cada passo significa uma decisão adiante para alcançar o seu Desejo do coração. Não se preocupe em não ter tempo. Cada passo é perfeitamente administrável. A atividade toda pode ser concluída de dez a quinze minutos por dia em uma semana.Deixe-me mostrar como.
Fase Um
Primeiro você precisa de uma caixa com uma tampa. Pode ser uma caixa de sapato ou qualquer outra, mas que não seja muito rasa. Pode ser dessas que tem no correio. Olhe no seu guarda-roupa ou nas suas coisas guardadas. Deve haver uma caixa certa em algum lugar, esperando por você.
Junte tesoura, cola, papéis coloridos, coisas para decorar a sua caixa, ou qualquer outra coisa que possa trazer uma energia mágica para a sua caixa. Mantenha os seus olhos bem abertos para os itens especiais que possam representar o seu sonho. Você vai perceber que as coisas simplesmente vão surgir no seu caminho. Por exemplo, você pode receber um cartão postal ou ver uma foto em uma capa de revista no supermercado que pode representar perfeitamente o seu sonho.
Uma vez que você esteja comprometido em criar a sua caixa, o Universo se unirá entusiasticamente para lhe oferecer idéias e materiais. Esta fase do projeto é como uma caça ao tesouro e você será levado diretamente pela sua alma e seu espírito que o guiará para coisas maravilhosas. Permita-se dedicar a esta tarefa pelo menos por uma semana para obter todo o material. Desta maneira você terá sete dias completos de uma experiência mágica.
Guarde todos os seus artigos em um lugar especial à medida que você os conseguir.
Algumas coisas que você pode colocar na sua caixa podem ser:
Figuras sagradas (anjos, santos, Buda, estrelas de Davi);
Fotos de seres celestiais (anjos, fadas, espíritos da terra);
Fotos de animais (pássaros, leões, cães, cavalos, gatos);
Fotos de paisagens que representam os lugares que você deseja viajar;
Fotos de pessoas parecidas com as quais você deseja encontrar;
Imagens aparelhos que você gostaria de obter (câmeras, computador, ferramentas de jardim, instrumentos musicais);
Fotos de pessoas trabalhando nas áreas que você gostaria de trabalhar.
Você pode recortar figuras de revistas. Você pode encontrar imagens em cartões de presentes. Você pode tirar fotocópias de imagens de cartas de taro, ou melhor, ainda, você pode desenhar a sua própria.
Uma outra fonte maravilhosa para decorar a sua caixa de alquimia ou caixa mágica é procurar nas lojas de crianças ou papelarias aqueles adesivos autocolantes que são vendidos. Há literalmente centenas que você pode encontrar para representar a experiência que você está criando, tais como, corações, casas, sinais de dólar, instrumentos musicais, anjos, fadas, flores, animais, cometas e estrelas.
Você pode decorar a sua caixa inteira, dentro e for simplesmente usando adesivos. Você pode fazer uma montagem de palavras e colá-las pela caixa. Você pode colar brilhos, contas de plástico, penas ou papel de seda colorido.
Você pode colocar uma foto sua em um momento feliz e colar dentro da sua caixa. Você pode também querer colar um pequeno espelho dentro da caixa para refletir quem você é e o quanto você é importante.
Nas lojas de materiais escolares pode ser uma fonte maravilhosa de materiais. Lá você pode encontrar colas coloridas, fitas adesivas brilhantes e coloridas, lantejoulas e etc. Você pode obter letras de alfabeto e criar suas próprias mensagens dentro da caixa.
Mas sua caixa não precisa ficar limitada apenas pela decoração das suas superfícies. Você pode por coisas dentro da sua caixa para criar energia, tais como:
Folhas de lavanda e rosas secas (calmante e amor);
Folhas de cedro secas (para segurança);
Talismãs religiosos e metafísicos (para inspiração espiritual como rosários, anjos, imagens pequenas de Buda, fotos de Cristo, estrelas de Davi, imagens de animais);
Réplicas de seus desejos (brinquedos de crianças, casas, dinheiro, corações);
Incensos para suavizar e invocar o senso do Divino ou sagrado;
Óleos essenciais para criar um aroma especial;
Moedas, fotos, alianças de casamento de brinquedo, enfim, qualquer coisa que represente o seu sonho.
Aqui algumas idéias de meus alunos:
Dinheiro, falso ou real, se você quiser prosperidade;
Um bebê de plástico se você deseja um filho;
Carros de brinquedo se você deseja um carro novo;
Mini-livros se você deseja voltar à escola;
Bolo de casamento com os noivos em miniatura se você deseja casar;
Fotos pequenas do sol se você deseja saúde e força de vida.
Fase dois
Na fase dois você vai realmente montar a sua caixa de alquimia ou caixa mágica. Esta fase deve durar de duas a três horas ininterrupta, portanto planeje bem o seu tempo com antecedência.
Durante esta fase, leve o seu tempo e não comece se você não estiver realmente pronto. É muito importante criar certo grau de antecipação enquanto você se prepara para o trabalho.
Ajuda muito escutar uma música que acalme enquanto você faz a sua caixa. Desligue a TV, o telefone ou qualquer outra coisa que possa distraí-lo.
Experimente os materiais sem colá-los para tentar visualizar. Um excelente e bonito jeito de cobrir a sua caixa é escolhendo papeis de seda colorido. Você pode escolher a cor que você desejar e usar colas coloridas com pinceis. Outro jeito de decorá-la seria usando fotos que simbolizem o desejo do seu coração a partir de revistas e livros e colá-los dentro e fora da caixa.
Uma vez que você tenha decorado a caixa, você deve colocar dentro os seus talismãs mágicos e os elementos da terra. Esta é a hora de você colocar a sua lavanda, rosas, incensos ou qualquer outro item especial. (Dentro da minha caixa eu tenho um pássaro azul da felicidade de cristal, moedas do Egito, pedrinhas da Índia, cristais de Sedona, penas vermelhas para poder, uma vela branca para inspiração, um bombom para doçura, uma carta de tarô do Bobo da corte para surpresa e uma casinha do jogo banco Imobiliário para segurança, só para dar alguns exemplos).
Deixe sua criança interior vir à tona enquanto desenvolve este projeto.
Conte com a sua própria imaginação para obter imagens apropriadas e inspiradoras para você. Sincronização certamente fará uma parte de tudo isso e o que você necessitar vão surgir na sua mente.
Deixe toda esta atividade ser uma representação tridimensional simbólica do que a sua alma está trabalhando para criar em sua vida. Preste atenção nas suas emoções enquanto trabalha no seu sonho. Sinta você mesmo fortalecendo o seu sonho.
A tarefa de fazer a sua caixa de alquimia ou caixa mágica engloba tudo que você tem para realizar o seu sonho, focalização, fé, imaginação, comprometimento, intuição e amor. Além do entusiasmo que acompanha a tarefa e a criação de um céu mágico para os seus sonhos. Deixe esta segunda fase suavizar a sua alma, engajar o seu espírito criativo e celebrar seus sonhos à medida que eles forem ao encontro da sua realização.
Fase Três
Depois que você criou a sua bela caixa de alquimia ou caixa mágica para receber os seus sonhos mais íntimos, você esta pronto para a fase três.
Você precisará de uma ou duas folhas de um papel bem bonito e uma tesoura. Comece cortando a sua folha de papel em quatro pedaços. Em cada uma das quatro partes escreva o seu desejo do coração. Você pode escrever tantos desejos quanto quiser assumir a responsabilidade.
Então, deposite-os um de cada vez, dentro de sua caixa, fazendo a seguinte oração:
Divino Pai, Divina Mãe,
Eu deposito o meu sonho
Em suas mãos sagradas
Com a confiança de que o receberei realizado
Depois, coloque seus sonhos dentro desta caixa sagrada, fechando-a com a tampa, escondendo-a em um lugar onde ninguém possa manipulá-la.
Alguns dos meus clientes e estudantes me dizem que mesmo eles adorando a idéia de fazer uma caixa mágica, eles encontram dificuldades para motivar a si mesmos para efetivamente dar inicio ao trabalho. Isto é perfeitamente compreensível em um mundo, onde a criatividade e os momentos de descontração como este são vistos como bobagens ou perda de tempo. Se você se deparar com um bloqueio na sua criatividade no momento que resolver fazer a sua caixa sagrada, convide um amigo, seus filhos, vizinhos para se juntarem a você neste projeto para trabalharem todos juntos. Qualquer coisa, quando compartilhada com o entusiasmo de uma outra pessoa torna a tarefa mais agradável. Você vai ficar surpreso com a boa vontade dos outros quando você os deixa fazerem parte de toda esta magia.
Se você preferir, pode comprar uma caixa pronta. Você pode até já ter uma caixa perfeita em sua própria casa. Olhe ao seu redor. Pode ser qualquer caixa que você consideraria atraente para o projeto. Se você não achar uma em sua casa, compre. Elas estão em qualquer lugar e são muito bonitas. Para aqueles que não conseguirem obter uma ou acharem muito difícil fazer a tarefa, aqui esta a minha ultima sugestão. Decore um envelope grande e use-o como o seu depósito sagrado de sonhos. O que realmente torna o processo mágico, não é a caixa ou o envelope, mas o propósito do mesmo que o torna tão especial.
Liberar seu espírito criativo e brincalhão é um componente muito poderoso no processo de criação de seus sonhos, mas de uma maneira que você se sinta bem. Trabalhos manuais, artesanatos, pinturas e todo este tipo de trabalho envolvendo esta tarefa são muito pessoais, tudo é válido para guardar os seus sonhos e entregar nas mãos carinhosas do Universo.
Meditação
Sente-se confortavelmente com suas costas eretas e seus pés rentes ao chão. Feche seus olhos e respire suave e naturalmente.
Imagine que a planta dos seus pés está se transformando em raízes, viajando profundamente no chão. Imagine, cada vez que você expirar, que você esta se transformando em uma bela e forte árvore.
Á medida que você inspira, imagine a si mesmo profundamente enraizado na terra. Veja a si mesmo solidamente suportado pela energia amável da terra.
Imagine que a energia da terra esta subindo pelo seu corpo, iniciando pelos pés e viajando por suas pernas e seu tronco, fluindo para os seus braços e para o seu coração e, continuando até o topo das suas cabeça e para fora, para o Universo sem fim.
Á medida que você expira, imagine todas as suas ansiedades e medos saindo do seu corpo por meio das raízes e fluindo pela terra. A cada inspiração, sinta esta força infinita, totalmente disponível para você.
Você não precisa fazer esforço para obter o que deseja. Saiba que você é parte do esquema divino de todas as coisas, portanto você e seu sonho estão sendo carinhosamente cuidados.
Relaxe com mais algumas respirações, e então, quando estiver pronto, lentamente abra os seus olhos.

Você não é perfeito!

E nunca vai ser! Sinto muito, mas é a realidade,
portanto, pare de tentar ser perfeito.
Simplesmente faça o que quer e tem que fazer!
E pronto.

Corporeidade da Voz: aspectos do trabalho vocal para o ator.


Publicado em:
ALEIXO, Fernando. Corporeidade da Voz - O Teatro Transcende - N. 12.
Blumenau: FURB, Divisão de Promoções Culturais, 2003.
ALEIXO, Fernando. Corporeidade da Voz: aspectos do trabalho vocal
do ator – Cadernos da Pós-Graduação IA / UNICAMP – Ano 6, Voluma 6
– No. 1, 2002.

