Margot Cardoso
Estar a um passo (ou vários) do seu tempo, iniciar novos negócios, inventar produtos, idealizar serviços de que ainda ninguém se deu conta da necessidade, construir habitações jamais imaginadas, compor músicas, escrever livros... Para a maioria das pessoas, tudo isto está associado à criatividade e ao espírito inovador. São grandes e mirabolantes vôos, distantes do homem comum, um destino para poucos escolhidos. Praticamente inatingível? Não. Não é bem assim. Primeiro, a criatividade não está apenas nos feitos que entram para a história, também há inovação e criatividade em coisas simples e cotidianas, que muitas vezes passam-nos despercebidas: descobrir uma nova forma de realizar um trabalho, mudar uma planta de lugar, implementar uma rotina nova no dia-a-dia, mudar um ingrediente de uma receita, o estilo e a forma de cuidados pessoais, a eliminação de um procedimento obsoleto no trabalho, a mudança do trajeto de volta para casa também são exemplos - e da melhor qualidade - da capacidade de inovação e criatividade do ser humano. O ato de criar está tanto em um sonho que demora anos para ser concretizado, como também no simples ato de fazer o que se tem vontade. Sobre os grandes vôos... Muitos têm o seu histórico de origem bastante comum, alguns até por acaso, outros são frutos de muitos anos de trabalho, de tentativas. Isto porque não é possível que seja de outro jeito, a criatividade é inerente ao ser humano. Ivan Santo Barbosa, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP e da Faculdade Cásper Líbero, com pós-graduação na Bélgica (doutorado) e no Japão (pós-doutorado), explica que isto ocorre porque cada pessoa é diferente da outra. "Seja pela herança genética, pela história da cultura, a experiência psíquica que vive, seja pela fase da vida. Tudo isto é sempre único e a cada dia torna-se diferente. Por isso, a criatividade é natural, é nato ao ser humano. Não é uma questão de dom, de inspiração. Todos os seres humanos são criativos", diz ele. "As pessoas estão constantemente criando, mas elas não se dão conta de que estão criando. Chegam em casa, não têm todos os ingredientes da receita e acabam criando outro prato. Diante de um problema, respondem, solucionam. Mas não percebem porque fazem as coisas mecanicamente", concorda a professor Maria Inês Felipe, pós-graduada em Criatividade e Inovação pela Universidade de Salamanca e responsável pela área de criatividade da APARH (Associação Paulista de Recursos Humanos). A pergunta óbvia, pertinente e urgente é: se é assim, por que eu não sou famoso, por que não inventei nada até hoje, por que a minha trajetória não se transformou em roteiro de filme? Bem, um ponto é que a criatividade cotidiana não é muito visível e nem passa pela apreciação de outras pessoas. A implementação da idéia não é rigorosamente analisada, não envolve custos, porém, quando é uma criação - principalmente na esfera profissional - que será julgada, analisada e - pior - possivelmente criticada... Pronto. Todos os botões vermelhos do seu cérebro disparam e trava tudo. Vem o bloqueio, as idéias somem... E lá se foi a sua grande chance. Por que isto acontece?
