No país das maravilhas
"Mamã - diz Maria de quatro anos - a Branca de Neve diz que me vai levar ao bosque para conhecer os sete anões..."
- Está bem - diz a mãe aborrecida -, mas não digas essas parvoíces e não mintas mais.
É bom observar com a criança as mentiras que ela inventa. Para os miúdos, às vezes, o real anda de mãos dadas com o imaginário. Quando inventam, não mentem intencionalmente, apenas imaginam. Neste artigo sugere-se como lidar com esse pequeno sonhador e orientar a sua imaginação.
A criança costuma misturar o real com o imaginário. Não sabe onde termina um e começa o outro. Branca de Neve, Capuchinho Vermelho, a bruxa ou o dragão podem ser companheiros de jogos.
O trabalho dos pais e educadores deve ser o de orientar devidamente a imaginação do pequeno.
Há pessoas que pensam que o menino deveria descer à realidade em todos os momentos e que contar-lhe histórias de fadas é um absurdo.
Sonhar, faz falta
Qual será a atitude correcta?
Em nossa opinião, a criança deve dar rédea solta à sua imaginação para criar e, através da criatividade, desenvolver a sua inteligência. Um miúdo sem imaginação será mais tarde um adulto intelectualmente pobre.
A criança precisa de sonhar com personagens de ficção. Gnomos, princesas, gigantes e fadas fazem parte do seu mundo mágico. São os protagonistas criados pela imaginação infantil, através de inumeráveis histórias.
Educar o filho longe das fantasias próprias da sua idade é convertê-lo num pequeno-homem antes do tempo. A criança distingue-se do adulto pela capacidade e também pela necessidade de abstracção da realidade: pode falar com sereias, julgar que é um índio, vestir a bata de médico e operar o seu irmão mais pequeno e, logo a seguir, chamar a mamã para o levar à casa de banho. E tudo isto em menos de meia hora. Interpretou quatro histórias fantásticas, mas no fim converteu-se no filho da sua própria mãe...
Para se amadurecer bem, tem que se passar por algumas situações desde que se nasce até morrer, e a fantasia ocupa um lugar muito importante nos primeiros anos da vida.
Todas as crianças gostam de imaginar que são reais certas personagens, como o Super-homem ou os Reis Magos. A nós, adultos, fizeram-nos muito felizes. Nenhum menino pode ficar traumatizado por descobrir que não existem. Pelo contrário, a época do Natal, e outras, convertem-se em festas alegres para as crianças, que põem a trabalhar toda a sua imaginação.
O melhor método
Uma criança sem imaginação será no futuro um adulto intelectualmente pobre.
Não se deve cruzar os braços e esperar que o filho, naturalmente, desenvolva a sua imaginação. A mãe natureza não é suficiente. Tem que haver um empenho em dar ao pequeno todas as oportunidades possíveis para que imagine, crie e desenvolva o seu cérebro.
Como se consegue isso?
- Através de brincadeiras criativas com plasticina, construções e barro. A criança manipula directamente os materiais e faz árvores, casas, pontes, etc.
- O vídeo com um controlo e selecção de programas é um meio muito eficaz para estimular a imaginação.
- Os jogos com os objectos mais simples da casa. Procura-se fabricar brinquedos com caixas de sapatos, pedras, pedaços de madeira, miolo de pão, etc.
- Bonecos pequenos com os quais se podem inventar mil histórias.
- Tintas e muitas folhas brancas podem fazer do seu filho um pequeno Picasso.
- Os jogos de interpretação são muito divertidos; a mãe pode ser a avozinha e os pequenos o lobo e o capuchinho vermelho.
- O contacto com a natureza é muito importante para o desenvolvimento da imaginação da criança. Aproveitar os fins de semana e ir para o campo com os filhos. Contar-lhes histórias de animais. Ensinar-lhes os nomes e como crescem as árvores e as plantas, ou brincar com terra a construir cabanas...
- Os contos bem contados, ditos devagar, oferecem à criança muitos recursos para sonhar e imaginar.
- O banho também pode ser divertido: à segunda com muita espuma, à terça com sais de cor, à quarta com todos os bonecos na água, à quinta com óculos de mergulhar...
O grau de imaginação que se desperta no filho depende da maneira como ele é educado.