Resumo:
A voz, quando entendida como corpo, ou seja, como um processo da ação das diferentes esferas da
organicidade (aspectos musculares, ossatura, sentidos, afetividade, memória, etc), adquiri uma
propriedade que reconhece a complexidade e as sutilezas particulares de sua criação.
No âmbito do trabalho do ator, tal entendimento possibilitará uma reflexão a cerca das
possibilidades vocais no trabalho criativo, que por sua vez, permite sistematizar um processo voltado para
o aperfeiçoamento técnico.
Apresentamos a seguir, algumas referências que norteiam as práticas da pesquisa Corporeidade da
Voz: proposta de uma vocalidade poética, desenvolvida no IA-UNICAMP, sob a orientação da Profa. Sara
Pereira Lopes.
Apresentação
O processo de desenvolvimento técnico vocal para do ator envolve aspectos amplos pois o
fenômeno da vocalidade no teatro, aplicação dos recursos vocais no processo criativo, se estrutura a partir
de fundamentos fisiológicos, culturais e poéticos (técnicas e linguagens). No centro deste processo, o ator
é o executor do código vocal e, por isso, concentra em si, naturalmente, o conteúdo a ser expresso, bem
como os meios materiais da comunicação oral. Esta condição impõe ao ator a necessidade de
conhecimentos técnicos e domínio sobre seus instrumentais físico, vocal e criativo.
Neste contexto, a preparação vocal do ator deve adotar procedimentos metodológicos
específicos, e fornecer referências para o estabelecimento de correspondências entre o aprimoramento dos
aparatos físico e vocal e a aquisição de uma propriedade para a aplicação técnica da voz na composição,
objetivando a conscientização e potencialização de seus recursos de expressão. Trata-se de uma trajetória a
ser percorrida, respeitando as características psico-físicas do indivíduo, para uma compreensão corporal do
processo de produção da voz e das suas possibilidades de empenho no desenvolvimento da vocalidade
poética.
Assim, considerando a voz como corpo - dimensão orgânica que dará plenitude aos
potenciais do ator, poderemos vislumbrar conquistas sensíveis no contexto da vocalidade no teatro.
Estabelecendo condições corpóreas favoráveis para a potencialização da voz
Este aspecto do trabalho objetiva sensibilizar corporalmente a voz. Para isso, poderão ser
desenvolvidas atividades que permitam reconhecer e trabalhar a fisicalidade da voz, estudando as
estruturas musculares e óssea da produção vocal, bem como a respiração e a ressonância.
Primeiramente, apontaremos o que podemos denominar de RE-edificação corporal. Tal
etapa refere-se ao conjunto de atividades voltadas para proporcionar um alinhamento direcional da
estrutura óssea do corpo (eixo), trabalhando equilíbrio e domínio do movimento, através do estudo sensível
de pequenas e grandes cadeias musculares e das articulações do corpo.
O uso correto do eixo vertical promove o equilíbrio do corpo sobre os pés, distribui o peso
igualmente sobre as duas pernas (apoios) e favorece o ganho de flexibilidade em todas as articulações,
bem como relaxamento e tônus musculares adequados à produção da voz.
A colocação postural que estabelece o alinhamento dos pés, joelhos, quadril, tronco,
escápulas, braços e cabeça, age sobre a circulação sangüínea, sobre a condições de tonicidades e tensões
musculares que poderão influenciar na respiração e, consequentemente, no processo de fonação e
articulação da fala.
No estudo da ressonância, contexto do corpo-sonoro, podemos considerar algumas
definições técnicas sobre ressonância. No dicionário, ressonância é definida como a propriedade ou
qualidade do que é ressonante; fenômeno físico pelo qual o ar de uma cavidade é suscetível de vibrar com
freqüência determinada, por influência de um corpo sonoro, produzindo reforço de vibrações. Já, num
enfoque da fonoaudiologia, ressonância é considerada como sendo o "uso adequado de algumas cavidades
ósseas supra e infraglóticas, que com a vibração do ar vão permitir uma maior projeção vocal".1
Respeitando essas informações para o trabalho, as atividades desta etapa poderão ser
encaminhadas a partir das diretrizes apontadas por Grotowski com relação à ressonância no trabalho vocal
do ator:
"(...) Para cada situação, e para a sua interpretação pela voz, pode-se tentar encontrar a ressonância
apropriada. Isto se aplica ao treinamento, mas não ao preparo do papel. Os exercícios e o trabalho criativo
não devem se misturar.(...) Meu princípio básico é o seguinte: não pense no instrumento vocal, não pense
nas palavras, mas reaja - reaja com o corpo. O corpo é o primeiro vibrador, a primeira caixa de
ressonância"2
O corpo humano, segundo Klaus Vianna, permite uma variedade infinita de movimentos,
que brotam de impulsos interiores e se exteriorizam através do gesto, compondo uma relação íntima com o
ritmo, o espaço, o desenho da emoções, dos sentimentos e das intenções.3 Tal afirmação, permite-nos
experimentar no trabalho do corpo-sonoro com o estudo das ressonâncias, os impulsos corporais geradores
de ações vocais.
Com isso, o exercício vocal com palavras e textos ganham uma dimensão sensível de
sonoridades corporais. Quanto a essa referência, Peter Brook apresenta, tomando como exemplo a
produção de Shakespeare, a seguinte afirmação:
"As palavras de Shakespeare são documentação das palavras que ele queria que fossem faladas, palavras
destinadas a sair em forma de sons, dos lábios de gente viva, com um tanto de entonação, de pausa, de
ritmo e gesto que deviam fazer parte integrante de significado verbal. Uma palavra não começa sendo uma
palavra - é o produto final iniciado com um impulso, estimulado por atitude e comportamento, por sua vez
ditados pela necessidade de expressão".4
Ainda, em relação ao trabalho vocal do ator, temos algumas preciosas referências deixadas
por pesquisadores teatrais da modernidade. Para aprofundarmos um pouco mais neste tema,
apresentaremos, resumidamente, alguns conceitos apontados por Stanislavski, Artaud, Brecht e Grotowski.
REFERÊNCIAS DOS CONCEITOS DE STANISLAVSKI EM RELAÇÃO A VOZ
O aspecto primeiro do estudo da voz, considerado no sistema de Stanislavski, é a
necessidade de treinamento sistemático do instrumental do ator, como forma de conquistar um controle
sobre o aparato físico e vocal.
Neste sentido, o aparelho vocal deve receber um tratamento que o torne capaz de, quando
na relação com o texto, quando na relação com a personagem, quando na relação com a cena, "reproduzir -
instantânea e exatamente - sentimentos delicadíssimos e quase intangíveis, com grande sensibilidade e o
mais diretamente possível."5
Reconhece que o ator não deve recorrer aos costumeiros procedimentos banais:
"E quanto mais conteúdo espiritual e sentimento eu punha na frase, tanto mais pesado e sem sentido ficava
o texto e mais inexeqüível a tarefa. Criava-se uma situação de violência que, como sempre, me levava a me
autoviolentar e contorcer-me em espasmos. A respiração fugia, a voz amortecida e rouca, seu diapasão se
reduzia a umas cinco notas, diminuía a sua força. Em vez de cantar a voz batia. Tentando dar-lhe mais
sonoridade, eu recorria involuntariamente aos costumeiros procedimentos banais dos atores, ou seja, ao
falso pathos, às cadências vocais, às fiorituras."6
Trata-se pois, sua proposta de formação, de um procedimento técnico que busca
desenvolver o potencial expressivo do aparelho vocal a partir de estudos de elementos como a dicção, o
canto, as entonações, o tempo-rítmo no falar, etc.
A apreciação de Stanislavski sobre as atividades técnicas do canto lírico reforça a
importância de exercícios para colocação da respiração e do som, e acrescenta a necessidade da procura de
melhores métodos para o desenvolvimento da fala a partir do aprofundamento da musicalidade da palavras:
"A Fala é música. o texto de um papel ou uma peça é uma melodia, uma ópera ou uma sinfonia. A
pronunciação no palco é uma arte tão difícil como cantar, exige treino e uma técnica raiando pela
virtuosidade. Quando um ator de voz bem trabalhada e magnífica técnica vocal diz as palavras de seu
papel, sou completamente transportado por sua suprema arte. Se ele for rítmico, sou involuntariamente
envolvido pelo ritmo e tom de sua fala, ela me comove. Se ele próprio penetra fundo na alma das palavras
do seu papel, carrega-me com ele aos lugares secretos da composição do dramaturgo, bem como aos da sua
própria alma. Quando um ator acrescenta o vívido ornamento do som àquele conteúdo vivo das palavras,
faz-me vislumbrar com uma visão interior as imagens que amoldou com sua própria imaginação criadora"7
Afirma que só depois de ter compreendido que as letras são apenas símbolos de sons, que
exigem a execução de seu conteúdo, é que se viu confrontado com o problema de aprender essas formas
sonoras a fim de melhor preencher o conteúdo.
Stanislavski estabelece fundamentos precisos sobre como desenvolver a voz do ator à
partir da busca da sensação das palavras:
"Não basta que o próprio ator sinta prazer com o som de sua fala, ele deve também tornar possível ao
público presente no teatro ouvir e compreender o que quer que mereça a sua atenção. As palavras e a
entonação devem chegar aos seus ouvidos sem esforços. Isso requer muita habilidade. Quando a adquiri,
compreendi o que chamamos a sensação das palavras. (...)Todo ator deve-se assenhorar de uma excelente
dicção e pronunciamento, deve sentir não somente as frases e as palavras, mas também cada sílaba, cada
letra"8
A partir dessas considerações é possível observar a consistência do processo de
estruturação de um sistema de abordagem para o treinamento da voz. Ainda que haja explícita a opção por
uma estética determinada com um forte acento na palavra, pode-se verificar que o objetivo é o
desenvolvimento da produção da voz e da possibilidade de criação da fala em diferentes contextos e
estilos:
"Sua função (fala), é transmitir por meio de palavras quer os sentimentos exaltados do estilo trágico, quer a
fala simples, íntima, graciosa, do drama e da comédia(...) Em cena, a função da palavra é a de despertar
toda sorte de sentimentos, desejos, pensamentos, imagens interiores, sensações visuais, auditivas e outras,
no ator, em seus comparsas e - por intermédio deles, conjuntamente - no público."9
A maestria do bem falar implica no excelente preparo físico e no entendimento de que uma
palavra não é apenas um som, é uma evocação de imagens, de significados. Para Stanislavski, o ator
quando estiver em intercâmbio verbal em cena, deve falar menos para o ouvido do que para a vista.
Depreende-se também deste sistema de abordagem que o ator deve compreender bem a
linguagem trabalhada para encaminhamento da criação verbal. Nessa perspectiva, esta criação da fala se
insere no conjunto de elementos técnicos sugeridos para a caracterização interna e externa da personagem.
Para Stanislavski o ator deve procurar estar sempre de "bem com a voz", pois como afirma:
"Estar de bem com a voz é uma benção não só para a primadona mas também para o artista dramático.
Sentir que temos o poder de dirigir nossos sons, comandar sua obediência, saber que eles forçosamente
transmitirão os menores detalhes, modulações, matizes da nossa criatividade."10
REFERÊNCIAS DOS CONCEITOS DE ARTAUD EM RELAÇÃO A VOZ
"Abandonando as utilizações ocidentais da palavra, ela [a linguagem de teatro] faz sortilégios com as
palavras. Ela empurra a voz. Utiliza vibrações e qualidades da voz. Marca ritmos alucinados. Martela sons.
Procura exaltar, entorpecer, encantar, estancar a sensibilidade."(Antonin Artaud - "Le Théâtre de la
Cruauté, premier manifeste")11
Artaud formula, no início do século XX, alguns conceitos com relação a voz que a
consideram um instrumento musical a serviço de um novo teatro. No estudo técnico A encenação e a
metafísica, Artaud aponta seu manifesto contra o teatro essencialmente dialogado construído por uma
dramaturgia:
"(...) como é que o teatro ocidental não enxerga o teatro sob um outro aspecto que não o do teatro
dialogado? (...) o diálogo -coisa escrita e falada - não pertence especificamente a cena, pertence ao livro."12
No seu entender, a voz deve, através de qualidades e vibrações de sons não habituais,
comunicar a sensibilidade do espectador, pois a cena é um lugar físico e concreto que necessita ser
preenchido com a sua linguagem concreta. Esta linguagem, segundo Artaud, consiste de tudo que ocupa a
cena, de tudo aquilo que pode se manifestar e exprimir materialmente numa cena.
Neste sentido, é necessário a exploração de toda a plenitude e materialização física da voz,
tendo como princípio as vibrações, as modulações, as evoluções e os diferentes registros vocais.
Deste modo, as palavras devem assumir na interpretação outros significados com base na
sonoridade e movimento da voz.
Esta amplitude vocal a ser conquistada assenta-se no desenvolvimento das potencialidades
corporais do ator. No estudo técnico um atletismo afetivo, Artaud fala da necessidade do ator de tomar