Criativo? Eu não deixo!Os entraves são complexos e começam a ser criados ainda na infância. De acordo com o professor Ivan, uma criança muito viva, ágil mentalmente vai partir para a busca de conhecimento, vai testar novas vivências, experimentar coisas. Enfim, a capacidade de criação e inovação é muito grande, porém, a família vai tentar "domesticar" esta criança. "Grande parte das famílias prefer a criança comportada, menos viva, porque a criança criativa dá muito mais trabalho. E aí inicia-se o processo de inibição do espírito exploratório/criador do ser humano", explica ele. Mais tarde, na educação formal, o processo de inibição é continuado. "Quais são as escolas que incitam a criatividade? Raríssimas. Elas incentivam a reprodução", responde Ivan. "A escola não incentiva a reflexão, o espírito exploratório. Ao contrário, ela ensina que para cada desafio só há uma resposta: a certa", concorda o consultor em inovação e ex-diretor de teatro, Sylvio Zilber, professor da disciplina Criatividade e Inovação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). E se você for duro na queda e mesmo depois de todos estes golpes ainda conseguir manter algum lampejo do espírito de criação e inovação, não se preocupe, a sociedade irá se encarregar de destruir o que resta. "A sociedade trabalha para que o indivíduo dê uma única resposta certa e reprime quem foge ao esquema. O que acaba contribuindo para desencorajar a manifestação do comportamento ou do pensamento diferente, divergente", explica o professor Ivan. A resposta certa, todos aplaudem. Ela é sempre bem-vinda. Na sociedade, a resposta diferente quebra paradigmas, gera dúvidas, insegurança. Pode não dar certo. Então, as pessoas têm muito medo, preferem reproduzir algo que já existe a produzir coisas novas. Sem contar que a uniformidade é mais fácil de ser controlada. "Nos países ditatoriais, as pessoas são condicionadas a fazerem tudo de um único jeito, pois é mais fácil de controlar. A democracia gera conflito. A sociedade, as empresas querem consenso, querem eliminar o conflito. Mas quanto menos conflito, menos criação. Sylvio cita o exemplo do Renascimento na Itália dos Borges onde aconteceram muitos crimes, porém "aconteceu" também Leonardo Da Vinci, Michelangelo. E reforça: "Água muito limpa, pouco peixe". Sair deste esquema exige muita coragem. "Criatividade é um ato de coragem, é preciso ser corajoso para ser criativo. O covarde não cria, porque ele não arrisca, não tem coragem de encarar a crítica e a desaprovação dos outros", completa Maria Inês. Um parêntese: a crítica não pode ser completamente banida. Na fase da escolha da melhor idéia, a capacidade crítica é fundamental. "Mas na criação de idéias, a crítica não é bem-vinda, o senso crítico bloqueia as idéias", explica Maria Inês. E para agravar, ainda há o reforço das doenças do caráter humano. "Um idéia genial gera rivalidade, desperta ciúmes, principalmente nas competitivas corporações", acrescenta Ivan.Inteligência = criatividadeUm outro conceito muito importante e que entra em contradição com a educação formal e com a própria sociedade é o conceito de inteligência. Sylvio explica a origem da composição da palavra, "inter-elegere", que significa eleger algo entre outras coisas. Então a Inteligência está intimamente ligada à possibilidade da escolha. Ora, criatividade é a capacidade de gerar alternativas para se chegar a um objetivo. Quanto mais criativo, mais alternativas, quanto mais alternativas, mais possibilidades de escolhas inteligentes. "Todo ensinamento na escola nos ensinou a não sermos inteligentes, pois ensinou que para cada desafio só tem uma resposta: a certa", reforça Sylvio.Força e fôlego para começar!Mas apesar de todos os complôs, a criatividade e a inovação são fundamentais para o mundo hoje. Corporações, cidades, países precisam de inovação e criatividade. Precisam de pessoas que saibam buscar soluções adequadas, que tenham jogo de cintura para conduzir mudanças. Se você pensa ser um profissional liberal ou um simples artesão e acha que está livre disto... Não está. Você terá que ser criativo para escolher o seu negócio, precisará ser inovador na busca de clientes, na escolha dos fornecedores e até na forma de divulgação do seu trabalho. Não tem jeito, a atitude criativa é o combustível que movimenta todo e qualquer tipo de engrenagem. Então, já que não tem jeito, é partir para a ação. Duas boas notícias: você poderá contar com a ajuda da VENCER! e também dos inúmeros livros à disposição no mercado (veja relação no final da reportagem). Vamos lá.