Não reprimir constantemente a sua imaginação e evitar:
- Que um filho se converta em sujeito passivo das suas actividades: colado à televisão ou observando como os outros jogam.
- Que se tenha que passar o dia inteiro a vesti-lo e a dar-lhe de comer...
É claro que tudo tem a sua idade e que os primeiros anos são aqueles em que é preciso acompanhar constantemente a criança, mas chegará o momento em que ele tem que vestir as calcas sozinho.
A atitude ideal é deixá-lo só, embora sob vigilância, para que aprenda a ter iniciativas.
- Não proteger demasiado o filho. Tem que cair, experimentar e conhecer. Se se meter numa redoma de vidro o seu cérebro nunca se desenvolverá. A mãe deve aprender a ser positiva quando educa o filho.
- Animá-lo a participar activamente nos jogos e a tomar as suas próprias iniciativas. Não decidir sempre por ele.
Demonstrar alegria quando mostra alguma coisa feita por ele próprio (de sonhos, bonecos coloridos, etc.).
- Tal como na educação, o exemplo é o mais importante: tratar o filho com imaginação, para que ele nos imite.
Fazer planos divertidos e variados
- Romper a monotonia diária com alguma surpresa inesperada: uma pessoa amiga que vem a casa almoçar ou o pato com que sonhava há muito e que o pai acabou por lhe comprar.
Pode haver motivos de preocupação?
Há crianças que estão convencidas de que são Robin dos Bosques, Asterix ou a Gata Borralheira. Algumas são mesmo capazes de ter conversas diárias com toda a família Disney.
Os extremos não são bons. A criança tem que perceber que a imaginação tem limites determinados e não pode levar dias inteiros a imaginar que é o Peter Pan.
Se um filho não faz mais nada do que sonhar e andar o dia inteiro nas nuvens, tal situação pode dever-se a algumas circunstâncias:
- Demasiada dureza em casa e castigos desmedidos.
- Pode ter problemas de timidez. Como lhe custa relacionar-se com crianças da sua idade, converte-se em Superman e desta forma sente-se seguro e forte.
- Muitas vezes ultrapassa os limites da imaginação para fugir a uma realidade familiar que lhe causa desgosto: discussões entre os pais, famílias separadas, ambientes de profunda tristeza...
- Notas más. Fracasso escolar. Sobretudo quando os pais reagem, maltratando psicologicamente os filhos pelas suas más notas.
Mas em qualquer altura é tempo de corrigir um filho, se ele sonha mais do que o devido. O remédio é tratá-lo com muito amor e paciência em doses elevadas.
- Nada de começar aos gritos sempre que diga que acaba de falar com o anão saltarino. Ensiná-lo a separar a realidade da fantasia: "Se quiseres, vamos conquistar o castelo da feiticeira má, mas tens de acreditar que ele não existe na realidade".
- Corrigir qualquer situação familiar negativa que possa influenciar a criança (brigas, discussões...).
- Procurar ser sempre muito sincero quando o miúdo faz perguntas, e adaptar as respostas à sua idade.
Verdade ou mentira
Por vezes castiga-se injustamente o filho e chama-se-lhe mentiroso, porque responde a uma pergunta de forma completamente disparatada: "João, guardaste o caderno? Não, o papá levou-o...". Isto é pura invenção, porque ele nem sequer sabe da existência do tal caderno. A reacção, infelizmente, é castigá-lo por não ter dito a verdade.
O que acontece é que ele tem um tal terror às reacções da mãe, que inventa qualquer coisa para sair da dificuldade.
Pode ainda suceder que nem pense na pergunta e, sem má intenção, diz a primeira coisa que lhe vem à cabeça.
Outra hipótese é o João gostar de inventar respostas, sobretudo quando nota que enerva os pais. De qualquer forma, a reacção dos pais não pode ser agressiva. Não gritar, nem chamar-lhe mentiroso. Isso será magoá-lo negativamente com um qualificativo que ele não merece e em que pode ficar a acreditar.
Quando se repara que o filho não disse a verdade, deve dialogar-se calmamente com ele, para que explique por que respondeu incorrectamente.
Procurar verificar se a mentira tem alguma coisa a ver com a sua imaginação ou invenção.
Quando a criança mente, oculta sempre qualquer coisa intencionalmente. Quando inventa ou imagina, não tem intenção de ocultar nada.
BLANCA DE LERÍES
FOCO N.º 61
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