consciência de uma "espécie de musculatura afetiva" que corresponda às localizações físicas dos
sentimentos.
Poucas vezes, especificamente, Artaud fala do trabalho do ator. É evidente, porém, que a
exigência técnica de sua poética focaliza o trabalho corporal e vocal, pois, como ele afirma, o ator que não
faz gestos, se mexe, sem dúvida brutaliza as formas, mas por trás dessas formas, e através de sua
destruição, ele alcança aquilo que sobrevive às formas e produz a continuação delas.
REFERÊNCIAS DOS CONCEITOS DE BRECHT EM RELAÇÃO A VOZ
"O ator tem de saber falar com clareza, por exemplo, o que não é uma simples questão de consoantes e
vogais, mas sobretudo, uma questão de sentido. Se não aprender a extrair simultaneamente o sentido das
suas réplicas, irá articulá-las, apenas de uma forma mecânica. prejudicando o sentido pela sua 'bela dicção',
justamente. (...) O ator tem de aprender a economizar a sua voz; não deve enrouquecer. Mas tem que ser
também capaz, naturalmente, de nos mostrar um homem tomado de paixão, a falar roucamente, ou a gritar.
Os seus exercícios vocais deverão ter, por conseguinte, caráter de treinamento." (B Brecht)
Embora Brecht reconheça a importância do trabalho vocal do ator, ele não fornece
diretamente procedimentos técnicos de treinamento. Há porém, em suas fundamentações e concepções
estéticas, conceitos valiosos para a compreensão de possíveis tratamentos do material vocal do ator na
composição.
O texto abaixo de Gerd Alberto Bornhein, fragmento de uma análise sobre o efeito de
distanciamento na poética de Brecht, apresenta dados importantes quanto ao tratamento da fala:
"Mas outros recursos se fazem necessários. Antes de tudo, o trabalho do ator. Nada deve levar a empatia.
Estabelece-se agora uma novidade no comércio entre o espectador e o ator. Em última instância, o ator fala
diretamente ao espectador, no sentido de que, em vez de estar dentro do personagem, o ator deve relatar o
personagem ao público. O ator sempre deve ir além do personagem e do seu horizonte estrito. Porque
desse modo ele mantém a sua identidade própria de ator, e, concomitantemente mostra a identidade do
personagem, com a qual não se mistura. Além disso, o ator assume ainda outra 'mudança de função'
quando canta. Estritamente proibido é passar do nível da fala para o do canto como se nada tivesse
acontecido.(...) Melhor, existem três níveis: o falar sóbrio, o falar elevado e o canto, e tais níveis devem
permanecer separados, sem que suscitem a impressão de uma passagem natural de um para o outro. E aqui
também, quando canta, o ator não pode ser cantor, mas deve mostrar sê-lo, esse afastamento do conteúdo
sentimental se faz pelo recurso a gestos, que são por assim dizer os costumes e os hábitos do corpo."13
O percurso artístico de Brecht conta com momentos de diferentes características que, em
um movimento progressivo, vai estabelecer uma concepção da "representação épica". Entre outras
determinantes deste estilo de representação, a fala ganha outro estatuto dentro da comunicação teatral.
Sobretudo, se vista com o olhar da escola realista.
Neste sentido, ao afirmar a inter-relação do gesto e da fala na construção da representação,
Brecht delimita que no trabalho de formação do ator deve constar um preciso estudo corporal e vocal.
Com referência ao tratamento da fala e do canto na interpretação, Brecht aponta
procedimentos precisos para o ator. Pode-se observar em suas teorias uma preocupação clara em fornecer
indicações de como o ator pode se defrontar com seus textos. John Willet aponta alguns aspectos:
"Outro método era fazer que cada ator usasse o seu próprio dialeto local nos ensaios de modo que o texto
conservassem um certo frescor, embora o seu conteúdo fosse familiar. Ainda outro método era fazer o ator
mudar o tempo do verbo em seu papel, acrescentar 'disse o homem', 'disse ela', no final de cada fala, ou
tentar dizer e imaginar cada frase em termos de 'não...mas', para deixar claro que cada frase tem sua
alternativa não falada ('dialética'). Tudo isso eram outras tantas ajudas para a compreensão do ator,
refletindo a concepção brechtiana de 'como se deve ensaiar um papel; isto é, escutando cuidadosamente
quando o próprio está falando e tomando francamente acessíveis à platéia as características humanas que
observamos em nós próprios."14
Quanto ao canto, elemento fundamental em sua composição dramatúrgica, Brecht
acrescenta:
"Nada existe de mais revoltante que o ator que finge não ter percebido que saiu do nível da fala corrente e
começou a cantar. Os três níveis - fala corrente, fala grandiloqüente e canto - devem manter-se sempre
distintos... Quanto à melodia, não deve obedecer-lhe cegamente: existe uma espécie de fala contra-amúsica
que pode ter poderosos efeitos; os resultados de uma obstinada e incorruptível sobriedade que é
independente de música e ritmo."15
A profundidade da obra de Brecht e a consistência dos seus princípios estéticos exigem
cuidados específicos àqueles que pretendem mergulhar em seu universo. Sua dramaturgia é construída por
elementos técnicos organizados e orientados em direção a um fim preciso.
Deste modo, com relação aos aspectos fundamentais em relação a voz, a maneira mais
indicada para uma aproximação de análise técnica de sua obra é, talvez, não se apegar em indicações
localizadas no tempo - direcionadas a atores que vivenciaram outros padrões estéticos - mas sim, procurar
compreender seu conceito sobre o teatro e a posição deste num campo de forças econômicas e sociais.
REFERÊNCIAS DOS CONCEITOS DE GROTOWSKI EM RELAÇÃO A VOZ
"O meio, o espírito da época, a mentalidade, tudo pode constituir sério obstáculo para a formação de uma
boa voz. O erro mais elementar, e que necessita da mais urgente correção, é a supertensão da voz,
unicamente porque as pessoas se esquecem de falar com o corpo."
(Jerzy Grotowski)
O trabalho de Grotowski, realizado através de pesquisa e estruturação da formação de
atores, é marcado, principalmente, por dois momentos.
O primeiro estágio das pesquisas, quando no conjunto de atividades desenvolvidas na
"busca de um teatro pobre", oferece procedimentos precisos e sistematizados para o desenvolvimento do
material criativo do ator.
O estudo da técnica da voz, como parte do treinamento do ator, reúne uma série de
exercícios voltados para o aprimoramento do instrumental vocal:
"Atenção especial deve ser prestada ao poder da emissão da voz de modo que o espectador não apenas
escute a voz do ator perfeitamente, mas seja penetrado por ela como se fosse estereofônica."16
Neste sentido, Grotowski considera de fundamental importância o desenvolvimento de
uma técnica de respiração necessária para um bom poder de emissão vocal. Também, a exploração da
amplificação do som por caixas de ressonância fisiológicas.
Na busca da força e do desimpedimento da coluna de ar que sai para a emissão do som,
Grotowski aconselha ao ator ter um cuidado especial com a abertura da laringe, quando se fala e respira,
pois o fechamento da laringe impede uma emissão correta do ar prejudicando o uso da voz.
O trabalho das caixas de ressonância objetiva o aumento do poder de emissão do som.
Trata-se de potencializar partes específicas do corpo como um amplificador da voz:
"Na realidade, há um número quase infinito de caixas de ressonância, dependendo do controle que o ator
exerce sobre seu instrumental físico.(...) A possibilidade mais frutífera está no uso de todo o corpo como
caixa de ressonância. Isto é obtido pelo uso simultâneo das ressonância do peito e da cabeça."17
Segundo Grotowski, a coluna de ar utilizada na amplificação da voz necessita de uma base
(base da voz). Portanto, o ator deve aprender a encontrar internamente a base para esta coluna de ar.
Com relação a impostação da voz, percebe-se uma preocupação pedagógica por parte de
Grotowski, quanto aos melhores procedimentos que relacionem os exercícios de impostação às
necessidades do ator quando no tratamento da poética da fala:
"Há duas maneiras diferentes de impostar a voz, uma para atores e outra para cantores, já que seus
objetivos são bastante diferentes. (...) As escolas de teatro muitas vezes cometem o engano de ensinar o
futuro ator a impostar sua voz para cantar. A razão disso é que muitas vezes os professores são ex-cantores
de ópera e, frequentemente, um instrumento musical (o piano) é usado para acompanhar os exercícios
vocais."18
O universo imaginário do ator é, conjuntamente, trabalhado no treinamento. Com os
exercícios orgânicos, é possível a exploração, a partir de uma pesquisa individual, dos aparelhos
respiratório e vocal, em relação às várias exigências de um papel. É fundamental, portanto, que o ator
trabalhando a imaginação vocal aprenda a enriquecer suas faculdades criativas e desenvolver a habilidade
de falar em registros que não são os seus naturais.
Como forma de aprimoramento da produção do material vocal do ator, a dicção é um
elemento primordial que deve ser trabalhada sistematicamente. No exercício do ator, afirma Grotowski,
cada papel necessita de um tipo de dicção diferente e, mesmo dentro da estrutura do mesmo papel, as
possibilidades oferecidas pelas modificações de dicção, de acordo com as circunstâncias e situações,
devem ser exploradas ao máximo.
Grotowski determina procedimentos práticos constituintes de uma técnica de pronúncia
provedora de um modelo de abordagem do texto quando na criação e na representação:
"A capacidade de manipular frases é importante e necessária na representação. A frase é uma unidade
integral, emocional e lógica, que pode ser mantida por uma única onda expiratória e melódica.."19
São fornecidas orientações de como pesquisar e aplicar precisamente na criação, elementos
como: o ritmo, o acento tônico, a respiração e a pausa na declamação das frases.
No pesquisas mais recentes desenvolvidas por Grotowski, no que diz respeito ao trabalho
vocal, verifica-se um acento mais forte na investigação da ação vocal através de cantos antigos:
"Trabalhamos sobre ações ligadas aos antigos cantos vibratórios, os cantos que serviram no passado a
propósitos rituais e que tem portanto um impacto direto sobre - como se diz - a cabeça, o coração e o corpo
dos 'atuantes'. Cantos que fazem passar de uma energia vital a uma energia mais sutil."20
Com referência ao conteúdo desenvolvido neste período das pesquisas de Grotowski - "A
Arte como Veículo" ou "A Objetividade do Ritual" - os materiais de aproximação dos conteúdos
abordados são raros e, ainda, pouco acessíveis. Qualquer afirmação em relação a essas investigações é
perigosa pela fragilidade das informações. Sabe-se, portanto, de referências contidas em um livro
publicado por Thomas Richards - "Travailler Avec Grotowski sur les actions physúques" - ator
pesquisados do Workcenter Grotowski, além de algumas publicações de artigos e entrevistas feitas por
Grotowski.
Para possíveis questionamentos com relação aos conceitos inferidos de suas pesquisas,
Grotowski argumenta com uma prática reconhecidamente eficiente e transformadora da arte do ator. Ainda
sobre a voz, aconselha que todo ator recomece periodicamente tudo de novo, aprendendo a respirar, a
pronunciar e a usar suas caixas de ressonância, para constante adaptação técnica da voz em relação às
modificações estruturais do corpo.
1 Léslie Piccolotto Ferreira (org.). Trabalhando a voz: vários enfoques em fonoaudilogia. São Paulo:
Summus, 1988.
2 GROTOWSKI, Jerzy. Em busca de um Teatro Pobre. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971. p.138
3 VIANNA, Klaus. A Dança. São Paulo: Siciliano, 1990.
4 BROOK, Peter. O Teatro e seu Espaço, Rio de Janeiro: Vozes, 1970.
5 STANISLAVSKI, Constantin S. Preparação do Ator. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1991.
6 STANISLAVSKI, Constantin S. Minha Vida na Arte. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1989.
p. 491.
7 STANISLAVSKI, Constantin S. A Construção da Personagem, 3. ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 1983. p. 106.
8 Idem, p. 106-109.
9 Idem, p. 119 - 138.
10Idem, p. 107.
11 ARTAUD apud RUBINE, Jean-Jacques. A arte do ator.Tradução Yan Michalski e Rosyne Trotta. Rio de
Janeiro: Zahar, 1987.
12 ARTAUD, Antonin. O teatro e seu duplo. São Paulo: Martins Fontes, 1993.
13 BORNHEIN, Gerd Alberto. Brecht: A estética do teatro. Rio de Janeiro: Graal, 1992. p. 180.
14 WILLER, John. O teatro de Brecht visto de oito aspectos. Tradução de Álvaro Cabral. Rio de Janeiro:
Zahar, 1967. p. 199-200.
15 BRECHT apud WILLER, John. O teatro de Brecht visto de oito aspectos. Tradução de Álvaro Cabral. Rio
de Janeiro: Zahar, 1967. (Notas de Brecht sobre a Ópera de Três Vinténs).
16 Grotowski, op. cit., p. 99.
17 Idem, p.106-107.
18 Idem, p. 109.
19 Idem, p. 124.
20 Workcenterof Jerzy Grotowski and Thomas Richards. São Paulo: SESC / Centro de Pesquisa Teatral,
outubro de 1996. (Tradução da entrevista publicada no do Jornal Libération - Paris/França - em 26 de
julho de 1995).