Mais força e fôlego!Didaticamente, o processo criativo começa com o diagnóstico da necessidade. A seguir, a geração de idéias, conhecida como o brainstorm, depois, a análise da melhor alternativa e por último - e fundamental - a implementação da idéia (todos os passos estão na VENCER! n.8, edição de maio/2000). A professora Maria Inês considera como ponto fundamental entender a criatividade como algo que tem que trazer resultado. Não adianta a criatividade sem objetivos (é por isso que ela faz tanto sucesso nas crises). "Não é a criatividade pela criatividade, ela precisa estar a serviço e ser instrumento de um progresso. Os resultados podem ser qualitativos ou quantitativos, não importa. E isto tanto para a vida pessoal, como empresarial, para a sociedade ou para o mundo", explica Maria Inês. Basicamente, o terreno da criatividade acontece em três áreas: no processo (uma forma criativa de fazer), na pessoa (e aqui não só pensar diferente, mas como ter atitudes diferentes) e no produto (algo que não existe no mercado ou um produto já conhecido que passou por uma adaptação). O item processo é mais comum no mercado corporativo e faz parte do dia-a-dia. "Onde você pode melhorar o que faz? O que você pode melhorar no processo de fabricação, no atendimento, na entrega?", questiona Maria Inês. No item produto, há dois caminhos: um é criar um produto que não existe no mercado, outro é melhorar um produto já existente e agregar valor. No pessoal, envolve desde posturas para resolver problemas até itens que envolvem qualidade de vida, como uma dieta alimentar. É a mudança de hábitos, de atitudes, de formas de pensar, quebrar modelos, buscar alternativas. Mas atenção: é para pensar e agir diferente. "Há pessoas que ficam apenas no mundo das idéias", alerta ela.
Cadê o ambiente?Um item fundamental no processo criativo é o ambiente. Quantas vezes deixamos de fazer ou dizer determinadas coisas porque faltou clima, momento ou cenário adequado? O mesmo acontece com a criatividade. "É preciso ter um ambiente que favoreça a liberdade de expressão, que dê autonomia às pessoas, a liderança precisa ser participativa", explica Maria Inês. Mas e as boas idéias e oportunidades que surgem na pressão das crises? "É verdade. A pressão que vêm com as crises são positivas para a inovação porque obrigam as pessoas a criarem soluções, porém, fique atento a uma diferença fundamental: esta pressão não pode ser exercida por alguém, por uma liderança coerciva, por exemplo. Ela deve ser uma necessidade da própria situação. E mais outro ponto: as pessoas não podem estar a todo momento sob pressão", completa ela.Qual é a necessidade?A criação é muito comum em um cenário de crise porque é um momento em que as necessidades estão muito evidentes. Nestas fases, não é preciso pensar em uma necessidade, ela geralmente é o assunto do dia. É por isso que quando não há crise, as idéias criativas são em menor escala, pois não existem muitas necessidades latentes. E claro, quando a necessidade não é óbvia, deve-se garimpá-la. Então, seja lá qual for a sua idéia criativa ela deve começar pela descoberta da necessidade. A partir daí começa a geração de idéias e alternativas. "É da quantidade que sai a qualidade. Para a solução de um problema é preciso ter várias alternativas. Mas atenção a um ponto fundamental: a visão clara de qual é o problema. "Muitos ficam centrados na solução de problemas e não na causa. Muito mais do que buscar soluções é fundamental um diagnóstico profundo das causas. Para depois, gerar idéias. As idéias não serão eficientes se você não entender a causa", explica Maria Inês. "Quanto mais alternativas eu tiver melhor será para a terceira fase: a escolha de uma idéia", explica Maria Inês. E aqui é onde entra a inteligência, a capacidade de eleger a melhor alternativa. Mas a escolha não deve ser aleatória. Para a eficiência na seleção da melhor escolha é preciso uma análise muito realista que engloba conhecimento de mercado, oportunidade, demanda do negócio, custos do empreendimento ou qualquer critério que ajude a decidir qual é a melhor idéia.Mãos na idéiaE aqui está a parte mais importante de qualquer idéia: a implementação. E também o ponto em que a criatividade encontra o empreendedorismo. Uma etapa que exige disciplina, método, planejamento. Uma idéia que não é colocada em prática não existe. Sabe qual é o nome de uma idéia criativa implementada? Inovação. Não adianta você ter uma boa idéia e não implementá-la. É preciso transformar a idéia em inovação. "Não basta apenas ser criativo. É importante expor a idéia, dar a cara para bater, colocar a idéia em ação", afirma Ivan. Segundo o professor Ivan, o brasileiro é muito criativo, mas nem sempre verbaliza suas idéias. Das verbalizadas, poucas são implementadas. "Na sociedade japonesa, a verbalização de idéias não é estimulada, pois é uma sociedade repressora. Tradicionalmente a cultura japonesa não é criativa, mas o que chega a ela e se houver oportunidade, ela implementa", diz ele. Ivan exemplifica que o relógio digital foi inventado pelos suíços, mas quem implementou foram os japoneses. "Os suíços achavam que o relógio de corda estava dando tão certo que resolveram esquecer o digital e manter o padrão. Quem hoje domina o mercado? Os digitais. Até hoje os suíços se arrependem amargamente, pois o mercado dos digitais é dominado pelos japoneses", reforça. Outro exemplo: Santos Dumont inventou o relógio de pulso, porém, não partiu para ação mercadológica, pois não deu importância. A idéia era apenas um "jeitinho" que ele encontrou para ver as horas já que tinha as mãos ocupadas com o leme dos seus dirigíveis.Minha idéia é boa?Se você passa longe de idéias criativas e morre de medo de externar suas idéias... Saiba que a criação está intimamente ligada à ousadia. Se este é o seu caso, procure livrar-se de qualquer amarra neste sentido. Ponto inicial: em criatividade não existem erros, existem ensaios. "O post-it foi o resgate de uma cola que não deu certo, uma cola que não colava, que deu errado. Mas alguém viu uma utilidade para aquilo", exemplifica Sylvio. Uma idéia não pode ser julgada, pois não existe receita de uma boa idéia. "Às vezes, uma idéia não é adequada para o momento, mas ela pode ser aproveitada futuramente. Daí a importância do banco de idéias. As idéias registradas precisam ser guardadas, como dinheiro no banco. E é necessária uma administração do banco de idéias. Não adianta deixar lá e esquecer. Se você não abre a caixa de sugestão e não analisa, nada resolve", completa Maria Inês. "O fax, por exemplo, foi criado nos anos 20, mas não era adequado, nem necessário para a época, por isso a implementação (inovação) só surgiu nos anos 80", reforça Sylvio. E mais: um elemento que reforça a dificuldade do processo de criação é a associação que fazemos com os inventos históricos como os de Leonardo da Vinci e Santos Dumont, por exemplo. "Trabalhar com inovação é trabalhar com originalidade, o mais adequado para aquele momento. O diferente não é necessariamente novo. Os americanos, na corrida espacial com os russos, tinham muita dificuldade em escrever, pois a caneta não funcionava na gravidade. Os cientistas da Nasa gastaram milhares de dólares para desenvolver uma caneta que fosse imune à gravidade. Gastaram uma fortuna para encontrar a solução adequada para a circunstância, porém criaram um objeto que não era necessariamente novo: a caneta. Os russos resolveram o problema utilizando o lápis. A caneta americana era uma inovação, mas o lápis dos russos atendia o objetivo, porém com custo zero, então era o mais adequado", diz Sylvio. Mas pode ser que em um futuro próximo, de realidade interplanetária, o mercado de canetas imunes à gravidade seja dominado pelos americanos. Por enquanto... E uma dica adequadíssima de Maria Inês para os novos tempos, já que estamos falando do futuro. "Muitos utilizam a criatividade para burlar, fraudar. A criatividade deve ser encarada como uma ferramenta de evolução. Ela não pode ser usada para mal. O inteligente (criativo) é usá-la para o progresso, para o bem social, para fazer o mundo melhor. Sua idéia deve fazer parte da evolução", finaliza.
As frases foram extraídas do livro Idéias sobre idéias - mais de 500 pensamentos inspiradores sobre criatividade (Editora Summus), de Roberto Menna Barreto.