A VOZ EM CENA

por Fernando Martins


O Artigo de Fernando Martins faz uma breve aproximação aos sintomas da falta de conhecimento técnico na preparação e produção teatral contemporânea.
No âmbito teórico, a preparação vocal para atores e atrizes é destacada como imprescindível e fundamental. Estudantes e professores declaram de forma unânime, que a preparação vocal é uma instância primordial e iniludível na formação de atores.(Davini, 2007, p.13). Na prática, porém, (na maioria dos casos) os cursos de formação de atores não oferecem espaço para o desenvolvimento de treinamentos técnicos para a produção de voz, e quando oferecem este espaço é escasso ou ínfimo e, portanto, ineficiente. Em cena, o que podemos destacar é a quase completa ausência de técnica relacionada à questão. Vozes pouco timbradas, sem volume, sem foco e muitas vezes machucadas, são excessivamente massacradas em cena e, por conseguinte, massacram também a eficácia de um trabalho. Em O Espaço Vazio, Peter Brook se refere ao ator como a figura menos treinada no campo das artes.
Um ator ou atriz quando apresenta uma boa produção vocal, tecnicamente trabalhada, (normalmente) gera em torno de seu desempenho, comentários elogiosos pela boa projeção, pela boa definição de foco e pelo timbre brilhante, quando estas características deveriam ser um pressuposto para a atuação. Na área teatral, os atores e atrizes (mesmo os experientes) comumente não se submetem a treinamentos técnicos específicos que os habilitem a controlar os acontecimentos que geram sentido durante a exposição ao público, ou seja, durante a cena.
Se existe algum tipo de treinamento ao qual se submete um ator ou uma atriz, este diz respeito (quase sempre) a preparações específicas para montagens de novos trabalhos (aprender um estilo de dança ou uma modalidade acrobática, por exemplo). Fora deste âmbito, alguns treinamentos aparecem no sentido de suprir o campo da preparação física, desconsiderando a produção vocal como uma produção do próprio corpo, e principalmente, anulando a potência da geração de sentidos, que são produzidos pelas vocalidades em cena.
Esta desconsideração pode ser apontada como um fator determinante na produção teatral contemporânea. Neste sentido, é possível notar que, nos casos em que o texto teatral é considerado, atores e atrizes tendem a se apoiar demasiadamente no sentido etimológico das palavras, desconsiderando aqueles sentidos que surgem de como se diz o que se diz em cena. Não há consideração da atmosfera acústica da cena, cabendo à questão, somente as idéias pouco definidas sobre sonoplastia. Isso resulta, a anulação quase completa dos sentidos que surgem na produção de voz e palavra em performance (que se dá no como se diz).
Na maioria dos casos, atores e atrizes, se apóiam em habilidades já instituídas, às vezes adquiridas pelo ofício, mas não necessariamente técnicas. A construção dos espetáculos acontece a partir de ensaios e experimentações em cena ou a partir de indicações, que o diretor aponta no sentido de marcar a cena, restringindo o trabalho de um ator ao fato de saber de cor (decorar) um texto e repetir marcas de deslocamento no espaço cênico. E quando existe alguma dificuldade em memorizar textos há, por parte dos diretores, uma tolerância, que resulta frequentemente em cortes ou adaptações de textos. Estas constantes adaptações de textos são, de fato, uma evidência da incapacidade de atualizá-los, de apresentá-los em cena. E pior, junto à adaptação, surge a responsabilização do texto original pela ineficácia. Ora, Shakespeare há quase 500 anos é considerado o maior nome da dramaturgia mundial e ao deparar-se com as dificuldades apresentadas pela obra, atores, atrizes e mesmo diretores, comumente cortam trechos de textos e adaptam as falas, para conseguir, minimamente, sustentar algo em cena.
Além disso, ao longo da formação de um ator, é comum a participação constante em trabalhos diversos, a fim de estabelecer uma gama variada de experiências. Talvez pela falta de registro dos procedimentos ou pelas práticas das atividades sem conhecimento ou controle conceitual, estas experiências não garantem conhecimento técnico, ou mesmo, um aprimoramento de um treinamento específico que permita este desenvolvimento.
O objeto resultante desta situação está na dificuldade (por parte de diretores, atores e atrizes) em justificar tecnicamente o fazer teatral, o que os mantém circulando por um campo subjetivo, com citações que compreendem somente a emoção, a intuição, o instinto. De fato, um resquício claro da escassa produção de novos materiais de pesquisa no campo teatral e principalmente, fruto da repetição canônica dos preceitos difundidos há sete décadas por Constantin Stanislavski. O sintoma primário de tal situação se dá na aplicação das terminologias onde os termos técnica, metodologia, procedimento, estética e exercícios teatrais se fundem num emaranhado de conceitos vagos que, tanto diretores, quanto atores e atrizes delimitam erroneamente como a mesma coisa no campo das Artes Cênicas.
Importante compreender que o ato teatral configura-se em sentidos, onde operam discurso e crítica, conteúdo histórico e conceitual, conhecimento técnico e estético, e comunicação. Para conseguir destreza e domínio de todas as dimensões e demandas que confluem uma cena, atores ou atrizes devem ser treinados anteriormente, de forma que, em cena, consigam operar as dinâmicas capazes de gerar os efeitos que denotam o acontecimento teatral. Sendo assim, o momento de ensaio, referente à construção de uma cena, deve ser atravessado por questões que o antecede. Sem contato com estes conhecimentos técnicos, o contato com a cena e com a marcação torna-se prematuro, ainda sem possibilidades de sustentação de suas dinâmicas na prática de atores e atrizes.
Um músico que deseja habilitar-se tecnicamente para controlar e produzir música em um instrumento musical dado como, por exemplo, um violão, frequentemente submete-se a horas de treinamentos específicos. De fato, antes de acessar partituras de obras importantes ou mesmo compor canções e apresentar-se para um público, este músico treina, realizando exercícios específicos (escalas e dinâmicas) para adquirir habilidade, cujo ponto mais básico é a dissociação de parâmetros do som (intensidade, freqüência e timbre) que antecedem o momento de uma apresentação.
Já os atores e atrizes, quando solicitados para aumentar a intensidade (volume) de sua produção vocal durante um processo de ensaio, tendem a aumentar simultaneamente a freqüência (deslizando-se progressivamente para o registro agudo), a alterar o timbre (que vai se tornando cada vez mais metálico) e a acelerar o tempo da fala. Consequentemente fica difícil alcançar sutilezas no sentido de colorir o som com nuances tímbricas e melódicas a fim de contribuir com a configuração de sentidos à cena. Se para conseguir volume é necessário acessar um apoio vocal gritado, como conseguir tais sutilezas e variações mais eficazes, se elas não soam em freqüências mais baixas? Os textos teatrais, quando encenados, frequentemente resultam em falas menos variadas do que uma conversa no camarim com os mesmos atores e atrizes que o encenam.
Através desta pequena exposição, é possível apontar outros sintomas da falta de conhecimento técnico na preparação de atores e atrizes na produção teatral contemporânea. É possível apontar o crescimento da necessidade da figura do diretor em montagens teatrais (a partir do início do século XX) como fator que reforça a fragilidade nesta formação. Outro fator recorrente em montagens contemporâneas é a constante utilização de microfones para amplificar vozes pouco trabalhadas em platéias de médio e grande porte. E finalmente, como principal sintoma, a noção instrumental do corpo, predominante no campo da formação e na produção teatral. Esta é uma questão ampla que merece destaque e reflexão. É generalizada a consideração do corpo como o instrumento do ator ou do cantor. Silvia Davini aponta a falácia desta noção através de uma única pergunta: se o corpo [humano] é um instrumento, onde está o instrumentista? Em outras palavras, se o corpo é o instrumento do ator, onde se situa o ator? E acrescenta um instrumento é uma ferramenta, uma prótese, que utilizamos para um dado fim e, portanto, não é nem pode ser humano... (Davini, 2002). Assim, percebemos que a visão instrumental, dominante no campo da preparação de atores, configura-se também, como um sintoma do descontrole conceitual que atravessa a área. Podemos ainda, reforçar a argumentação, com o fato de as leituras teatrais serem constantemente atravessadas pela noção de prosa e pela idéia equivocada de teatro como gênero literário, o que limita a experiência de leitura dos atores no momento onde se inicia qualquer trabalho sobre uma peça. A leitura de obras teatrais é (ou pelo menos deveria ser) ressoante, pois as peças de teatro foram, certamente, escritas para serem encenadas e não lidas. Sendo assim, faz-se necessária uma revisão ao material teórico e às referências conceituais vigentes no fazer teatral contemporâneo.
A prática Teatral contemporânea apresenta uma abordagem conceitual frágil, onde o texto, infelizmente, ocupa lugar obsoleto. Onde o campo da preparação corporal tende a segmentar o indivíduo em partes dicotômicas tais como corpo/mente, corpo/voz, portanto, divide o indivíduo em partes distintas, como se a separação destas instâncias fosse possível. Onde fonoaudiólogos se encarregam da preparação vocal de atores e atrizes ao invés de cuidar de patologias, como se as demandas de um ator ou atriz fossem iguais aos de um professor (a) ou advogado (a).
Diante deste quadro, é possível perceber que o desenvolvimento de pesquisas neste campo é vasto e necessário. A configuração de um discurso potente no campo Teatral depende, em suma, da modulação do discurso que sustenta o Teatro laboratório e a experimentação. Todos os sintomas aqui apontados, convergem na prática teatral baseada no instinto, na intuição e na emoção, onde atores e atrizes (profundamente tocados pelas obras que atualizam) não tocam a platéia que os assiste.
Sobre o Autor
Fernando Martins é graduado em Artes Cênicas pela Universidade de Brasília UnB onde, atualmente, é estudante do Mestrado no Instituto de Artes IdA e integra o Grupo de Pesquisa Vocalidade e Cena, que investiga a produção vocal e a configuração de sentido à cena a partir da dimensão acústica. Diretor, ator e cantor, já trabalhou ao lado dos diretores Hugo Rodas e Antônio Abujanra. Link do Grupo de Pesquisa na Plataforma Lattes (CNPq): http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhepesq.jsp?pesq=0441547558844838
Link para o blog do autor: http://nandomartins.blogspot.com
Bibliografia
BROOK, Peter. O espaço Vazio. Londres: Penguin, 1968.
DAVINI, Silvia. Cartografias de la voz em el teatro contemporâneo  El caso de Buenos Aires a fines del siglo XX. Buenos Aires: Universidad Nacional de Quilmes Editorial, 2007.
DAVINI, Silvia. Vocalidade e Cena: Tecnologias de treinamentos e controle de ensaio. in Revista Folhetim, nº15. Brasília: Ed.UnB, out-dez, 2002.
Leituras complementares
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Mil Platôs Capitalismo e Esquizofrenia Vol. 1. Rio de Janeiro, Editora 34, 1995.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Mil Platôs Capitalismo e Esquizofrenia Vol. 3. Rio de Janeiro, Editora 34, 1996.
DEWY, John. A arte como experiência. in Os pensadores Volume XL James, Dewey, Veblen. São Paulo, Abril Cultural, 1974.

"Sem história não existe teatro."

Paraty fosse uma peça de teatro, Tom Stoppard era seguramente um dos personagens principais. O dramaturgo inglês, nascido há 71 anos na actual República Checa, só tem "mesa" marcada para amanhã, sábado, às 19h, mas encontrou-se com os jornalistas manhã cedo, na Pousada do Ouro. Chega bem disposto, dá um minuto para as fotografias e puxa do cigarro - "só fumo durante as entrevistas" - antes de começar a conversa colectiva. "Bom dia, o que posso fazer por vocês?" Mas logo dá sinais de impaciência quando confrontado com as perguntas banais de sempre, como a mais ouvida "Qual a relação entre teatro e literatura?". Ou então quando lhe pedem opinião sobre a herança do Maio de 1968. "Eu não sou o Papa ou um político para ter opinião sobre tudo." Tom Stoppard gosta de contar histórias - suas e dos outros. "O teatro é uma arte de contar histórias, não é o mesmo que partilhar uma opinião. Até se pode identificar um tema geral, como a guerra no Iraque ou o aquecimento global, os personagens podem falar do tema, mas sem história não existe teatro." O dramaturgo, conhecido do "grande público" pela sua colaboração no filme Shakespeare in Love (1998), marcou tão afincadamente o seu estilo durante décadas que este se tornou adjectivo: "stoppardian" é utilizado para classificar autores e peças que misturam o humor com conceitos filosóficos. "Uma peça de teatro é um animal muito estranho. Não é um texto em si, é um evento. É a transcrição de um evento que ainda não aconteceu."
© publicado pela Ler às 13:41

Orfeu e Eurídice - Mitologia Grega

A descida de Orfeu ao império das sombras em busca de sua amada Eurídice, episódio mitológico repleto de simbologia, serviu de inspiração para artistas de todas as épocas e, na antiga Grécia, deu origem aos cultos órficos.
Segundo a lenda, Orfeu era filho do rei trácio Eagro e de Calíope, a mais importante das musas. Cantor, músico e poeta, quando cantava e se fazia acompanhar da lira ou da cítara, as feras o seguiam, as árvores inclinavam a copa para ouvi-lo e os homens mais coléricos se enterneciam. Iniciado nos mistérios, completou sua formação religiosa em viagens pelo mundo. Ao voltar do Egito, divulgou na Hélade a idéia da expiação dos crimes e faltas, o culto de Dioniso e os mistérios órficos.
Orfeu participou da expedição dos argonautas e na volta se casou com a ninfa Eurídice. Perseguida pelo apicultor Aristeu, Eurídice pisou numa serpente, cuja picada provocou-lhe a morte. Desesperado, Orfeu resolveu descer ao mundo dos mortos em busca da amada. Com o som melodioso de sua lira e a doçura de seu canto, sensibilizou os deuses Hades e Perséfone, que lhe permitiram levar Eurídice de volta, com a condição de não olhar para trás enquanto não transpusessem os limites do Hades. Ao ver a luz do sol às portas do dia, porém, incapaz de resistir à incontida paixão, Orfeu se voltou para certificar-se de que a esposa o seguia. Eurídice então se esvaiu para sempre numa sombra. O herói novamente suplicou aos deuses, que dessa vez foram inflexíveis.
De volta à Trácia, Orfeu passou a chorar e cantar sua desdita ao som da lira, insensível ao amor de outras mulheres. Ultrajadas por sua indiferença, as trácias o esquartejaram e atiraram no rio Hebro sua cabeça, que não cessava de repetir o nome da esposa. Os deuses puniram esse crime com uma grande peste, só debelada quando um pescador encontrou a cabeça de Orfeu, na Jônia, onde foi erguido um templo em sua honra. Sua lira foi parar na ilha de Lesbos, berço principal da poesia lírica da Hélade. A religião órfica foi muito ativa durante o século V a.C. Seus rituais, reservados aos iniciados, tinham ligação com os tributos a Dioniso e influenciaram as religiões e mistérios cultivados no mundo greco-romano.

Ilíada - Epopéia Clássica de Homero

A cólera de Aquiles, como se anuncia desde o primeiro verso, é o motivo central da Ilíada, epopéia do poeta grego Homero, que inicia a literatura narrativa ocidental. Relato de um dos episódios da guerra de Tróia, travada entre gregos e troianos, a ação da Ilíada se situa no nono ano depois do começo da guerra, a qual duraria um ano mais, e abarca no conjunto cerca de 51 dias. O título deriva de Ílion, nome grego de Tróia. O poema é constituído por 15.693 versos, em 24 cantos de extensão variável. A divisão em cantos foi feita pelos filólogos de Alexandria.
A Ilíada narra um drama humano, o do herói Aquiles, filho da deusa Tétis e do mortal Peleu, rei de Ftia, na Tessália, em torno do fim da guerra dos gregos contra Tróia. Segundo a lenda, a guerra foi motivada pelo rapto de Helena, esposa do rei de Esparta, Menelau, por Páris, filho do rei Príamo, de Tróia. Agamêmnon, chefe dos exércitos gregos, arrebatara a Aquiles, o mais valoroso dos guerreiros gregos, sua cativa Briseide. Em protesto, Aquiles retirou-se para o acampamento com seus guerreiros, e recusou-se a entrar em combate. É nesse momento que tem início a Ilíada, com o verso "Canto, ó deusa, a cólera de Aquiles".
Para apaziguar Aquiles, Agamêmnon envia-lhe mensageiros, com o pedido de que entre na luta. Aquiles recusa-se e Agamêmnon com seus homens entram no combate. Os troianos tomam de assalto as muralhas gregas e chegam até os navios. Aquiles concorda em emprestar a armadura a seu amigo Pátroclo, que repele os troianos mas é morto por Heitor. Cheio de dor pela morte do amigo, Aquiles esquece a divergência com os gregos e investe contra os troianos, vestido com uma armadura feita por Hefesto, deus das forjas. Consegue fazer recuar para dentro dos muros da cidade todos os troianos, menos Heitor, que o enfrenta, mas aterrorizado pela fúria de Aquiles, tenta fugir.
Aquiles o persegue e finalmente atravessa-lhe com a lança a garganta, única parte descoberta de seu corpo. Agonizante, Heitor pede-lhe que não entregue seu cadáver aos cães e às aves de rapina, mas Aquiles nega piedade, e depois de atravessar sua garganta mais uma vez com a lança, ata-o pelos pés a seu carro e arrasta o cadáver em volta do túmulo de Pátroclo. Somente com a intervenção de Zeus, Aquiles aceita devolver o cadáver a Príamo, rei de Tróia e pai de Heitor. O poema termina com os funerais do herói troiano.
Alguns dos personagens da Ilíada, em particular Aquiles, encarnam o ideal heróico grego: a busca da honra ao preço do sacrifício, se necessário; o valor altruísta; a força descomunal mas não monstruosa; o patriotismo de Heitor; a fiel amizade de Pátroclo; a compaixão de Aquiles por Príamo, que o levou a restituir o cadáver de seu filho Heitor. Nesse sentido, os heróis constituem um modelo, mas o poema mostra também suas fraquezas - paixões, egoísmo, orgulho, ódio desmedido. Toda a mitologia helênica, todo o Olimpo grego, com seus deuses, semideuses e deidades auxiliares, estão maravilhosamente descritos. Os deuses, que mostram vícios e virtudes humanas, intervêm constantemente no desenvolvimento da ação, alguns em favor dos aqueus, outros em apoio aos troianos. Zeus, o deus supremo do Olimpo, imparcial, intervém apenas quando o herói ultrapassa os limites, ao proporcionar o tenebroso espetáculo de passear à volta de Tróia arrastando o cadáver mutilado de Heitor. O poema encerra grande volume de dados e pormenores geográficos, históricos, folclóricos e filosóficos, e descreve com perfeição os modelos de conduta e os valores morais.
Possivelmente, a origem da guerra de Tróia remonta a reminiscências da luta, travada antes da invasão dória, no século XII a.C., entre povos de cultura micênica, como os aqueus, e um estado da Anatólia, o de Tróia. É historicamente comprovada a existência de estabelecimentos micênicos na Anatólia, sem que se conheçam as causas possíveis da guerra.
O mundo helênico a que se refere a Ilíada não parece circunscrever-se ao de uma época cronológica determinada. É muito provável que as lendas foram incorporando elementos de diferentes etapas da civilização, no curso de sua transmissão oral e até textual. Aponta-se, por exemplo, a descrição de armamentos e técnicas militares, e até rituais, correspondentes a diferentes períodos históricos, desde o micênico a aproximadamente meados do século VIII a.C. Salvo alguns prováveis acréscimos atenienses, nenhum dado ultrapassa esse período, o que reforça a tese de que o poema foi redigido nesse último período.
A língua e o estilo homéricos foram em grande medida herdados da tradição épica. Por esse motivo, a língua, basicamente o dialeto jônico, com numerosos elementos eólios, não corresponde a nenhuma modalidade falada normalmente. A métrica empregada é o hexâmetro, verso tradicional na épica grega.

Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa

A forma ideal de escrita seria aquela cujo sistema ortográfico reproduzisse de maneira fiel a realidade expressa oralmente, ou seja, um sistema ortográfico fonético, com perfeita correspondência entre cada fonema ou som articulado e a letra ou grafema. As normas de ortografia tentam manter essa correspondência, a fim de facilitar a leitura em cada idioma, ao mesmo tempo que apresentam aspectos etimológicos segundo as formas ortográficas antigas.
Ortografia é a parte da gramática que determina a maneira correta de escrever as palavras e de empregar os sinais de pontuação, acentos ou sinais diacríticos, de acordo com as normas consagradas no uso de cada língua. O sistema ortográfico se fixa por uma convenção imposta e elaborada pela tradição ou formulada por especialistas.
As línguas estão em permanente evolução. A ortografia, que se relaciona com a expressão dos sons na escrita, passa naturalmente por estágios diversos ao longo do tempo. Manifesta-se nela, com mais intensidade que em outros planos da língua, uma tendência conservadora. Nos primeiros textos escritos em um idioma, as normas ortográficas tendem a ajustar-se à fonética então observada. Com a evolução da língua, o sistema ortográfico passa a sofrer a influência de duas tendências: a da tradição (critérios etimológicos) e a da língua falada (critérios fonéticos). No primeiro caso, apesar da evolução da pronúncia, procura-se manter a ortografia das palavras de acordo com o estágio anterior do idioma, como no francês e no inglês modernos, por exemplo. No segundo, quando a língua falada, coloquial, em sua constante evolução, provoca descompassos na ortografia em relação ao processo evolutivo da pronúncia, tenta-se atenuar a força da tradição, com tentativas periódicas de adequação da ortografia à pronúncia, como no caso do português, do italiano e do espanhol modernos.
O estágio fonético da língua portuguesa, que corresponde à fase arcaica do idioma, abrange as obras literárias produzidas entre o século XIII e o século XV. Seguiu-se a este o estágio etimológico ou pseudo-etimológico, que se prolongou até o início do século XX. A regularização ortográfica que prevaleceu iniciou-se com o trabalho do filólogo português Aniceto dos Reis Gonçalves Viana que, em 1904, propôs a "simplificação e uniformização sistemática da ortografia portuguesa" em sua obra Ortografia nacional.
No Brasil da segunda metade do século XX segue-se o acordo ortográfico de 1943, que consta do Pequeno vocabulário ortográfico da língua portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, e que indiretamente procede do sistema de Gonçalves Viana. A lei 5.765 de 18 de dezembro de 1971 introduziu alterações na ortografia em vigor, a principal das quais foi a abolição do acento diferencial.
Assinado em 16 de dezembro de 1990 o novo acordo ortográfico, reuniu os países lusófonos com intenção de promover a unificação do português entre os membros das comunidades que o adotam oficialmente. São eles: Portugal, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste. A nova ortografia entrou em vigor em janeiro de 2009, muitas obras literárias e didáticas já estão sendo atualizadas e adaptadas às novas normas. A partir de 2012 cessa a fase de transição e todos os brasileiros deverão obrigatoriamente escrever só com a nova ortografia.
Principais Alterações - Nova Ortografia da Língua Portuguesa

Alfabeto: O alfabeto brasileiro passa a ter 26 letras, em vez de 23.
Foram incluídas k, w e y, usadas em casos especiais, como em siglas e palavras originárias de outras línguas.
Exemplos:Franklin, frankliano; Darwin, darwinismo; Kuwait, kuwaitiano; Kant, kantismo. Km (para quilômetro), kg (para quilograma), kW, (para kilowatt), W (para oeste - West).
Trema: O trema foi abolido de todas as palavras da língua portuguesa. Conserva-se no entanto em palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner; mülleriano, de Müller; etc.
Exemplos: Bilíngue (ou bilingue), linguista, cinquenta, equino, linguístico, tranquilo, pinguim.
Acento Diferencial: Deixa de existir para diferenciar duas palavras de significado diferente mas escritas da mesma forma.
Para (verbo), que se diferenciava da preposição para;Pelo (substantivo), que se diferenciava da preposição pelo;Polo (substantivo), que se diferenciava da preposição polo;Pera (substantivo), que se diferenciava da preposição pera.
Há as seguintes exceções:
Pôde (verbo poder no passado) conserva o acento para se distinguir de pode (verbo poder no presente);Pôr (verbo) conserva o acento para se distinguir de por (preposição).
Uso facultativo nos casos:
Dêmos (do verbo no subjuntivo que nós dêmos) para se diferenciar de demos (do passado nós demos);Fôrma (substantivo) para se diferenciar de forma (verbo). Ditongo Aberto: O acento agudo foi eliminado nos ditongos abertos das palavras paroxítonas, como alcaloide, assembleia, boleia, epopeia, ideia, jiboia, paleozoico, paranoia, onomatopeia.
As palavras oxítonas terminadas em éi, éu e ói continuam acentuadas: chapéu, herói, corrói, remói, céu, véu, lençóis, anéis, fiéis, papéis, Ilhéus.
Hiato: Foram eliminados os acentos circunflexos nos hiatos dos seguintes casos:
oo – enjoo, perdoo, magoo, voo, abençoo;ee – creem, deem, leem, releem, veem, preveem
O acento circunflexo continua valendo para sinalizar o plural dos verbos ter e vir e seus derivados: eles têm, eles vêm, eles retêm, eles intervêm.
U tônico: A letra u não será mais acentuada nas sílabas que, qui, gue, gui dos verbos como arguir, redarguir, apaziguar, averiguar, obliquar. Assim, temos apazigue (em vez de apazigúe), argui (em vez de ele argúi), averigue, oblique. Pode-se também acentuar desta forma esses verbos: ele apazígue, averígue, oblíque.
I e U tônicos: As palavras paroxítonas que têm i ou u tônicos precedidos por ditongos não serão mais acentuadas. Desta forma, agora escreve-se feiura, baiuca, boiuno, cauila. Essa regra não vale quando se trata de palavras oxítonas; nesses casos, o acento permanece. Assim, continua correto Piauí, teiús, tuiuiú. Escreve-se com i, e não com e, antes da sílaba tônica: Adjetivos e substantivos derivados em que entram os sufixos -iano e -iense.
Exemplos: acriano (do Acre), camoniano (referente a Camões), torriense (de Torres), açoriano (dos Açores), rosiano (relativo a Guimarães Rosa).
Uso do Hífen:
1- Com prefixos, usa-se sempre o hífen diante de palavra iniciada por h. Exemplos: anti-higiênico, anti-histórico, co-herdeiro, mini-hotel, sobre-humano, super-homem.
2- Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal diferente da vogal com que se inicia o segundo elemento. Exemplos: aeroespacial, agroindustrial, anteontem, antiaéreo, coautor, plurianual, semiaberto.Exceção: o prefixo co aglutina-se em geral com o segundo elemento, mesmo quando este se inicia por o: coobrigar, coobrigação, coordenar, cooperar, cooperação, cooptar, coocupante etc.
3- Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por consoante diferente de r ou s. Exemplos: anteprojeto, autoproteção, coprodução, geopolítica, microcomputador, pseudoprofessor, semicírculo, ultramoderno. Atenção: com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen. Exemplos: vice-rei, vice-almirante etc.
4- Não se usa o hífen quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s. Nesse caso, duplicam-se essas letras. Exemplos: antirrugas, antissocial, biorritmo, contrarregra, contrassenso, cosseno, infrassom, microssistema, minissaia, multissecular, neorrealismo, neossimbolista.
5- Quando o prefixo termina por vogal, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma vogal. Exemplos: anti-ibérico, auto-observação, contra-ataque.
6- Quando o prefixo termina por consoante, usa-se o hífen se o segundo elemento começar pela mesma consoante. Exemplos: inter-regional, sub-bibliotecário, super-racista.Atenção: Nos demais casos não se usa o hífen. Exemplos: hipermercado, intermunicipal, superinteressante, superproteção. Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra iniciada por r: sub-região, sub-raça etc. Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de palavra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano etc.
7- Quando o prefixo termina por consoante, não se usa o hífen se o segundo elemento começar por vogal. Exemplos: hiperativo, interescolar, superamigo, superaquecimento.
8- Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré, pró, usa-se sempre o hífen. Exemplos: além-túmulo, aquém-mar, ex-aluno, pró-europeu, pré-vestibular, recém-nascido, sem-terra.
9- Deve-se usar o hífen com os sufixos de origem tupi-guarani: açu, guaçu e mirim. Exemplos: amoré-guaçu, anajá-mirim, capim-açu.
10- Deve-se usar o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares. Exemplos: ponte Rio-Niterói, eixo Rio-São Paulo.
11- Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a noção de composição. Exemplos: girassol, madressilva, mandachuva, paraquedas, pontapé.
12- Para clareza gráfica, se no final da linha a partição de uma palavra ou combinação de palavras coincidir com o hífen, ele deve ser repetido na linha seguinte. Exemplos:
Na cidade, conta--se que ele foi viajar.
O diretor recebeu os ex--alunos.