Criativo? Eu não deixo!Os entraves são complexos e começam a ser criados ainda na infância. De acordo com o professor Ivan, uma criança muito viva, ágil mentalmente vai partir para a busca de conhecimento, vai testar novas vivências, experimentar coisas. Enfim, a capacidade de criação e inovação é muito grande, porém, a família vai tentar "domesticar" esta criança. "Grande parte das famílias prefer a criança comportada, menos viva, porque a criança criativa dá muito mais trabalho. E aí inicia-se o processo de inibição do espírito exploratório/criador do ser humano", explica ele. Mais tarde, na educação formal, o processo de inibição é continuado. "Quais são as escolas que incitam a criatividade? Raríssimas. Elas incentivam a reprodução", responde Ivan. "A escola não incentiva a reflexão, o espírito exploratório. Ao contrário, ela ensina que para cada desafio só há uma resposta: a certa", concorda o consultor em inovação e ex-diretor de teatro, Sylvio Zilber, professor da disciplina Criatividade e Inovação da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). E se você for duro na queda e mesmo depois de todos estes golpes ainda conseguir manter algum lampejo do espírito de criação e inovação, não se preocupe, a sociedade irá se encarregar de destruir o que resta. "A sociedade trabalha para que o indivíduo dê uma única resposta certa e reprime quem foge ao esquema. O que acaba contribuindo para desencorajar a manifestação do comportamento ou do pensamento diferente, divergente", explica o professor Ivan. A resposta certa, todos aplaudem. Ela é sempre bem-vinda. Na sociedade, a resposta diferente quebra paradigmas, gera dúvidas, insegurança. Pode não dar certo. Então, as pessoas têm muito medo, preferem reproduzir algo que já existe a produzir coisas novas. Sem contar que a uniformidade é mais fácil de ser controlada. "Nos países ditatoriais, as pessoas são condicionadas a fazerem tudo de um único jeito, pois é mais fácil de controlar. A democracia gera conflito. A sociedade, as empresas querem consenso, querem eliminar o conflito. Mas quanto menos conflito, menos criação. Sylvio cita o exemplo do Renascimento na Itália dos Borges onde aconteceram muitos crimes, porém "aconteceu" também Leonardo Da Vinci, Michelangelo. E reforça: "Água muito limpa, pouco peixe". Sair deste esquema exige muita coragem. "Criatividade é um ato de coragem, é preciso ser corajoso para ser criativo. O covarde não cria, porque ele não arrisca, não tem coragem de encarar a crítica e a desaprovação dos outros", completa Maria Inês. Um parêntese: a crítica não pode ser completamente banida. Na fase da escolha da melhor idéia, a capacidade crítica é fundamental. "Mas na criação de idéias, a crítica não é bem-vinda, o senso crítico bloqueia as idéias", explica Maria Inês. E para agravar, ainda há o reforço das doenças do caráter humano. "Um idéia genial gera rivalidade, desperta ciúmes, principalmente nas competitivas corporações", acrescenta Ivan.Inteligência = criatividadeUm outro conceito muito importante e que entra em contradição com a educação formal e com a própria sociedade é o conceito de inteligência. Sylvio explica a origem da composição da palavra, "inter-elegere", que significa eleger algo entre outras coisas. Então a Inteligência está intimamente ligada à possibilidade da escolha. Ora, criatividade é a capacidade de gerar alternativas para se chegar a um objetivo. Quanto mais criativo, mais alternativas, quanto mais alternativas, mais possibilidades de escolhas inteligentes. "Todo ensinamento na escola nos ensinou a não sermos inteligentes, pois ensinou que para cada desafio só tem uma resposta: a certa", reforça Sylvio.Força e fôlego para começar!Mas apesar de todos os complôs, a criatividade e a inovação são fundamentais para o mundo hoje. Corporações, cidades, países precisam de inovação e criatividade. Precisam de pessoas que saibam buscar soluções adequadas, que tenham jogo de cintura para conduzir mudanças. Se você pensa ser um profissional liberal ou um simples artesão e acha que está livre disto... Não está. Você terá que ser criativo para escolher o seu negócio, precisará ser inovador na busca de clientes, na escolha dos fornecedores e até na forma de divulgação do seu trabalho. Não tem jeito, a atitude criativa é o combustível que movimenta todo e qualquer tipo de engrenagem. Então, já que não tem jeito, é partir para a ação. Duas boas notícias: você poderá contar com a ajuda da VENCER! e também dos inúmeros livros à disposição no mercado (veja relação no final da reportagem). Vamos lá.