A Arte da Atuação - História e Métodos


Os elementos básicos da arte do ator - declamação, canto e dança - existiram provavelmente nas mais antigas civilizações. Supõe-se que os egípcios encenassem representações religiosas e dramáticas quatro mil anos antes de Cristo. Os primeiros atores teriam sido, portanto, sacerdotes que declamavam litanias em memória dos mortos. Ator é o profissional de artes cênicas que representa. O teatro pode sobreviver sem texto, como provam a commedia dell'arte, da época do Renascimento, e os happenings modernos; dispensa cenografia, como nas representações ao ar livre; não depende da música nem de figurinos especiais; prescinde mesmo da palavra, um de seus elementos fundamentais, como mostra o trabalho dos mímicos; e mesmo a função do diretor é de origem muito recente. O teatro só não existe sem o ator. Antecedentes históricos - Nascida do culto ao deus Dioniso, a arte da interpretação na Grécia teve presumivelmente em Téspis seu primeiro representante, em aproximadamente 560 a.C. Conta a lenda que durante uma celebração, em lugar de narrar os fatos relativos a Dioniso na terceira pessoa, como era hábito, Téspis assumiu o papel do deus e disse "eu sou", criando o mais antigo papel teatral de que se tem notícia.
As primeiras tragédias gregas eram representadas por um único ator e o coro, cujo elemento mais destacado era o corifeu. Ésquilo introduziu o segundo ator e Sófocles, o terceiro. Nunca havia mais de três atores em cena, como se observa em algumas das mais importantes tragédias: Édipo rei, Antígona e Medéia. Não havia atrizes no teatro grego, sendo os papéis femininos representados por homens que se valiam de máscaras para expressar as principais informações sobre os personagens.
As primeiras manifestações teatrais de Roma datam provavelmente de 364 a.C., com a chegada de um grupo de atores etruscos. A princípio seguiram o modelo grego, embora os atores romanos fossem em geral escravos que não desfrutavam do prestígio de seus congêneres gregos. Uma arte nativa surgiu com a atelana, gênero farsesco grosseiro que muito agradava ao gosto popular. A atelana aboliu o uso de máscaras e atribuiu aos atores papéis fixos --o velho, o tolo, o comilão, o parasita - pelos quais eram imediatamente reconhecidos. O personagem arquetípico seria retomado em épocas posteriores pela commedia dell'arte e pelo teatro de Molière.
A representação teatral na Idade Média não tinha atores profissionais. Os jograis, menestréis, palhaços e acrobatas, que se dedicavam ao entretenimento popular nas vilas feudais e até mesmo no interior dos palácios, não podem ser chamados propriamente de atores. Foram sacerdotes católicos os primeiros atores medievais, que encenavam dramas litúrgicos com o propósito de difundir as verdades bíblicas. Progressivamente os textos latinos passaram a ser adaptados à prosa popular e incorporaram elementos cômicos. Os padres foram substituídos por leigos, membros de associações cívicas ou religiosas.
Na França, os mistérios medievais eram representados por grupos esparsos, o mais famoso dos quais era a Confraria da Paixão, do início do século XV. O grupo conhecido como Os Basoches, integrado por magistrados, advogados e escrivães, encenava moralidades e farsas. Na Inglaterra, as corporações de ofícios encenavam dramas sacros geralmente relacionados com a profissão de seus integrantes. Também no teatro medieval os papéis de mulheres eram representados por homens. O estilo de interpretação era declamatório e pomposo para os personagens solenes e vulgar para os demônios e inimigos da fé.
No Renascimento, a arte de representar ganhou novo prestígio, principalmente na Itália, na Espanha e na Inglaterra. O ator profissional moderno, no entanto, nasceu com a commedia dell'arte, nas ruas e praças italianas, distante do teatro feito para as cortes. Grupos de atores talentosos e experientes improvisavam espetáculos sobre um roteiro básico. Cada ator representava o mesmo personagem fixo durante toda a vida e era confundido com ele. O innamorato e a innamorata formavam o par romântico; o pantaleone era um velho avaro e lascivo; o dottore, um médico tolo e pedante; e os zanni, criados caracterizados pelos movimentos acrobáticos, entre os quais o mais popular foi Arlecchino. Inteiramente baseada na arte do ator, a commedia dell'arte caracterizou-se também pelos papéis importantes atribuídos a atrizes, dentre as quais Isabella Andreini tornou-se a mais célebre.
Atores modernos - O ator inglês David Garrick, do século XVIII, é tido por alguns historiadores como o mais importante dos tempos modernos. Sua interpretação realista foi recebida como revelação pelo público, em contraposição ao estilo pomposo próprio da tradição francesa. Tornou-se célebre como Ricardo III, personagem da peça homônima de Shakespeare, e fez seu maior papel em Hamlet, do mesmo autor. Organizou sua própria companhia, de repertório predominantemente shakespeariano, e introduziu importantes modificações no espetáculo, como circunscrever os espectadores ao espaço reservado à platéia. Responsável pela redescoberta de Shakespeare e conseqüente influência desse autor sobre a cultura literária moderna, teve papel preponderante na criação de um teatro culto na Alemanha.
François-Joseph Talma, um pouco posterior e um dos mais conhecidos atores franceses de todos os tempos, integrou a Comédie Française, da qual se desligou para fundar sua própria companhia. Revolucionou a arte da interpretação ao abandonar a ênfase declamatória dominante em seu tempo e imprimir à interpretação um tom coloquial. Celebrizou-se interpretando peças de Corneille, Racine e Voltaire e também personagens shakespearianos.
Entre os teóricos modernos da arte de representar vale a pena citar o também dramaturgo G. E. Lessing, que formulou as inovações mais importantes do palco alemão de sua época em Hamburgische Dramaturgie (1767-1769; Dramaturgia de Hamburgo), na qual propõe um modo realista de interpretação. Em Weimar, Goethe, o outro pólo da dramaturgia alemã, recomendava uma interpretação formalista e estilizada em Regras para atores, com que prescrevia para o palco seus ideais clássicos de harmonia e beleza.
Na França, Diderot escreveu entre 1773 e 1778 Paradoxe sur le comédien (Paradoxo sobre o ator). Nesse livro fundamental sobre a arte de representar, só publicado em 1830, rejeita com ironia a idéia de que o ator deve identificar-se com seu papel, sentindo e manifestando a emoção e o sofrimento que constam do texto dramático. Diderot admirava a arte de Mlle. Clairon, atriz que interpretava com fria lucidez os sintomas da paixão.
Técnicas de interpretação - A arte do ator do século XX se classifica segundo duas tendências básicas: o realismo e o não-realismo. O teatrólogo russo Konstantin Stanislavski codificou um sistema realista de interpretação, no qual desenvolveu teoricamente as técnicas empregadas por grandes atores de todos os tempos. O método Stanislavski - ou simplesmente "o método", como é referido pelos profissionais de teatro - propõe que o ator reproduza intimamente o processo psicológico vivido pelo personagem. A exteriorização correta da emoção só ocorre se ela for recriada interiormente com estímulos adequados.
Segundo o método, o ator representa não as falas e comportamentos exteriores, mas os processos subjetivos, as vontades e os conflitos do personagem. Para desenvolver esse processo, Stanislavski recomenda ao ator que aproveite suas próprias experiências sensoriais e emocionais por meio de técnicas que denominou memória sensorial, memória afetiva e circunstâncias dadas, entre outras. Os livros A preparação do ator e A construção do personagem tornaram-se manuais indispensáveis para todos os atores do Ocidente. A interpretação realista, como é proposta por Stanislavski, estabeleceu uma base sólida nos Estados Unidos com o Actors Studio, dirigido por Lee Strasberg.
Dentre as concepções não-realistas do trabalho do ator destaca-se a de Bertolt Brecht, criador do moderno teatro épico alemão e do estilo de interpretação que ele chamou distanciamento. Brecht pretende substituir o realismo psicológico de Stanislavski, que qualifica de ilusionista e hipnótico, por um estilo interpretativo em que o ator, em lugar de representar, expõe e comenta o personagem. O ator não vive o personagem, mas se distancia dele para que o público possa julgá-lo. O envolvimento emocional deve ser evitado porque anula no espectador a capacidade de raciocinar e criticar.
Formação do ator - O corpo e a voz são os instrumentos de trabalho do ator. O domínio sobre ambos constitui condição imprescindível para o bom desempenho teatral. Assim, as técnicas que contribuem para a preparação e para a valorização das qualidades inatas do ator referem-se principalmente ao preparo físico, vocal e dramático.
O conhecimento do corpo, de suas possibilidades e limitações se conquista por meio de técnicas de expressão corporal, que incluem exercícios de relaxamento, exploração das possibilidades expressivas e interação com outros atores. Além disso, sendo a exposição do corpo própria da atividade do ator, impõe-se um treinamento específico para que ele possa enfrentar com segurança uma platéia. A dança, a acrobacia e a esgrima são excelentes auxiliares na preparação física do ator.
A preparação da voz se faz por meio de técnicas de expressão vocal, em que o controle da respiração é fundamental. O ator aprende a ouvir a própria voz, projetá-la em diferentes direções, assumir posturas corporais compatíveis com a emissão vocal perfeita e corrigir defeitos de dicção. "Colocar" corretamente a voz, ou seja, encontrar o tom adequado para a emissão, é uma técnica essencial para o bom desempenho e para manter a saúde das cordas vocais. O canto constitui uma disciplina complementar no treinamento da voz.
Aprende-se a representar por meio das técnicas de improvisação e dos jogos dramáticos. Improvisar é criar uma cena, sem texto, induzida por um elemento motivador que pode ser uma situação, um personagem ou um objeto. Os jogos dramáticos recuperam no ator o sentido do lúdico, desenvolvem a concentração, a inventividade e a capacidade de responder rapidamente a estímulos. Manipular objetos imaginários e contracenar com atores fictícios são bons exercícios de interpretação.
O modo brasileiro de representar - Pelo menos até a primeira guerra mundial, as platéias cultas do Brasil privilegiavam as companhias européias que aqui se apresentavam, ficando as companhias brasileiras restritas a espetáculos populares. O ator João Caetano, em 1833, depois de atuar ao lado de intérpretes portugueses estabelecidos no Brasil, decidiu-se a acabar com a dependência de atores estrangeiros para nosso teatro e fundou uma companhia. A análise que fez de suas próprias interpretações testemunha uma admirável consciência artística. A obra Lições dramáticas (1861), excelente ideário estético da arte de representar, deixa claro seu empenho em corrigir os vícios declamatórios ao estilo lusitano, habitual nos atores brasileiros da época.
Francisco Correia Vasques, comediante de grande popularidade da segunda metade do século XIX, foi talvez o primeiro ator naturalista brasileiro. Não era culto nem belo como João Caetano, e tampouco contou com favores oficiais. Sensível, no entanto, ao gosto popular da época, notabilizou-se como intérprete cômico que buscava no trocadilho, na piada ingênua e na crônica sentimental seu material de trabalho, caracterizado pela espontaneidade.
Outro ator preocupado com o modo de representar brasileiro foi Leopoldo Fróis. Com Lucília Peres, Apolônia Pinto, Procópio Ferreira e Jaime Costa, fez parte do grupo Geração Trianon (1915-1930), que prestigiava a temática brasileira. Procópio Ferreira, admirador e biógrafo de Vasques, celebrizou-se como intérprete de Deus lhe pague, de Joraci Camargo. Quanto ao estilo de interpretação desses atores, é legendário seu desprezo pelo ensaio e pela atuação dos atores com quem contracenavam.
Pascoal Carlos Magno, depois de tomar contato com o teatro inglês em 1933, introduziu uma importante renovação no trabalho do ator brasileiro. Instituiu a direção artística, extinguiu o ponto (auxiliar que, fora de cena, lembrava aos atores as falas que deviam repetir), reafirmou o uso da fala brasileira no teatro e lutou pela dignidade da profissão de ator.
Na segunda metade do século XX, depois de um curto período áureo do cinema brasileiro, a televisão passou a ser um dos principais campos de trabalho dos atores. No entanto, seu nível mais baixo de exigência quanto à formação e à experiência dramática contribuiu negativamente para a qualidade média do intérprete brasileiro.

Pense...

É chegado o tempo de compreender o seu valor e sua importância, a despeito de algumas pessoas não terem olhos para isso. À medida que você toma consciência de sua singularidade e do quanto você é especial, os outros não têm escolha, a não ser lhe respeitar e admirar – e até mesmo invejar. Mas não tema a inveja, caso ela surja. As únicas pessoas não-invejáveis são as medíocres e isso é uma coisa que você não quererá ser.

domingo, 26 de abril de 2009

Diálogo.