Mais força e fôlego!Didaticamente, o processo criativo começa com o diagnóstico da necessidade. A seguir, a geração de idéias, conhecida como o brainstorm, depois, a análise da melhor alternativa e por último - e fundamental - a implementação da idéia (todos os passos estão na VENCER! n.8, edição de maio/2000). A professora Maria Inês considera como ponto fundamental entender a criatividade como algo que tem que trazer resultado. Não adianta a criatividade sem objetivos (é por isso que ela faz tanto sucesso nas crises). "Não é a criatividade pela criatividade, ela precisa estar a serviço e ser instrumento de um progresso. Os resultados podem ser qualitativos ou quantitativos, não importa. E isto tanto para a vida pessoal, como empresarial, para a sociedade ou para o mundo", explica Maria Inês. Basicamente, o terreno da criatividade acontece em três áreas: no processo (uma forma criativa de fazer), na pessoa (e aqui não só pensar diferente, mas como ter atitudes diferentes) e no produto (algo que não existe no mercado ou um produto já conhecido que passou por uma adaptação). O item processo é mais comum no mercado corporativo e faz parte do dia-a-dia. "Onde você pode melhorar o que faz? O que você pode melhorar no processo de fabricação, no atendimento, na entrega?", questiona Maria Inês. No item produto, há dois caminhos: um é criar um produto que não existe no mercado, outro é melhorar um produto já existente e agregar valor. No pessoal, envolve desde posturas para resolver problemas até itens que envolvem qualidade de vida, como uma dieta alimentar. É a mudança de hábitos, de atitudes, de formas de pensar, quebrar modelos, buscar alternativas. Mas atenção: é para pensar e agir diferente. "Há pessoas que ficam apenas no mundo das idéias", alerta ela.
Cadê o ambiente?Um item fundamental no processo criativo é o ambiente. Quantas vezes deixamos de fazer ou dizer determinadas coisas porque faltou clima, momento ou cenário adequado? O mesmo acontece com a criatividade. "É preciso ter um ambiente que favoreça a liberdade de expressão, que dê autonomia às pessoas, a liderança precisa ser participativa", explica Maria Inês. Mas e as boas idéias e oportunidades que surgem na pressão das crises? "É verdade. A pressão que vêm com as crises são positivas para a inovação porque obrigam as pessoas a criarem soluções, porém, fique atento a uma diferença fundamental: esta pressão não pode ser exercida por alguém, por uma liderança coerciva, por exemplo. Ela deve ser uma necessidade da própria situação. E mais outro ponto: as pessoas não podem estar a todo momento sob pressão", completa ela.Qual é a necessidade?A criação é muito comum em um cenário de crise porque é um momento em que as necessidades estão muito evidentes. Nestas fases, não é preciso pensar em uma necessidade, ela geralmente é o assunto do dia. É por isso que quando não há crise, as idéias criativas são em menor escala, pois não existem muitas necessidades latentes. E claro, quando a necessidade não é óbvia, deve-se garimpá-la. Então, seja lá qual for a sua idéia criativa ela deve começar pela descoberta da necessidade. A partir daí começa a geração de idéias e alternativas. "É da quantidade que sai a qualidade. Para a solução de um problema é preciso ter várias alternativas. Mas atenção a um ponto fundamental: a visão clara de qual é o problema. "Muitos ficam centrados na solução de problemas e não na causa. Muito mais do que buscar soluções é fundamental um diagnóstico profundo das causas. Para depois, gerar idéias. As idéias não serão eficientes se você não entender a causa", explica Maria Inês. "Quanto mais alternativas eu tiver melhor será para a terceira fase: a escolha de uma idéia", explica Maria Inês. E aqui é onde entra a inteligência, a capacidade de eleger a melhor alternativa. Mas a escolha não deve ser aleatória. Para a eficiência na seleção da melhor escolha é preciso uma análise muito realista que engloba conhecimento de mercado, oportunidade, demanda do negócio, custos do empreendimento ou qualquer critério que ajude a decidir qual é a melhor idéia.Mãos na idéiaE aqui está a parte mais importante de qualquer idéia: a implementação. E também o ponto em que a criatividade encontra o empreendedorismo. Uma etapa que exige disciplina, método, planejamento. Uma idéia que não é colocada em prática não existe. Sabe qual é o nome de uma idéia criativa implementada? Inovação. Não adianta você ter uma boa idéia e não implementá-la. É preciso transformar a idéia em inovação. "Não basta apenas ser criativo. É importante expor a idéia, dar a cara para bater, colocar a idéia em ação", afirma Ivan. Segundo o professor Ivan, o brasileiro é muito criativo, mas nem sempre verbaliza suas idéias. Das verbalizadas, poucas são implementadas. "Na sociedade japonesa, a verbalização de idéias não é estimulada, pois é uma sociedade repressora. Tradicionalmente a cultura japonesa não é criativa, mas o que chega a ela e se houver oportunidade, ela implementa", diz ele. Ivan exemplifica que o relógio digital foi inventado pelos suíços, mas quem implementou foram os japoneses. "Os suíços achavam que o relógio de corda estava dando tão certo que resolveram esquecer o digital e manter o padrão. Quem hoje domina o mercado? Os digitais. Até hoje os suíços se arrependem amargamente, pois o mercado dos digitais é dominado pelos japoneses", reforça. Outro exemplo: Santos Dumont inventou o relógio de pulso, porém, não partiu para ação mercadológica, pois não deu importância. A idéia era apenas um "jeitinho" que ele encontrou para ver as horas já que tinha as mãos ocupadas com o leme dos seus dirigíveis.Minha idéia é boa?Se você passa longe de idéias criativas e morre de medo de externar suas idéias... Saiba que a criação está intimamente ligada à ousadia. Se este é o seu caso, procure livrar-se de qualquer amarra neste sentido. Ponto inicial: em criatividade não existem erros, existem ensaios. "O post-it foi o resgate de uma cola que não deu certo, uma cola que não colava, que deu errado. Mas alguém viu uma utilidade para aquilo", exemplifica Sylvio. Uma idéia não pode ser julgada, pois não existe receita de uma boa idéia. "Às vezes, uma idéia não é adequada para o momento, mas ela pode ser aproveitada futuramente. Daí a importância do banco de idéias. As idéias registradas precisam ser guardadas, como dinheiro no banco. E é necessária uma administração do banco de idéias. Não adianta deixar lá e esquecer. Se você não abre a caixa de sugestão e não analisa, nada resolve", completa Maria Inês. "O fax, por exemplo, foi criado nos anos 20, mas não era adequado, nem necessário para a época, por isso a implementação (inovação) só surgiu nos anos 80", reforça Sylvio. E mais: um elemento que reforça a dificuldade do processo de criação é a associação que fazemos com os inventos históricos como os de Leonardo da Vinci e Santos Dumont, por exemplo. "Trabalhar com inovação é trabalhar com originalidade, o mais adequado para aquele momento. O diferente não é necessariamente novo. Os americanos, na corrida espacial com os russos, tinham muita dificuldade em escrever, pois a caneta não funcionava na gravidade. Os cientistas da Nasa gastaram milhares de dólares para desenvolver uma caneta que fosse imune à gravidade. Gastaram uma fortuna para encontrar a solução adequada para a circunstância, porém criaram um objeto que não era necessariamente novo: a caneta. Os russos resolveram o problema utilizando o lápis. A caneta americana era uma inovação, mas o lápis dos russos atendia o objetivo, porém com custo zero, então era o mais adequado", diz Sylvio. Mas pode ser que em um futuro próximo, de realidade interplanetária, o mercado de canetas imunes à gravidade seja dominado pelos americanos. Por enquanto... E uma dica adequadíssima de Maria Inês para os novos tempos, já que estamos falando do futuro. "Muitos utilizam a criatividade para burlar, fraudar. A criatividade deve ser encarada como uma ferramenta de evolução. Ela não pode ser usada para mal. O inteligente (criativo) é usá-la para o progresso, para o bem social, para fazer o mundo melhor. Sua idéia deve fazer parte da evolução", finaliza.
As frases foram extraídas do livro Idéias sobre idéias - mais de 500 pensamentos inspiradores sobre criatividade (Editora Summus), de Roberto Menna Barreto.
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