"A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar de um diálogo: interrogar, escutar, responder, concordar, etc. Neste diálogo o homem participa todo e com toda a sua vida: com os olhos, os lábios, as mãos, a alma, o espírito, com o corpo todo, com as suas ações. Ele se põe todo na palavra, e esta palavra entra no tecido dialógico da existência humana, no simpósio universal"-

Mikhail M. Bakhtin

Divórcio e Filhos

A separação de um casal pode se transformar em uma odisséia, ou pode ser simplesmente um período de mudanças em que cada membro da família, adulto ou criança, tem a oportunidade de recomeçar a vida. Mas é uma empreitada de risco, uma travessia, que precisa ser bem acompanhada para não deixar seqüelas. Aqui vão algumas informações que podem ajudar na passagem para uma nova vida, quando é preciso começar de novo.Enfim, sós:Quando um casal decide separar-se, surge uma fase de turbulência durante o período de negociação que os pares travam para decidirem como será a nova vida de cada um deles. Mesmo que o casal tenha decidido romper o vínculo de comum acordo, esta fase significa muito mais que uma simples separação. É a fase em que as vidas de ambos saem do equilíbrio anterior (bom ou ruim), como toda fase de mudança, onde tudo está fora de lugar.Esse equilíbrio, que é buscado pelo ser humano, é chamado pelo Dr. Haim Grunspun, professor da Puc-SP, mediador, citado na Revista Catharsis, de psicologia, de homeostase, emprestando o termo da biologia. A homeostase familiar é o período em que existe uma harmonia, uma rotina, onde tudo é conhecido e mais ou menos previsível. A ruptura da homeostase familiar significa uma crise, lembra Dr. Grunspun, que pode ser superada ou, ao contrário, pode ser mantida causando sofrimentos a ambos os parceiros. Em geral, a separação é o resultado de uma seqüência de pequenas crises de desequilíbrio entre o casal. Como um vulcão, que dá vários sinais e por fim erupciona, desorganizando todo ambiente à sua volta. Se esta fase é superada com êxito, mesmo que um dos parceiros (ou ambos) no íntimo não desejassem separar-se, ainda assim a nova vida significa uma nova rotina, uma fase diferente de um novo equilíbrio. É quando, pela segunda vez, cada um diz ‘Enfim, sós’. Mas agora, eles estão sós consigo mesmos, e não os dois (marido e mulher) sós em relação ao mundo, quando se uniram pela primeira vez. Esse ‘enfim sós’, porém, muda bastante de figura quando o casal tem filhos. Existem questões delicadas a serem revistas, tanto do lado dos adultos quanto do lado das crianças. Além das questões resolvidas no âmbito jurídico, existem as questões emocionais. Cuidar para que, dessa batalha onde não existem vencedores nem vencidos, todos saiam sem ferimentos e seqüelas, é tarefa de um novo profissional que surge modernamente, que é o mediador familiar. Como ficam os filhos:Um juiz, solicitado pelas partes em litígio (divergindo entre si), vai determinar as questões consideradas mais práticas, ou seja, com quem ficam os filhos, horários de visita, pensão alimentícia. Por lei, os pais devem prover alimentos aos filhos até a maioridade, oferecer-lhes educação, saúde e lazer. Tudo, ou quase tudo, está previsto em lei. O que não está previsto é como ficam os filhos emocionalmente, pois diante da separação tudo é novo, desconhecido, imprevisto e muitas vezes assustador para o adulto e para a criança.O Dr. Louis V. Nightingale, terapeuta familiar, escreveu um livro interativo (My Parents Sill Love Me Eventhough They´re Getting Divorced, EUA) para ajudar crianças a superarem a separação dos pais, onde ele lembra a estas que: - O divórcio não é culpa dele (do filho). - É normal pensar e sentir algo a respeito. - O que o filho pensa e sente tem importância. - É natural que os pais chorem. - Os filhos vão ser cuidados, mesmo os pais não estando juntos. - Outras crianças experimentaram a mesma situação e tudo acabou bem. - Há pessoas com quem eles podem conversar. - Há coisas que as crianças podem fazer para se sentirem melhor e também os pais. - Eles continuam a ser amados depois do divórcio dos pais. Estudando o universo mental das crianças, o Dr. Nightingale diz o que elas pensam: não gostam da idéia de irem para outra casa, ficam r>incomodados com as brigas dos pais, ou quando se lembram que eles poderiam estar juntos, sentem falta do cão de estimação e das coisas que tiveram de abrir mão na mudança, e ficam em dúvida se não foram eles próprios os ‘culpados’ pela separação dos pais. Pensando nisso, algumas associações começaram a surgir com o objetivo de assegurar às crianças e aos pais a continuidade do contato entre si depois de separados, e que esse contato tenha mais qualidade na relação pai-filho, como a Associação Pais Para Sempre - APPS, em Portugal. Segundo a APPS, todas as crianças têm direito a manter contato direto e permanente com os pais e com a família de cada um deles. O papel do juiz é fundamental, pois de sua decisão depende a nova estruturação de vida dos pais e das crianças. Mas para que a sua decisão seja benéfica e justa para todos, é muito importante fornecer ao juiz os dados claros e precisos das necessidades e da disponibilidade de cada um dos pais, bem como das necessidades dos filhos, que devem ser levadas em conta. Questões como a guarda dos filhos, a pensão e outras também podem ser revistas mais adiante, caso o arranjo acabe se mostrando incompatível para um dos cônjuges (visitas de pais que moram em outra cidade, por exemplo, ou perda do emprego, ou outras questões de vida pessoal). Mas as questões emocionais, que são, na verdade, o leit motif (o pano de fundo) de uma separação, não devem ser negligenciadas, ainda mais quando elas podem marcar os filhos em plena fase de desenvolvimento físico e psicológico. Essas questões devem ser acompanhadas de perto, para evitar que as crianças fiquem marcadas ou sejam discriminadas, e também para minimizar as feridas internas naturais de uma mudança brusca da separação. Evitando estigmas:Na pressa em se retomar o modelo tradicional de família (composto por homem, mulher e filhos), que vem aos poucos se modificando e que ainda atende economicamente a uma boa parte da sociedade, inclusive a algumas religiões (casais contribuem mais com as igrejas do que pessoas isoladamente), articulistas como Chuck Durham, ainda que bem intencionados, dão declarações que podem marcar profundamente crianças e adolescentes criados apenas pelo pai ou pela mãe. Sem identificar quais são as estatísticas em que se baseia, Chuck diz: "As estatísticas revelam que 70% dos jovens em reformatórios do governo vêm de lares sem os dois pais presentes". E continua: "Crianças numa família com uma mulher como a cabeça têm duas vezes mais probabilidade de receber serviços de saúde mental do que crianças em famílias com ambos os pais presentes. Meninas em famílias de um só pai estão em maior risco de sexualidade e casamento precoces, gravidez fora do casamento e divórcio do que as meninas de famílias com dois pais". No entanto, estas são afirmações passíveis de grave erro. Desde a Antiguidade, são incontáveis as narrativas de crianças que eram entregues para serem criadas por terceiros, ainda bebês. O pesquisador Jack Goody (Família e Casamento na Europa, tradução de Ana Barradas, Oeiras, Celta), por exemplo, aponta em seus estudos a existência disseminada de crianças que cresceram com suas amas de leite, ou que forem entregues a parentes (havia entrega recíproca entre parentes) para que aprendessem um ofício, quando não, entre os celtas, eram deixadas com estranhos. Os meninos e meninas nobres e nascidos livres, diz ele, eram enviados para fora de suas casas para serem criados em outro lugar até a adolescência. Faziam-se pagamentos ao pai adotivo, e não ao pai biológico, o que desvalorizava, diz Goody, e por vezes diluía a paternidade em favor de terceiros. Outras crianças, filhos de escravos, eram sumariamente separadas dos pais – e a História mostra que nem sempre predominou o modelo homem-mulher-filhos como base da sociedade, como é hoje considerada a família. No entanto, não se têm notícias de que a maioria dessas crianças afastada dos pais tivesse forçosamente um único destino, o de se entregarem aos vícios, ou de fracassarem na escola, ou de precisarem de assistência mental ou psicológica. Afirmar, portanto, que a separação pura e simples gera filhos com problemas é colocar de imediato, nos filhos de pais separados, o rótulo de filhos-problema, quando eles nem sequer ainda cresceram ou demonstraram quais serão suas tendências pessoais. Os filhos de pais separados hoje são em número praticamente equiparado aos filhos de pais que vivem juntos e o rendimento escolar, o comportamento e as emoções são difíceis de distinguir entre os dois grupos. O que desestabiliza emocionalmente os filhos, por ocasião de um divórcio dos pais, não é a separação em si, mas como ela é administrada e muito do humor dos filhos dependerá, daí por diante, do humor, da atenção e das condições do pai ou da mãe que tiver ficado com sua guarda. Depois de ultrapassado o período de mudanças, é perfeitamente possível que a nova vida da criança seja normal e saudável, no que vai depender muito da expectativa dos adultos, não compensando a criança a todo o momento pela perda da vida anterior (com ambos os pais), impondo limites e oferecendo segurança como é feito a toda criança ‘normal’. E para auxiliar na fase de mudanças e acertos durante o processo do divórcio, o mediador pode ter um papel fundamental, atenuando conflitos e ajudando os pais a tomarem decisões. O papel do mediador:A ABN - Formação e Consultoria Multidisciplinar, consultoria especializada em mediação de divórcios, define mediação como "Um método pelo qual uma terceira pessoa, neutra, especialmente formada, colabora com as pessoas que se encontram em situação de mudança ou mesmo de impasse, a fim de que restabeleçam a comunicação, podendo chegar a um acordo que as beneficie". Segundo Dr. Grunspun, o mediador familiar é um profissional que auxilia casais em crise, agindo preventivamente, ou casais durante ou após uma separação, os quais buscam novas formas de família. Esta é uma profissão nova no Brasil, embora exista há tempos nos países mais avançados, onde o juiz, às vezes inclusive a pedido do casal, sugere um mediador para acompanhar o processo do divórcio. Não é o mesmo papel do advogado (embora este possa também se tornar um mediador, como um psicólogo ou outro profissional), pois o advogado cuida dos trâmites legais do divórcio, e não das questões pessoais e emocionais. Também não é o mesmo papel de um conciliador, diz Dr. Grunspun, pois na conciliação está implícito que o motivo das reuniões é para se chegar a um acordo em que o casal volte a viver junto.O mediador não interfere no desejo do casal em separar-se, simplesmente acompanha as negociações entre os parceiros de modo a haver o mínimo de desgaste emocional possível. O papel profissional do mediador já está previsto no Projeto de Lei 4827, de 1998, da deputada federal Zulaiê Cobra Ribeiro. De acordo com Dr. Grunspun, o ganho para os filhos, quando o divórcio é conduzido sem maiores conflitos, é muito maior porque a mediação se dá visando principalmente o bem dos filhos e neste sentido ela é conduzida. Assim, pais em divórcio amigável ou litigioso devem perguntar ao seu advogado, em sua comunidade ou mesmo no Fórum se ali já existe a figura do mediador, que muitas vezes trabalha como voluntário (nos países avançados, onde a aposentadoria é real, isto é muito comum). Conclui-se que a separação em si não significa um mal ou um bem, mas o clima com que se conduz uma separação é fundamental para tudo o que vier depois. Mesmo que todos os membros da família tenham que abrir mão de suas rotinas anteriores, de algum pertence, de uma casa, existe ainda uma vida pela frente e tudo pode ser reconstruído, desta vez com mais qualidade. Isso também ajuda nas visitas do pai que não detém a guarda dos filhos e na aceitação do resto da família, que em geral fica emocionalmente sobrecarregada com o conflito dos filhos e dos netos, mas que pode ser aliviada deste fardo se a separação for bem conduzida.
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